18.6.09

Pensamento da Semana

Nós não vemos as coisas como são, mas sim segundo o nosso conceito!
Shabat Shalom !

Porção Semanal da Torá: Shelach



Bamidbár (Números) 13:1 - 15:41
O Povo Judeu recebeu a Torá no Monte Sinai e está pronto para entrar na Terra de Israel. Há um consenso entre o Povo de que devem mandar espiões para verificar se é possível conquistá-la. Moshe sabe que a promessa do Todo-Poderoso de nos dar aquela terra incluía, também, a garantia da sua conquista. Entretanto, um dos princípios de vida que aprendemos desta porção semanal é que o Todo-Poderoso dá a cada um de nós livre-arbítrio para irmos na direcção que bem escolhermos. Então Moshe, por decreto Divino, envia os chefes das tribos (homens do mais alto calibre espiritual) para espionar a terra. Doze espiões são mandados. Dez voltam com o relato de que existiam grandes fortificações e gigantes, e incitam o Povo a não entrar na terra. Yehoshua ben Nun e Calev ben Yefunê (cunhado de Moshe) tentam opor-se à rebelião, mas não têm sucesso. O Todo-Poderoso decreta que o Povo Judeu vagará 40 anos pelo deserto, um ano por cada dia que espionaram a Terra de Israel. Isto aconteceu no dia 9 do mês hebreu de Av (Tishá BeÁv), uma data conhecida em toda a história Judaica pelas suas tragédias: a destruição de ambos os Templos em Jerusalém, a expulsão dos Judeus da Espanha, em 1492, e a saída do primeiro comboio para Auschwitz, entre outras.
Dvar Tora
Os dez espiões retornaram e fizeram o seu relato ao Povo Judeu: “As pessoas que moram naquela terra são extremamente bárbaras e violentas e as cidades são fortificadas e muito grandes. Também vimos os filhos dos gigantes. Não poderemos entrar na Terra de Israel porque eles são mais fortes que nós (Bamidbár 13:28-31). Os espiões foram enviados para reconhecer o território e relatar o que viram. Qual foi o seu erro? O Rabino Ytschak Arama (Espanha, 1420-1494), autor do livro Akeidat Ytschak explicou que o relato dos espiões foi apropriado. Eles observaram e contaram o que viram. O seu erro foi tirar uma conclusão e transmiti-lá como um facto, convencendo o povo de que não deveriam tentar entrar em Israel. Não era da sua responsabilidade tirarem qualquer conclusão, apenas reportar os factos. Eles estavam errados com respeito a que não poderiam conquistar os inimigos. O Todo-Poderoso tem o poder de ajudar-nos mesmo nos casos em que, aparente- mente, todas as chances estão contra nós. Apenas porque nas suas mentes eles não acreditavam ser possível ter sucesso em conquistar a Terra Prometida, isto não significava que não era realmente possível.
Qual a nossa lição?
É muito comum vermos alguns fragmentos de uma situação e tiramos conclusões erróneas baseadas nas nossas percepções. Precisamos de ser muito cuidadosos porque muitas vezes há outros factores que desconhecemos ou que não levamos em consideração. É um talento muito especial ser capaz de tomar decisões correctas baseadas em factos reais. Isto é especialmente verdadeiro, quando se fizer uma avaliação sobre as outras pessoas. Há aqueles que têm uma forte tendência de tirar conclusões negativas sobre os demais, conclusões que se revelam ser inexactas. Mesmo aquilo que observamos sobre a outra pessoa possa ser basicamente verdadeiro, tenhamos sempre em mente que as nossas conclusões podem estar equivocadas e que a outra pessoa merece ser avaliada sob uma perspectiva favorável.
SHABAT SHALOM

15.6.09

Crianças Mal-Humoradas


O Humor herdado
Algumas pessoas são cronicamente felizes. Não muitas, mas algumas. Estes sortudos herdaram “genes do bom humor”, permitindo-lhes manter uma disposição alegre, um estado de espírito flexível, uma visão optimista e forte resistência ao stress. Estão sempre a sorrir, apreciando a vida.
E então vem o restante das pessoas.

