YOM KIPUR
BOM DIA! Espero que tenha tido um óptimo e significativo Rosh HaShaná. Em Rosh HaShaná somos julgados e inscritos, esperançosamente, no Livro da Vida. Em Yom Kipur este julgamento é selado. Nestes dias intermediários devemos examinar os nossos actos e corrigir os erros que tenhamos feito.
Precisamos de nos colocar em caminhos que nos levem a utilizar melhor o nosso tempo, para aperfeiçoarmos a nós mesmos e ao mundo como um todo!
Yom Kipur começa hoje, ao entardecer, 21 de setembro (Yzkor, a prece em memória dos falecidos, é recitado no Shabat, dia 22) e Sucót inicia-se na próxima quarta-feira, 26 de setembro, ao entardecer.
Um lembrete: todos os adultos (rapazes acima de 13 anos e moças acima de 12 anos) devemm jejuar (nada de comida e nem bebidas) em Yom Kipur, mesmo que este ano ele cai no Shabat.
Você tem uma alma? A maioria das pessoas responde “Sim!” Agora... você tem um corpo? A resposta é obviamente “Sim”. Porém, a resposta correcta seria “eu SOU uma alma e tenho um corpo”. Ao percebermos que a nossa essência é espiritual – e eterna – passamos a utilizar as nossas vidas sob um prisma totalmente diferente. É verdade: Precisamos de nos preocupar com o nosso corpo e a nossa saúde e fazer todos os esforços possíveis para sustentá-lo, mas a parte mais importante é a alma, pois é o nosso verdadeiro eu. Yom Kipur trata da alma.
Durante o decorrer do ano, trazemos mérito para a alma ao praticar bons actos ou a ‘sujamos’ através de atitudes e comportamentos errôneos. As 613 mitsvót (Mandamentos) da Torá estão aí para nos ajudar a desenvolver as nossas almas e aperfeiçoá-las. Desde o início do mês hebreu de Elul até Yom Kipur nós refletimos, revisamos o ano e as nossas interações com o Todo-Poderoso, bem como com os nossos amigos e familiares. Trabalhamos para reparar aquilo que precisa de conserto e Yom Kipur é a culminação deste processo.
A Torá deu-nos Mandamentos (mitsvót) especiais para Yom Kipur, a fim de nos ajudar a elucidar mais claramente que somos almas (e não apenas corpos) e para nos ajudar a relacionarmo-nos com a vida num nível mais espiritual. A Torá declara:
“Este é um decreto eterno: No sétimo mês (contado a partir do mês hebreu de Nissán), no décimo dia, vocês devem se afligir e nenhum tipo de trabalho deve ser realizado. Perante o Todo-Poderoso vocês serão purificados (Levíticus 16:29-30)”
Estas ‘aflições’ são maneiras para minimizarmos o controle do corpo sobre as nossas vidas. E quais são? Existem cinco ‘aflições’ em Yom Kipur. Somos proibidos de:
1) Comer e beber,
2) Usar calçados de couro,
3) Relacionamento conjugal,
4) Utilizar cosméticos, cremes, desodorantes, etc, no corpo e
5) Banhar-se por prazer.
Ao diminuir os prazeres físicos, damos proeminência à alma. A vida é uma constante batalha entre o Yétser Hatóv (o desejo de fazer as coisas certas, que é identificado com a alma) e o Yétser HaRá (a vontade de seguir os nossos desejos, que corresponde ao corpo). O nosso desafio na vida é ‘sincronizar’ o nosso corpo com o Yétser Hatóv. Uma analogia é feita no Talmud entre um cavalo (o corpo) e um cavaleiro (a alma). É sempre melhor o cavaleiro estar em cima do cavalo!
A tradição Judaica ensina que em Yom Kipur o Yétser HaRá, o desejo de seguir os próprios instintos, está morto. Se, então, seguirmos os nossos desejos ou instintos, será apenas por força do hábito, pela rotina.
Em Yom Kipur podemos mudar os nossos hábitos! Eis aqui três perguntas para refletirmos em Yom Kipur, a fim de nos ajudar a desenvolver um plano de vida:
1. Como para viver ou vivo para comer?
2. Se como para viver, então quais são as minhas metas para a vida?
3. O que gostaríamos que escrevessem no nosso obituário ou na nossa lápide?
Yom Kipur, o Dia do Perdão, é o aniversário do dia em que Moshe trouxe as segundas Tábuas da Lei do Monte Sinai (as primeiras foram quebradas quando Moshe viu o povo a idolatrar um bezerro de ouro). Isto significou que o Todo-Poderoso havia perdoado o Povo de Israel por terem feito idolatria. Dali em diante, este dia foi decretado como o dia para o perdão dos nossos erros. Entretanto, isto se refere às transgressões entre o homem e D'us. Transgressões entre o homem e seu o semelhante requerem que se corrija o erro e se peça perdão pelo prejuízo acarretado. Somente então é que pedimos desculpas a D’us por ter ofendido o nosso semelhante. Durante as orações falamos o Vidúi, uma confissão, e Al Hét, uma lista de transgressões entre o homem e D'us e o homem e o seu semelhante. É interessante notar duas coisas: primeiro, as transgressões estão em ordem alfabética (em Hebraico). Isto torna a lista bastante abrangente, além de permitir a inclusão de qualquer transgressão que se queira na letra apropriada.
