23.10.06

“Quem criou o mundo?”




















BOM DIA! Há algumas semanas uma pessoa desabafou comigo: “Gostaria de acreditar em D’us, mas é muito difícil. Como posso ter a certeza que D’us criou o mundo? Por que D’us não se revela e me facilita as coisas, para que eu possa acreditar Nele?” Porém, todas as palavras de sabedoria, erudição ou pontos-de-vista que tentava compartilhar com ele eram rejeitadas. Ocorreu-me, que muitas vezes as pessoas preferem ficar incomodadas com problemas do que com as suas soluções.
No dia seguinte, na sinagoga, peguei num Midrásh, uma colectânea de histórias e comentários sobre a Torá, feito a cerca de 2.000 anos atrás. Abri-o aleatoriamente e vi os seguintes dois Midrashim (plural de Midrásh):
Um descrente certa vez perguntou ao Rabi Akiva: “Quem criou o mundo?” “D’us”, respondeu Rabi Akiva. “Prove, então!”, exigiu o descrente. Rabi Akiva falou:”Volte amanhã!”
Quando o homem voltou no dia seguinte, Rabi Akiva perguntou-lhe: “O que trás vestido?” “Uma túnica”, respondeu o homem. “Quem a fez?”, perguntou Rabi Akiva. “O alfaiate”, disse o homem. “Não acredito em você. Prove !”
“Isto é ridículo. Então, não consegue ver pelo tecido e pelo corte que esta roupa foi feita por um alfaiate?”, perguntou o homem. O rabi Akiva sorriu e respondeu: “E tu? Não podes perceber claramente que foi D’us quem criou este mundo?”
“Depois que o descrente saiu, Rabi Akiva explicou aos seus alunos: ‘Da mesma forma que esta casa foi obviamente construída por um construtor e um fato foi obviamente costurado por um alfaiate, assim o mundo (que segue uma ordem natural) obviamente foi feito por um Criador!’”
O segundo Midrásh:
O imperador romano Adriano perguntou a Rabi Yehoshua: “O mundo tem um Mestre?” “Certamente”, respondeu Rabi Yehoshua, “O senhor pode crer que o mundo existe sem um proprietário?”
“Quem então é o Mestre?”, perguntou Adriano. “O Todo-Poderoso é o Criador do céu e da terra”, respondeu Rabi Yehoshua. O imperador persistiu: “Se isto é verdade, por que Ele não se revela algumas vezes por ano para que as pessoas O temam?”
“Isto seria impossível”, respondeu Rabi Yehoshua, “pois está escrito na Torá (Shemót 33:20): ‘(E disse D’us para Moshe:) Nenhum ser vivo pode Me ver e viver!”
“Não acredito nisto!”, respondeu furioso o imperador. “Ninguém pode ser tão grande que seja impossível olhar para ele!”. Rabi Yehoshua retirou-se.
Mais tarde, ao meio-dia, Rabi Yehoshua retornou e pediu que o imperador o acompanhasse para fora: “Estou pronto para mostrar-lhe o Todo-Poderoso!”, anunciou. Curioso, Adriano seguiu-o ao jardim do palácio.
“Olhe directamente para dentro do sol. Lá descobrirá D’us!”, exclamou Rabi Yehoshua. “O quê?”, replicou o imperador, “Você sabe o que está a dizer? Qualquer pessoa sabe que é impossível olhar directamente para o sol!”
Rabi Yehoshua sorriu. “Ouça as suas palavras! Vossa Alteza admite que ninguém consegue ficar a olhar directamente para o sol. Porém, o sol é apenas um dos servos do Todo-Poderoso e a sua glória é apenas um milionésimo da fracção do esplendor de D’us. Como espera então que as pessoas sejam capazes de olhar para Ele? Mesmo assim, Ele prometeu que chegará o dia quando somente Ele será exaltado e a Sua grandeza será aceita por todos!”
É fascinante encontrar, milhares de anos depois, respostas eternas para questões eternas. Também é fascinante notar que no primeiro Midrásh está escrito: ‘Depois que o descrente saiu...’. Aprendemos que, apesar da resposta clara e taxativa que recebeu de Rabi Akiva, o homem ainda continuou um descrente.
Winston Churchil (primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial) certa vez comentou que ‘muitas pessoas tropeçaram na verdade... e então se levantaram como se nada houvesse ocorrido’. É difícil livrarmo-nos de nossas ideias preconcebidas e preconceitos, não importa o quão intelectualmente honestos aleguemos ser.
A propósito, quando perguntei àquele homem que estava a desabafar comigo o que ele tinha lido a respeito ou com quem havia conversado sobre esta questão nas últimas cinco décadas, ele respondeu: “Nada e com ninguém”.