O Humor Começa Cedo
Até em recém-nascidos, o humor é discernível. Alguns bebés ficam deitados contentes: outros mostram o rosto vermelho de fúria. Quando chegam a casa vindos da maternidade, o temperamento facilmente se apresenta: alguns aceitam tudo facilmente: outros não cedem de maneira alguma. Alguns estão interessados por tudo; outros simplesmente não querem ser deixados sozinhos.

Alguns parecem satisfeitos, confortáveis no seu novo mundo; outros não têm sossego. Nos meses e anos que se seguem, o humor e o carácter, o perfil da criança e os seus traços característicos tornam-se mais evidentes; alguns são tímidos, outros extrovertidos, dóceis, flexíveis ou rígidos e parecem ter a opinião formada. Os pais passam a conhecer os seus filhos como “fáceis” ou “difíceis”. Como declara a Torá, eles devem encontrar uma maneira de educar cada filho de acordo com a sua própria maneira – o seu temperamento e tendências inactas. Podem ser necessárias estratégias diferentes para tipos diferentes de filhos.

Crianças mal-humoradas, resmungonas e irritáveis
Um grupo de crianças que com frequência deixa os pais perplexos é formado por aquelas que resmungam. Essas crianças parecem estar sempre infelizes com alguma coisa. Não gostam das roupas, da comida, dos irmãos, das actividades, e seja lá o que for que exista e possa ser rejeitado.

O copo delas parece sempre estar meio vazio. Sentem-se privadas, invejosas, abandonadas e negligenciadas. Parecem nunca ter o que desejam. Levantam-se pelo lado errado da cama e passam o dia com uma reclamação atrás da outra.

Estas crianças são “mal-humoradas”, mas não de uma forma rotineira. Este grupo às vezes pode estar bem, mas então sob determinadas circunstâncias (as coisas não saíram como queriam, ou se estão cansadas ou não bem alimentadas) podem tornar-se bem azedas rapidamente. Ou então ficam assim sem um motivo aparente. A mudança de humor acontece com tanta frequência que a criança é descrita como mal-humorada, e não equilibrada.

Irritabilidade e mal humor podem ocorrer a qualquer um, pontualmente. Problemas com a saúde, stress, flutuações hormonais e traumas podem resultar num mau humor ou tristeza. Procurar descobrir a fonte dessa negatividade em geral é suficiente para remediar isto. No entanto, irritabilidade e mau humor como parte regular da personalidade de uma criança (com grande frequência ou alternando bom humor e mau humor) pode ser causado por problemas crónicos de saúde (como intolerância alimentar) ou traços genéticos. Depois que a intolerância a algum alimento ou outros problemas de saúde forem descartados, um dos pais deve assumir que a culpa é da hereditariedade.

Ajudando crianças infelizes
Uma das variedades descritas acima em crianças podem ser um precursor da depressão em adultos. O estado de espírito deprimido em adultos geralmente envolve um estado emocional triste; nas crianças, geralmente é expressa como irritabilidade ou resmungos. Os adultos podem tratar o humor cronicamente deprimido com medicação psicotrópica, mas isso somente é recomendado para casos extremos na infância. Em geral, tratamentos naturais são suficientes para ajudar crianças a se sentirem mais calmas e contentes. Um pediatra natural (i.e., alguém experiente em tratar crianças) pode oferecer uma variedade de intervenções, envolvendo nutrição, exercício e suplementos naturais para melhorar o humor.

Os pais precisam ser compassivos com os filhos que estão infelizes. Certamente não ajuda dizer às crianças para “melhorar a cara” ou “pôr um sorriso no rosto”, ou então “para de te sentires tão infeliz.” Na verdade, a estratégia oposta de aceitar e dar nome aos sentimentos do filho (ajuda emocional) tem um resultado muito melhor no sentido de ajudar as crianças a melhorarem seu humor a longo prazo. “não estás contente com isso,” ou “não gostas disso”, ou “está aborrecido”, são declarações simples que os pais podem fazer quando o seu pequeno está claramente infeliz.

