Porção Semanal: Nitsavim
Bereshit 47:28 - 49:26
Nitzavim (Devarim 29:9-30:20) inicia-se com Moshê reunindo todos os membros do povo judeu pela última vez na sua vida, para iniciá-los na eterna aliança com D'us.
Moshê adverte-os a não serem tentados pelos actos maus dos idólatras que vivem ao redor deles, e a evitarem racionalizar a conduta imprópria dizendo que D'us os perdoará, pois manter tal crença é a suprema fonte da nossa destruição e exílio. Embora irá cometer pecados, o povo judeu no final se arrependerá e retornará para a Torá, e D'us introduzirá a Era Messiânica, quando todos retornaremos à terra de Israel e as muitas bênçãos maravilhosas da Torá serão cumpridas. Moshê diz ao povo para não temer serem incapazes de corresponder às expectativas da Torá, assegurando-lhes que as mitsvot não são distantes ou inacessíveis; uma vida de Torá está ao alcance de qualquer pessoa.
A porção termina com uma exortação para escolher a Torá e vida, acima da sinistra alternativa do mal e morte.
Mensagem da Parashá
Responsabilidade da Alma
por Rabi Lee Jay Lowenstein
Com precisão profética, a Parashat Nitzavim continua a detalhar as provações que se abaterão sobre a nação judia no decorrer da sua história. A devastação do país, o preocupante número de infortúnios, e a ira do Todo Poderoso deixarão as nações do mundo assombradas; que mal o povo judeu pode ter praticado para merecer destino tão trágico (Devarim 29:23). Mesmo assim, miraculosamente, o povo judeu sobreviverá. Oprimida pelo sofrimento, a nação judaica examinará o seu passado e verá como tem sido beneficiada com uma enorme quantidade de benesses Divinas. Esta reflexão será o início de um retorno total aos valores da Torá, e ao fortalecimento do vínculo existente entre o povo judeu e D'us.
Segundo Ramban, a Torá garante explicitamente a capacidade de nos rejuvenescermos através de sincero arrependimento na porção desta semana. A Torá ensina-nos: "Pois este mandamento do qual os encarrego hoje – não está oculto de vocês e não está distante. Não é nos céus que deveriam perguntar quem subirá e o procurará por vocês… Ao contrário, está na verdade muito perto de ti – na tua boca e no teu coração – cumpri-lo" (ibid. 30:11-14). Teshuvá é de facto uma responsabilidade muito humana, que requer participação tanto do coração quanto da boca.
Embora o entendimento de Ramban sobre os versículos referindo-se à teshuvá adapte-se bem dentro da linha de história da leitura da Torá, é extremamente difícil compreendê-lo à luz de uma regra fascinante emitida pelo Talmud.
O Talmud (Tratado Baba Metzia 59b) relata o episódio de uma grande disputa entre Rabi Eliezer e os Sábios de Israel a respeito da capacidade de um recipiente em especial de tornar-se tamê. A própria Torá apresenta o princípio fundamental que em caso de disputa devemos regulamentar de acordo com a maioria.
Rabi Eliezer foi enormemente derrotado, mas recusou-se a ceder terreno. Tão convencido estava de que a lei seguia a sua opinião que começou a solicitar meios sobrenaturais para consolidar o seu ponto de vista, e declarou: "Se a lei é como eu, que o rio corra para cima!"
Com certeza, o rio mudou o seu curso e a água subiu corrente acima. O restante dos sábios rejeitou friamente a sua exposição, dizendo: "Não se pode citar evidência legal baseado em riachos!" Rabi Eliezer continuou a trazer provas sobrenaturais, todas rejeitadas pelos sábios da mesma maneira. Finalmente, em desespero de causa, Rabi Eliezer disse: "Se a lei é como eu, que uma voz venha dos céus para confirmar isso!"
