10.1.07

MITO E REALIDADE NO MÉDIO ORIENTE


Artigo de opinião do Embaixador de Israel em Lisboa, sr. Aaron Ram

O dia 29 de Novembro de 1947 deveria ter sido um ponto de viragem no futuro das negociações do Médio Oriente. Trinta e três países, entre eles as grandes potências da altura, votaram a favor da criação de dois Estados independentes que deveriam viver lado a lado na região entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Este foi o dia da aprovação da Resolução 181 da Assembleia Geral das Nações Unidas, conseguida após longas negociações, por forma a encontrar uma solução que satisfizesse as aspirações nacionais dos povos daquela região, Judeus e Palestinianos.

Enquanto que a liderança judaica aceitou esta Resolução histórica e colaborou com as super potências com o objectivo de implementá-la, infelizmente, os Estados Árabes membros da ONU, rejeitaram-na votando contra. Da mesma forma, a liderança nacional palestiniana, não só também decidiu rejeitá-la, como fazer tudo ao seu alcance, usando sobretudo a violência e o terrorismo, para assegurar que jamais fosse implementada.

Enquanto as comunidades Judaicas celebravam a aprovação daquela Resolução nas ruas e nos seus lares, o Comité Nacional Palestiniano decretou três dias de greve, a partir de 1 de Dezembro de 1947, levando assim a uma nova vaga da Guerra do Atrito, durante a qual a comunidade judaica era alvo de ataques terroristas diários.

Sessenta anos depois, os Palestinianos estão a tentar mudar os factos e a distorcer a História – criando pseudofactos – e colocando israelitas e palestinianos “no mesmo saco”, ao afirmarem que Israel não aceitou a Resolução, apesar de admitirem eles mesmos que a rejeitaram. A verdade é que a liderança israelita aceitou aquela Resolução sem quaisquer reservas e como resultado, declarou, seis meses mais tarde, o estabelecimento do Estado de Israel, exactamente no mesmo território que lhe tinha sido destinado pelo Tratado da Partilha das Nações Unidas.

Nessa altura, a Guerra do Atrito lançada pelos palestinianos, deu lugar à invasão de Israel por todos os países Árabes e grupos palestinianos com o intuito de aniquilar e destruir o jovem Estado Judaico. Esta guerra durou um ano e meio e foi travada entre Israel (que contava com 600 mil habitantes na altura), e seis países Árabes. Terminou em 1949 quando Israel e os seus vizinhos Árabes assinaram o Acordo do Armistício. O balanço desastroso dessa guerra foi a morte de um por cento da população judaica de Israel (6000) e cerca de quatro por cento de feridos (cerca de 24000).

A Guerra pela Independência de Israel, imposta por Árabes e Palestinianos, que não aceitavam a existência do Estado de Israel, causou o problema dos refugiados palestinianos. Os líderes árabes e palestinianos deveriam sentir-se os únicos responsáveis por este problema, dado não terem aceite a Resolução e terem iniciado uma guerra para evitar que a Resolução jamais fosse implementada. Esta questão será resolvida quando o Estado Palestiniano for declarado, após a solução de todas as disputas com Israel.

Se Israel tivesse perdido esta guerra, não existiria actualmente enquanto país. Este era o objectivo dos invasores.

Desde o estabelecimento do Estado de Israel em Maio de 1948, até Junho de 1967 -Guerra dos Seis Dias - (outra tentativa por parte dos nossos vizinhos árabes para nos destruirem), durante 19 anos, os países Árabes controlaram inteira e exclusivamente a região da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Estes territórios não estavam ocupados por Israel, não existiam aí colonatos ou tropas israelitas. Encontravam-se sob o absoluto controlo da Jordânia e do Egipto. Durante esse período, nunca foi sequer considerada a hipótese do estabelecimento de um Estado Palestiniano nem apontada uma solução para a questão dos refugiados. Porquê ? Porque os Palestinianos acalentavam o sonho de destruir o Estado de Israel e a prova disso foi a criação da OLP e dos movimentos de resistência em 1964, muito antes de Israel ocupar os territórios.