Não há necessidade de os pais tornar a criança feliz dando-lhe tudo o que deseja ou tentanto evitar descontentá-la. Em vez disso, os pais devem comportar-se normalmente, recusando-se a ceder às intensas exigências de uma criança infeliz. E o mais importante, os pais devem entender que a criança não pode evitar estar de mau humor, e odeia isso tanto, ou ainda mais, que o pai e a mãe odeiam. Simpatia, e não desaprovação, é a atitude correcta. Quando os pais levam a criança a um médico em busca de ajuda para o mau humor, a maioria das crianças sente-se grata e aliviada. Em vez de serem vistas como “más”, são reconhecidas como vítimas de algo que não podem controlar. Isso, por si mesmo, ajuda a curar.

Ser pai de uma criança mal-humorada é um desafio. No entanto, com compreensão e perícia, os pais podem cumprir essa tarefa com maior confiança e sucesso.

5.6.09

Parashá Behaalotecha

“Quando acenderes as velas do candelabro…” (Bamidbar 8:2)“E falarás a Aaron e lhe dirás : “Quando acenderes as velas do candelabro...” Rashi comenta a relação entre as parashiot, dizendo: a parashá do acendimento das velas do candelabro continua à dos sacrifícios que deviam oferecer os príncipes das tribos na inauguração do Tabernáculo, pelo que Aaron chegou a ressentir-se, pois a sua tribo não foi incluída para oferecer e por isso o Eterno lhe anunciou: “Aaron, a tua obrigação é de maior importância que a dos príncipes das tribos”. Os comentaristas questionam este comentário de Rashi: Como se demonstra que a importância da obrigação da tribo de Aaron , de preparar tudo para acender as velas é maior que a da oferta dos sacrifícios? Acender as velas pode ser feito por um Israel não pertencente à tribo de Aaron mas apenas os preparativos para acender as velas é um privilégio da sua tribo. Encontramos também que, em Shabat todos os sacrifícios obrigatórios, como os Temidim, os Musafim supunham uma profanação das leis sabáticas mas entretanto os preparativos dos mesmos deveriam ser feitos antecipadamente, não podendo realizar-se durante o Shabat. Por outro lado, o acender das velas do candelabro do Santuário podia realizar-se em Shabat tal como também os seus preparativos, pelo que o eterno disse a Aaron: ”A tua obrigação é maior que a deles”, pois apenas podiam realizar a Mitzvá e não os preparativos. A luz na Torá tem um grande simbolismo: Pois a vela é a Miztvá e a Torá as luz” e assim como uma pequena fonte de luz pode afastar a escuridão de um pequeno espaço, também um dito da Torá pode contradizer muita ignorância. Vemos no conceito do candelabro do Tabernáculo, que os preparativos das velas chegam a ser mais importantes que o próprio acender; também encontramos essa ideia nos conhecimentos da Torá, nos quais o valor não se encontra no conhecimento em si, senão no esforço realizado para alcançá-lo e na intenção para o estudo. “Tanto aquele que alcançou muito conhecimento da Torá como aquele que não chegou a alcançá-lo. O importante encontra-se na intenção”, assim disseram os nossos Sábios. O Talmud comenta-nos sobre o mestre de Rabi Meir (Baal Hanés) Elishá Ben Abuyá “Acher” que chegou a alcançar. Como podemos entender que com tanto o conhecimento da Torá, chegasse a profanar o Shabat conscientemente em público. Ao que responde o Talmud que tudo se encontra radicado na intenção, a isto comenta: Abuyá costumava convidar os Sábios para sua casa. Um dia no entusiasmo do estudo, Abuyá viu que uma chama estava acesa nas cabeças dos Sábios e punha em perigo que se acendesse o tecto de madeira, ao que lhe advertiram que o fogo da Torá não danifica; observou então Abyuá, como a chama chegava ao tecto e não o queimava. Também se disse: Se os Sábio são capazes de produzir um fogo que não queima, então fiz-me para eles. Toda a intenção com a qual foi encaminhado Elishá por seu pai no estudo da Torá não provocou efeito na sua pessoa, senão que o converteu num armazém de livros e dados, um simples disco duro de computador.Muitos programas de estudos se inovaram nas escolas, com uma periocidade tal que por vezes parecia que a educação se tinha convertido numa moda de roupas, cada ano surgia uma nova ideia ou renovada; parecia que não estávamos contentes com os avanços educativos dos nossos meninos. Educação ou ensino, existe uma grande diferença entre ambas as expressões. Já não existem mais centros educativos, pois os professores não se sentem responsáveis nem com direitos para educar, hoje não são só vendedores ambulantes de conhecimento, escolas de ensino, os nossos filhos sabem muito mais matérias do que nós, estudam mais matemáticas e talvez até mais história, a internet ”abriu os olhos” a muitas fontes mas na verdade acreditamos que a internet educa, a quem lhe