Como para aproveitar a deixa, uma voz celestial foi ouvida, dizendo: "Por que discutem com Rabi Eliezer? Com certeza ele está certo!" Nesta altura, Rabi Yehoshua (a força liderante por trás da discordância) levantou-se e proclamou: "A Torá não está mais nos céus (referindo-se aos versículos acima citados); foi confiada aos sábios de Israel e nós, a maioria, decretamos que a halachá está de acordo connosco."
Os rabis do Talmud entenderam que os versículos na nossa porção da Torá têm grandes ramificações haláchicas: a Torá está agora sob propriedade exclusiva dos sábios de Israel e a sua sabedoria colectiva. Como podemos justificar esta posição à luz da leitura de Ramban que é, de facto, a mais simples tradução dos versículos? Oque tem a ver o facto de que a Torá seja propriedade do povo judeu, como cita o Talmud, com a nossa capacidade de arrependimento, como Ramban os interpreta?
Há duas motivações básicas que inspiram um indivíduo a arrepender-se. A mais óbvia é o temor de aceitar as conseqüências do pecado. A Torá está repleta de referências às horríveis tragédias que se abaterão sobre o povo judeu se este ficar impassível e afastar-se de D'us. Este tipo de teshuvá é mais um acto de "salvar a própria pele" que uma tentativa de corrigir um acto falho. Há, entretanto, um ímpeto mais profundo, que jaz no âmago da alma judaica, e é onde está o verdadeiro poder da teshuvá.
Como podemos explicar o dito talmúdico que a Torá não está mais nos céus? Como é possível que argumentemos com a palavra do próprio Todo Poderoso e sejamos correctos na nossa aplicação da halachá?
Pode existir apenas uma solução: O povo judeu não é composto de simples servos de D'us; somos parceiros com total responsabilidade de preservar e determinar as aplicações dos eternos princípios da Torá. Como ocorre com qualquer sociedade, deve haver um denominador comum a conectar-nos, formando a base do relacionamento. Neste exemplo, é a qualidade única da alma judaica. A alma de um judeu é mencionada nas fontes cabalísticas como tendo uma centelha do Divino. Existe dentro de nós um fragmento de eternidade. É este fogo sagrado que dá poder ao judeu, inspira o seu desejo de controlar o seu ambiente e o impele em direcção ao maior sucesso que a vida pode oferecer. Esta mesma alma possibilita-nos "imitar" as qualidades Divinas de D'us e nos torna depositários apropriados das verdades absolutas da Torá.
Estar autorizado a estabelecer a política, interpretar a Torá e aplicá-la segundo os métodos prescritos que foram transmitidos a Moshê, atestam a natureza elevada do povo judeu. Somos criaturas Divinas e temos o poder de moldar a realidade conforme a nossa sabedoria colectiva. Além disso, se D'us nos confiou a Sua Torá, o Seu presente mais precioso, é uma prova do poderoso amor que Ele sente por nós. A pessoa não confia a um servo, não importa quão leal seja este, o seu bem de maior valor. Apenas a um filho ou amigo querido a pessoa deseja legar o objecto da sua paixão.
Entendido neste nível, o pecado é não apenas hediondo por causa da sua afronta ao Criador, como também igualmente prejudicial para nós a nível pessoal. Certamente o fumante inveterado, que sofre de câncro do pulmão, deve sentir uma pontinha de arrependimento pelos anos de prejuízo auto-infligido. Muito mais remorso deveria sentir o pecador quando reflete sobre o enorme dano que os seus pecados causaram.
Isso deveria fazer alguém refletir: "Como pude eu, uma centelha do Divino, agir de maneira tão desonrosa fazendo isso e aquilo? Devo a mim mesmo ser uma pessoa melhor, corresponder ao papel que D'us criou para mim; ser o Seu querido parceiro na maior história de todos os tempos, a história de minha vida e a história do povo judeu!"
Que a vontade de D'us para connosco seja de que este ano vejamos sob uma luz diferente. Em vez de nos aproximarmos dos Dias Festivos com sentimentos de ansiedade, pensemos sobre o que realmente somos e como devemos aperfeiçoar a nós mesmos. Afinal, que tipo de história a nossa vida refletiria se nada mais for que uma reprise?
<< Home