27.11.05

Judiarias Portuguesas

No passado, Portugal teve inúmeras judiarias. Actualmente, a única judiaria activa existente continua a ser a de Belmonte, onde residem mais de uma centena de judeus, tendo uma sinagoga, um cemitério e um museu.

Li que a palavra "alfama", ou "aljama" na península Ibérica, significa bairro judaico, e é de origem árabe. E encontrei referências a judiarias na Alfama.
Ademais, cabe lembrar que o conceito de comuna judaica - aqui entendido como "as corporações administrativas dos moradores judeus, organizadas nos lugares onde havia maior número deles, e regidas por direito próprio" (LIPINER, 1999: p. 63) - deve ser apartado da ideia de judiaria ou bairro reservado aos judeus. Na maioria dos casos, as comunas eram formadas por uma única judiaria destinada a reunir os habitantes que comungavam da antiga fé. Porém, em cidades maiores, como Porto ou Lisboa, onde a população judaica era composta por um número significativamente mais expressivo de indivíduos, as comunas podiam ser subdivididas em várias judiarias. Nesta cidade à beira do Tejo, por exemplo, há informações sobre quatro judiarias a formar a comuna - embora não fossem todas contemporâneas -, a saber: a Judiaria Grande ou Velha, possivelmente a mais antiga, de que se tem notícia desde o reinado de D. Afonso III, localizada na região da Baixa; a Judiaria das Taracenas, também conhecida como Pequena ou Nova, que se limitava à rua da Judiaria, de que se tem notícia desde 1315, e que foi mandada derrubar por D. Fernando em 1370, para a construção de casas na região; a Judiaria da Pedreira, localizada nas proximidades do actual Largo do Carmo, extinta por D. Diniz em 1317; a Judiaria de Alfama, talvez criada durante o reinado de D. Pedro I, ou de D. Fernando, para abrigar os judeus retirados de outras áreas de judiarias destruídas.

Como sucede no resto da comarca, não se manteve a minoria mudéjar, o que aumentou a importância do papel desempenhado pelos judeus. Para termos uma ideia, o fogal ou contagem fiscal realizada sob o mandato das Cortes de Maella (1405), onde se assentam 74 fogos cristãos e 29 judeus, apesar de não incluir as famílias isentas de impostos. Resumindo, um cálculo aproximado estabeleceria uma vizinhança de 115-130 pessoas, homologando-se, por exemplo, com Daroca. Na segunda metade da centúria, assistem às reuniões da alfama um máximo de 34 cabeças de família (140 pessoas), com o qual se denota uma clara estabilidade.
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Lisboa teve uma comuna judaica dispersa por três judiarias: a Judiaria Velha ou Grande, no arrabalde judaico da mouraria, a Judiaria Nova ou das Taracenas e a Judiaria de Alfama. A comuna definida pelos órgãos administrativos e judiciais localizava-se na Judiaria Grande, onde se encontravam a sinagoga principal, o local das reuniões da câmara da vereação, o tribunal, a cadeia, os açougues para o abate ritual do gado, o hospital, as escolas, a biblioteca, estalagens e até uma mancebia. Pelos menos a partir de certa altura houve portas nos bairros judeus. No século XV, o grande investimento português nas Descobertas e as perseguições a judeus nos países vizinhos provocaram o aumento da população judaica em Portugal, nomeadamente em Lisboa. O alargamento da área das judiarias lisboetas chegou a levantar os protestos do Concelho nas Cortes de 1441. Os finais do século XV assistiram à afirmação de movimentos anti-judaicos que alteraram o habitual ambiente de boa convivência entre cristãos e judeus. Essa tensão culminou com o édito de D. Manuel I de 1496 decretando a expulsão dos judeus. As consequências mais imediatas do édito foram os tumultos e a fuga desesperada de parte da comunidade judaica lisboeta que se serviu do Tejo como via mais rápida de saída do país. Sentindo antecipadamente a perda que representava a fuga da comunidade judaica, D. Manuel I obrigou ao baptismo forçado milhares de judeus, frequentemente em cerimónias improvisadas nos cais lisboetas. Como cristãos-novos, os judeus podiam permanecer no país e em Lisboa, mas a comuna judaica, legalmente, deixara de existir e os bairros conhecidos por judiarias descaracterizaram-se.
No endereço http://www.judaica.com.br/materias/055_10a15.htm no artigo intitulado Os primeiros judeus em Portugal: de Jachia ibn Jaisch a Isaac Abravanel de Hélio Daniel Cordeiro. A maior comunidade judaica encontrava-se em Lisboa, onde havia diversas judiarias. A mais antiga situava-se no bairro da Pedreira, entre os conventos do Carmo e Santa Trindade, e uma mais nova no bairro da Conceição. Desde 1457 existiu uma terceira judiaria perto do Portão de Pedro, chamada judiaria da Alfama.
Depois de Lisboa, as maiores comunidades e, portanto, as maiores judearias, ficavam em Santarém, Lamego, Bragança, Guimarães, Évora, Alcaçar, Coimbra, Viseu, Porto, Chaves, Leiria, Trancoso, Alvito, Guarda, Alenquer, Elvas, Estremoz, Faro, Gravão, Covilhã, Beja, Penamacor, Vila Marim, Castro Marim, Miranda, Porches, Cacilhas, Mejamfrio, Barcelos e Vila Viçosa.
Além disso, parte dos judeus viviam dispersos por várias localidades, faltando-lhes os dez adultos necessários para o serviço divino regular. Esta situação explica a pergunta dirigida por judeus portugueses ao rabino de Barcelona, Salomon Adreth, sobre se dois meninos de 13 anos podiam completar o número de adultos necessários para o serviço divino. A resposta do rabino foi negativa.