interessa. A Mishná em Pirkei Avot disse: toda a Torá que não acompanhada de um ofício terminará por se suprimir e acarretará o pecado; uma Mishná muito querida por todos aqueles que gostam de trabalhar e não dedicam qualquer esforço ao estudo da Torá mas parece que esquecem a ordem de preferências que está escrita na Torá: o primordial é a educação, a Torá deve ser acompanhada pela necessidade mas “se esqueço a Torá para que quero a necessidade”. Rabi Moisés HaRambam exerceu a profissão de médico na Corte do Sultão do Egipto e certamente estudou e praticou muito para chegar a esse ponto mas esquecemos que muito antes já tinha alcançado os níveis mais altos de conhecimento e cumprimento da Torá, como o testemunham uma longa lista de livros e respostas, assim como a sua obra “Mishné Torá”. Não convertamos os nossos centros de educação, onde os conhecimentos e a tecnologia são primordiais, nas escolas de ensino, onde os conhecimentos e a tecnologia são os que determinam o nome do lugar. A Alemanha chegou a ser o centro das ciências, das artes, tecnologia, etc mas pelos vistos faltou-lhe o único que não tinham e os resultados tristemente mais foram conhecidos. Está certo o ditado: “Se não há pão não há Torá, já que dificilmente se pode estudar se não existe esse mínimo para poder viver mas não esqueçamos a continuação do mesmo ditado do Perek: “Se não há Torá, não há pão”, esse pão sem Torá pode converter-se em “tóxico”.
Resumo da Parashá
O Eterno disse a Moshé que conferisse a Aaron a tarefa de situar as luzes do candelabro (Menorá), de maneira que iluminassem para a frente. Hashem ordenou que os levitas se separassem para o seu serviço no Mishkan, devendo Moshé purificá-los mediante o orvalho de água pura sobre eles, passando uma navalha sobre todo o seu corpo e lavando as suas roupas. Também deviam apresentar sacrifícios. Moshé devia aproximar os levitas perante o Tabernáculo e também reunir a congregação dos Filhos de Israel para que depois Aaron os apresente perante o Povo. Assim seriam os representantes dos Bnei Israel perante o Eterno e Aaron devia consagrá-los perante Hashem. Apenas os levitas com idades compreendidas entre os trinta e os cinquenta anos de idade podiam servir enquanto que os que tinham idades compreendidas entre os vinte e cinco e trinta anos deviam preparar-se para as futuras tarefas no serviço religioso. No dia 14 de Nissan do seguinte ano depois da saída do Egipto, celebrou-se o primeiro dia de Pessach. Houve quem pudesse observá-lo nessa data por se encontrar impuro e por isso solicitaram a autorização para participarem nas ofertas pascais. Moshé consultou o Eterno, que lhe respondeu que, no mês seguinte, no dia 14 de Iyar (Pessach Sheni), quem se encontrasse impuro ou estivesse longe do Tabernáculo, devia apresentar um Korban de Pessach e comer pão ázimo (Matzá) e ervas amargas. Quando se inaugurou o Mishkan, a nuvem divina de dia cobria o lugar e durante a noite tinha aparência de fogo. Esta nuvem era um sinal para que a congregação continuasse a sua viajem. Quando a nuvem se alçava os Bnei Israel partiam e no lugar onde parava, acampavam. Hashem ordenou a Moshé que se fizessem trompetas de prata para poder anunciar com elas o começo da marcha para convocar o povo frente ao santuário, para avisar quando deveriam ir à guerra ou para proclamar os dias de grande alegria, festividades, o novo mês (Rosh Chodesh). O Povo começou a sua trajectória através do deserto sob a guia da nuvem divina, sendo a sua primeira paragem no deserto de Paran, lugar onde a nuvem pousou. Moshé pediu a seu sogro, Itro, que se aproximasse, acompanhando-os nesta travessia mas decidiu voltar a Midian. Portanto, durante a travessia do deserto o povo começou a queixar-se pela liderança de Moshé. A ira do Eterno não se fez esperar e produziu um incêndio no acampamento fazendo estragos até que Moshé orou ao Todopoderoso e o fogo se extinguiu. Um grupo de não hebreus que vieram desde o êxodo do Egipto, queixou-se novamente pela falta de carne para comer. Também reclamaram a falta de peixe, de frutas e verduras, como no Egipto. O povo apenas recebia o maná. Moshé sentiu sobre si a carga de dirigir o Povo, o que era muito pesado para uma só pessoa. O Todopoderoso indicou-lhe que reunisse setenta dos anciãos do Povo de Israel para que o ajudassem na condução da Congregação. O espírito profético pousou então sobre esses anciãos. O Eterno enviou então grandes quantidades de aves (codornizes) que caíram no acampamento e assim as pessoas recolheram-nas e muitos deles ávidos por comê-las morreram perante a ira de Hashem. Por último, nesta parashá, Miriam e Aaron falaram contra Moshé e ela foi castigada com lepra mas curou-se totalmente durante uma semana.