Os Palestinianos tentam, há décadas, reescrever a História e distorcer os factos históricos – um exemplo disso é a negação da existência do Estado de Israel nos manuais escolares e mapas oficiais palestinianos. Tal não ajudará as futuras gerações do Médio Oriente. No entanto, Israel continua a acreditar na solução de dois Estados para dois Povos.

Os governos de Israel, como o anterior, têm declarado abertamente em várias ocasiões, que desejam um futuro com dois Estados democráticos e independentes vivendo lado a lado em paz, tranquilidade e prosperidade. Para tal é necessária uma liderança séria, pragmática e com boa vontade do lado palestiniano.
Existem três princípios cruciais e indispensáveis, que foram impostos pela comunidade internacional e que deverão ser aceites por qualquer governo palestiniano para dar seguimento às negociações.

Primeiro, o reconhecimento da existência do Estado de Israel; segundo, a renúncia a qualquer uso de violência, tal como estipulado em vários Acordos assinados, incluindo o Acordo de Oslo, que nunca foi respeitado pelos palestinianos. Milhares de israelitas foram vítimas (mortos e feridos) de horrendos ataques terroristas palestinianos levados a cabo em autocarros, bares, universidades, entre outros locais. Nos últimos anos, várias cidades israelitas têm sido bombardeadas com mísseis disparados a partir dos territórios palestinianos, atingindo casas e cidadãos israelitas. Recentemente, o Primeiro Ministro do Hamas, Ismail Haniya, visitou Damasco e Teerão, posicionando-se de acordo com o eixo Sírio-Iraniano. Ele foi claro ao afirmar que o Hamas rejeita o direito de existência do Estado de Israel e apoia a sua destruição através do terrorismo. Rejeitou ainda liminarmente as condições negociais de Abu Mazen, do Quarteto e da restante comunidade internacional. Em terceiro lugar, o reconhecimento de todos os acordos já celebrados entre as duas partes, à luz do Direito Internacional.

Todas as medidas que Israel tem tomado para proteger os seus cidadãos derivam da necessidade que lhe foi imposta pelas acções cometidas por parte das organizações terroristas palestinianas. A partir do momento em que cessem as ameaças e hostilidades, deixará de ser necessário tomar essas medidas.

Quando os palestinianos aceitarem esses três princípios, as negociações serão retomadas com base no Roteiro para a Paz, aceite por toda a Comunidade Internacional (incluindo Israel, o Presidente Mahmud Abbas e a Autoridade Palestiniana). Só nesse caso, será possível alcançar uma solução viável, que permita que Israel e o futuro Estado Palestiniano possam viver em Paz enquanto Estados vizinhos.

O mundo enfrenta actualmente o extremismo crescente que tem influenciado as decisões do actual governo palestiniano, que não reconhece Israel e que lidera uma campanha de terrorismo contra os cidadãos israelitas. Esperamos que os palestinianos moderados, liderados por Abu Mazen, sejam apoiados pelos países ocidentais e países árabes moderados e consigam força e determinação suficientes para enfrentar o extremismo que visa a destruição de qualquer solução pacífica.
O governo extremista do Hamas, actualmente muito ligado ao eixo Sírio-Iraniano conta com o seu apoio financeiro, militar e político (de acordo com o Hamas, os iranianos prometeram dar 250 milhões de dólares para apoiar a sua causa) dado terem ideologias coincidentes: a destruição do Estado de Israel. Esta soma serve este mesmo propósito.

Esperamos que a actual janela de oportunidade para se chegar a uma solução de dois Estados não seja fechada pelos palestinianos, tal como o têm feito por diversas vezes desde 1947. Israel continua a estender a mão à Paz.