Em segundo, o Vidúi e Al Hét estão no plural. Isto ensina-nos que somos um povo ‘entrelaçado’, responsáveis uns pelos outros. Mesmo se não cometemos uma determinada ofensa, carregamos certa responsabilidade por aqueles que a fizeram -- especialmente se pudéssemos ter evitado a tal transgressão.
Em Yom Kipur nós lemos o Livro do Profeta Yoná (Jonas). A sua mensagem é que D'us aceita prontamente o arrependimento de qualquer um que deseje fazer Teshuvá, voltar ao Todo-Poderoso e ao caminho da Torá, da mesma forma que ele o fez com a população de Ninvê, a cidade mencionada no livro.
Algumas idéias para tornar o serviço de Yom Kipur mais significativo:
1 - Tenhamos satisfação! Já tomamos a importante decisão de comparecer à sinagoga. Não nos arrependamos, então!
2 - Não viemos para nos entreter e sim para conquistar algo a um nível espiritual: aproximarmo-nos do Todo-Poderoso, refletir, colocarmo-nos num caminho melhor na vida.
3 - Não culpe a cerimônia religiosa, o Rabino ou o livro de orações. Se desejar, prepare-se antecipadamente: leia o Mahzór (o livro com as orações especiais de Rosh HaShaná e Yom Kipur) para entender as palavras e as idéias contidas nestas orações. Façamos uma ‘listinha’ de atitudes ou comportamentos de que nos arrependemos, que gostaríamos de corrigir e que gostaríamos que o Todo-Poderoso perdoasse.
4 – A nossa mente parece ter duas pistas: uma pessoa pode falar e pensar sobre o que quer dizer simultaneamente, ela pode também ler e estar pensando sobre algo que não tem nada haver com a leitura, etc. Podemos também rezar e pensar num milhão de coisas diferentes. Ao lermos uma prece silenciosa, concentremo-nos naquilo que estamos a ler. Ao ouvir o Hazan (a pessoa que está conduzindo as orações), foquemos a nossa mente num pensamento espiritual: “Querido D’us, por favor, ajude-me”, “Todo-Poderoso, perdoe-me”, “D’us, eu realmente acredito no Senhor”. Isto evitará que a nossa mente comece a pensar sobre o resultado do jogo de futebol, as contas a pagar, reparos que precisam ser feitos em casa, etc. A maioria das pessoas não entende a liturgia em Hebraico que se está a cantar. Entretanto, mesmo que as nossas mentes não entendam, o coração e a alma se nutrem destas palavras, da melodia e da atmosfera. Relaxe e ouça a essência do que está sendo cantado.
5 - Façamos o melhor uso possível do nosso tempo. Leiamos os comentários ou a tradução das orações. Procure se a sua sinagoga não tem algum material interessante sobre Yom Kipur, numa língua que você entende. E se estiver realmente sofrendo, então apenas peça: “D’us, por favor, aceite o meu sofrimento por estar na sinagoga como reparação das minhas transgressões!”
Um último pensamento ...
Ao nos prepararmos para Yom Kipur, precisamos nos perguntar: “O que posso fazer para melhorar o meu relacionamento com o Todo-Poderoso e a minha observância de Seus mandamentos?”
O Rambam, o conhecido Rabino espanhol Maimônides (1135-1204), que viveu na Espanha e no Egipto, ensinou que a vida de cada indivíduo é constantemente analisada sobre uma balança de pratos – como aquelas balanças antigas, onde a mercadoria era colocada num prato e os pesos no outro – e que cada um de nós deve pensar bem antes de tomar toda e qualquer atitude, pois uma transgressão ou uma mitsvá (boa acção) podem inclinar a balança para o lado positivo ou o contrário. Mais ainda, explica o Rambam: “Cada comunidade, cada país e o próprio mundo são julgados desta maneira”. Portanto, a pessoa não deve pensar que está afectando apenas a sua ‘própria balança’, mas sim o mundo como um todo.
Nestes dias antes de Yom Kipur devemos examinar os nossos atos e corrigir os erros que tenhamos feito, principalmente com os nossos familiares e amigos. Lembre-se de ligar para aquele seu amigo ou parente, que há muito tempo não via ou conversava. Reative o relacionamento para este novo ano e, se for necessário, peça desculpas por algum erro cometido no passado. Estaremos assim aperfeiçoando a nós mesmos e abrindo as portas para tornar este um mundo melhor!
Desejo a si e toda a sua família um belo e doce Ano Novo, repleto de bênçãos Divinas de saúde, alegria e sucesso. Que o seu Yom Kipur seja significativo, importante e inspirador, e que possamos ouvir apenas boas notícias!
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