4.6.09

Porção Semanal: Nassô

Bamidbar 1:21 - 7:89


Nassô prossegue delineando as tarefas e responsabilidades das três famílias levitas - Gershon e Merari na porção desta semana, Kehat na semana passada - e contando todos os levitas que estavam em idade de servir no Mishcan.
Depois que D'us ordenou a Moshê para purificar o acampamento afim de ser um lar merecedor da Presença Divina, a Torá descreve o processo a ser cumprido com uma sotá, uma esposa que foi advertida pelo marido a não ficar sozinha com outro homem, e mais tarde foi surpreendida fazendo-o, dando ao marido um bom motivo para suspeitar de adultério. Ela é levada ao Cohen no Templo Sagrado e, caso não admita a sua culpa, recebe água amarga sagrada para beber, o que levará a um destes dois resultados: ou as águas estabelecerão a sua inocência, removendo a dúvida do seu relacionamento com o marido e abençoando-a com filhos, ou as águas provarão a sua culpa por uma morte miraculosa e grotesca.
A Torá então descreve as leis do nazir, uma pessoa que aceitou voluntariamente adoptar um estado especial de santidade, geralmente por trinta dias, abstendo-se de comer ou beber qualquer derivado de uva, cortar o cabelo, e de contaminar-se através do contacto com o corpo de alguém que morreu. Após relatar as bênçãos pelas quais os Cohanim abençoarão o povo, a porção da Torá conclui com uma longa lista das oferendas trazidas pelos doze líderes das tribos durante a dedicação do Mishcan para uso regular. Cada príncipe faz uma oferenda comunal para ajudar a transportar o Mishcan, bem como doações idênticas de ouro, prata, animais e alimentos.

