23.12.07

Fazendo actos de caridade


Uma boa semana! Já pensaram, porque não conseguimos manter um sentimento de alegria depois de finalmente atingirmos alguma meta material? Mel Fisher, um dos mais famosos caçadores de tesouros submersos (EUA, 1922-1998), passou 14 anos da sua vida na procura de tesouros afundados e realmente encontrou-os! Depois da alegria imediata, sentia-se deprimido e ... imediatamente começava uma nova caçada. Porque nos esforçamos para conseguir mais e mais coisas nas nossas vidas, mas frequentemente não as achamos satisfatórias?
Eis um trecho do livro Dearer Than Life Making Your Life More Meaningful (Mais Precioso que a Vida – Tornando a sua Vida mais Significativa), publicado com a autorização do autor, o Rabino Abraham J. Twerski. Creio que nos ajudará a melhor perceber o assunto:

“A Cultura Ocidental parece considerar a felicidade como meta final da vida e define felicidade como estarmos livres de qualquer aflição ou tormento e curtirmostodos os prazeres que apareçam pela frente. Este com certeza não é o conceito da Torá, que considera a vida humana como tendo um objectivo, uma missão, com cada pessoa tendo uma razão para a sua existência e ferramentas específicas para desempenhar o seu papel neste mundo.

Se estar contente fosse a única coisa a se procurar na vida, então uma pessoa dotada de inteligência e capacidade seria contra-produtiva. Vacas num pasto são concerteza mais contentes do que seres humanos sofisticados. Procurar sentido em meramente estar contentedificilmente beneficiaria uma pessoa inteligente.

Para que uma pessoa tenha auto-estima e senso de valor, a vida precisa ter um significado. De facto, significado e valor são características inseparáveis.

‘Estima’ vem da palavra latina que significa avaliar ou estimar. Vejamos qual é a base da auto-estima e como atribuímos valor às coisas:

Se olharmos em volta para todos os objectos na nossa casa veremos que, com excepção de alguns objectos de valor sentimental, avaliamos as coisas por uma de duas razões: estética ou funcionalidade. Podemos ter um belo relógio de parede dos nossos avós, cujo mecanismo está avariado há muito tempo e não dá para ser reparado, porém o mantemos em casa porque é uma peça de mobília atraente e embeleza o lar.

Entretanto, se o abridor de latas se avariar, sem sombra de dúvida nos livraremos dele. Já que não tem nenhum valor estético e não serve ao seu propósito funcional, não tem mais valor algum para nós.

Apliquemos agora este mesmo critério a nós mesmos. Talvez haja algumas poucas pessoas que são tão atraentes que podem ser consideradas ornamentais, mas a maioria de nós não pode realmente pensar de si própria como tendo um grande valor estético. Isto deixa-nos apenas com a funcionalidade como base para nos avaliarmos. E aí surge a grande questão: Qual é a nossa função? Para que propósito servimos?

Enquanto um hedonista pode, ao menos temporariamente, gratificar os seus desejos físicos, será que conseguirá encontrar um sentido em estar contente por toda a sua vida? O que pode o hedonista fazer quando a questão existencial de encontrar um propósito na vida intrometer-se na sua consciência? Freqüentemente o seu único recurso será tentar distrair-se destes tipos de pensamento, muitas vezes entorpecendo a sua mente com vários tipos de abuso, para esquecer o atormentante sentimento de insignificância.

Então, se não existe um significado ou sentido intrínseco no conforto, como pode uma pessoa preencher a sua vida com um verdadeiro significado? Uma das respostas é: Se nos perguntarmos pelo que vale a pena morrer, teremos um melhor entendimento de pelo que vale a pena viver. E a grande surpresa: inevitavelmente será uma meta espiritual! Transformarmo-nos de criaturas terrenas em entidades espirituais, imitando o Todo-Poderoso, aperfeiçoando o mundo, fazendo actos de bondade.