Mensagem da Parashá


"Os itens sagrados de um homem devem ser seus" (Bamidbar 5:10)
Existiu certa vez um homem muito trabalhador que estava a passar por dificuldades financeiras. Incapaz de ganhar dinheiro suficiente para sustentar a família, decidiu fazer uma longa viagem de negócios a um país distante, na esperança de conseguir alguma coisa. Ao chegar, logo envolveu-se na venda de laticínios. O leite dava um bom lucro, pois era escasso naquele país, e ele logo tornou-se próspero.
Quando, após muitos anos, ficou satisfeito com a fortuna que havia amealhado e que proveria confortavelmente as necessidades da sua família pelo resto da vida, preparou-se para voltar para casa com os seus bens recém-adquiridos. Entretanto, raciocinando que poderia também vender o leite na sua terra, decidiu não transportar os seus baús repletos de moedas de ouro e prata, e em vez disso comprou muitos barris de leite. Carregou-os prontamente no seu navio, esperando que pudesse aumentar ainda mais os seus lucros.
No último instante, pouco antes de o navio levantar velas, um mercador vendendo diamantes e pedras preciosas por um preço extraordinariamente baixo aproximou-se dele. Usando todos os métodos de persuasão de que podia dispor, o mercador finalmente convenceu o homem a trocar uma pequena quantidade do seu valioso leite por algumas das pedras, que embora preciosas, não custavam muito.
Após vários dias de viagem, finalmente o homem chegou ao seu porto natal. A sua família lá estava para saudá-lo entusiasticamente, ansiosa para descobrir que tesouros ele havia juntado durante os longos anos de separação. Quando começaram a descarregar as centenas de baús de mercadoria, foram imediatamente dominados por um cheiro avassalador.
Logo ficou claro que milhares de galões de leite haviam-se estragado durante a longa viagem. Frustrada pelos muitos anos de separação e incapaz de acreditar na estupidez do marido, a sua esposa começou a chorar amargamente. "Como pode investir todas as suas economias em leite, algo que qualquer um aqui vende por um preço irrisório. Deveria ter comprado baús de pedras preciosas por um preço baixo, e vendê-los aqui por milhões. Como vai sustentar-nos agora?!" Percebendo o seu erro crasso, o homem não pôde responder. Finalmente lembrou-se que, no último minuto, comprara umas poucas caixas de pedras preciosas, e usou-as para sustentar a família por algum tempo.
Assim é a vida do homem. Chegamos a este mundo por um tempo breve, pensando que reteremos enormes lucros ao investir nos seus muitos prazeres efêmeros. A comida e a bebida custam pouco; a glória, a honra e o prazer esperam-nos a cada esquina. Não prezamos os valiosos diamantes e pedras preciosas, a Torá e mitsvot, que aqui podem ser adquiridas por tão pouco. E quando chega a nossa hora de deixar este mundo, tudo o que temos para levar connosco são os nossos prazeres e diversões - o nosso leite estragado.
É claro que juntamos algumas poucas pedras preciosas durante estes anos, mas o nosso coração anseia pelas muitas oportunidades perdidas, quando poderíamos ter ganhado milhões e preparado para nós um lugar maravilhoso no verdadeiro mundo, o Mundo Vindouro.
Com esta parábola, o Chefetz Chaim explica homileticamente o versículo acima na Porção desta semana da Torá. Não o dinheiro e não a nossa fama - apenas as mitsvot que cumprimos e a Torá que estudamos são realmente nossas, para levar connosco.

SHABAT SHALOM

2.6.09

A Fé Judaica



Como entender a diversidade de religiões no mundo?

Porque os judeus têm o compromisso de adoptar a Torá como o seu Guia de Vida?
A sintonia entre os órgãos do corpo com as 613 mitsvot.

Não tenho tido notícias suas. Espero que seja um caso de "falta de notícias, boas notícias", e que o problema sobre o qual me escreveu, ou seja, enfrentar uma crise de fé devido a certas dúvidas e incertezas, tenha sido superado, ou pelo menos substancialmente aliviado, como frequentemente acontece nestes casos.

Esta é uma das razões - sendo a principal a pressão do excesso de obrigações - o porquê da inusitada demora da minha resposta à sua carta. E também porque é difícil discutir tal assunto numa carta.

Na verdade, não há necessidade disso, pois não é um problema inusitado, e há uma vasta literatura (também em Inglês) que trata das perguntas levantadas na sua carta. Certamente é possível discuti-las pessoalmente com uma pessoa instruída, como um rabino estudioso e praticante.

Como já me havia escrito, tentarei esclarecer (dentro dos limites de uma carta), algumas das incertezas mencionadas na sua missiva, tais como uma maneira de entender a diversidade de religiões no mundo, porque os judeus têm o compromisso de cumprir todas as 613 mitsvot da Torá, ao passo que o restante da humanidade, apenas sete, as chamadas Sete Leis de Nôach (naturalmente, com todas as suas ramificações - o que também constitui um código moral Divinamente ordenado bastante substancial); como pode um judeu ter certeza de que a Religião Judaica e o seu modo de vida é o verdadeiro e é superior a qualquer outro, etc.

Deixe-me começar com uma ilustração:

A pessoa que observar a sua própria mão, a princípio, pensará nela como parte da sua anatomia, algo que é capaz de realizar uma variedade de trabalhos manuais. Se pensar melhor, verá que a mão é constituída de muitas partes, como dedos e músculos que têm a sua função específica, bem como funções que são realizadas em conjunto com outras partes, possibilitando que a mão realize tarefas mais delicadas, como escrever, por exemplo.

Num nível mais profundo, há nervos e vasos que conectam a mão e os dedos ao cérebro e ao coração, que influenciam a qualidade da escrita, na medida em que expressa as idéias e sentimentos da pessoa que escreve, revelando até mesmo aspectos ocultos do seu caráter, como bem sabem os peritos em grafologia.

Poder-se-ia estender ainda mais esta análise, até ao nível dos átomos e eléctrões, etc. Dessa maneira, pode-se falar da mão humana e as suas funções em níveis diferentes, desde o mais simples ao mais complexo, que não são mutualmente incompatíveis, desde que cada parte realize as suas funções de maneira adequada e integral.

Se há tais complexidades, gradações e níveis no mundo físico, ainda que com um factor subjacente unificador, eles certamente estão presentes no mundo do metafísico e do espiritual.

Quando se trata de contemplar a existência de D'us, a pessoa deve antes de mais nada perceber que seres humanos finitos (mesmo o mais sábio dos homens) não conseguem apreender a "mente" e "pensamentos" do Criador, cujos atributos são essencialmente tão incompreensíveis quanto Ele Mesmo - excepto naquilo que Ele desejou revelar na Torá. Porém aquilo que é revelado na Torá é tão claro como a luz, que é uma das razões pelas quais a Torá é chamada Torá Or [Torá de luz]; de facto grande parte disso tem-se tornado senso comum.

Ora, no que concerne ao ser humano, a Torá diz-nos, que tem evoluído pelo projecto do Criador numa variedade de componentes, em vez daquele uniforme bloco massivo - assim como o corpo humano consiste de uma variedade de órgãos e partes, cada um com o seu próprio objectivo e função, nada sendo inútil ou supérfluo. Pois, como dizem os nossos Sábios, "O Criador não criou nada que fosse inútil neste mundo."

É claro, a pessoa poderia imaginar porque D'us escolheu uma nação, de toda a humanidade, para dar-lhe a Sua Torá e mitsvot, designando-a como "Um reino de cohanim (servos de D'us) e uma nação sagrada"? ou ainda, porque Ele permite tal variedade de crenças e práticas religiosas, algumas das quais em directo conflito com a Sua ordem manifesta? Mas isso seria como perguntar: porque o corpo humano consiste de uma variedade de diferentes partes, desde o cérebro e coração até á sola dos pés? Ou ainda, porque D'us permite defeitos num organismo que de outra forma seria perfeito?

Quanto a questão, tendo em vista as várias religiões e credos do mundo, cada qual reivindicando ser a verdade e superior a todos os outros, como um judeu pode ter certeza de que a sua religião é a verdadeira?

Esta e outras questões relacionadas já foram tratadas extensamente pelo famoso clássico do século XII, o Livro de Kuzari, pelo grande filósofo Rabi Yehudá Halevi, que pode ser encontrado em inglês. Está bem documentado e baseado em provas capazes de enfrentar o escrutínio do método científico e senso comum.

Um princípio científico básico é que a primeira coisa a se fazer é ter a certeza dos factos, independentemente se parecem lógicos ou não, e então tentar encontrar a explicação correcta. O conhecimento é derivado da realidade, e não vice-versa. Se de acordo com o raciocínio da pessoa a realidade fosse diferente, o erro estaria com o raciocínio, não com a realidade.

Um princípio básico mais desenvolvido do método científico é que a veracidade do testemunho é obrigatória quando é baseado na mais vasta gama de testemunhas e observações, substanciadas, além disso, pela experiência sob as mais amplas condições.

Como foi enfatizado no Kuzari, e em outras fontes através dos tempos, nós judeus estamos certos de que "Moshê é verdadeiro e a sua Torá é verdadeira", pelas premissas dos eventos históricos do Êxodo e da Revelação no Sinai, que foram testemunhados e vividos por 600.000 homens adultos (sem contar as mulheres e crianças).

Aquilo que os nossos ancestrais testemunharam e viveram, transmitiram aos seus filhos e aos filhos dos seus filhos, de geração em geração até aos dias de hoje, pois nunca houve uma brecha ou interrupção na nossa história e tradição, desde o tempo do nosso primeiro Patriarca Avraham.

Assim, idêntica tradição nos foi transmitida por milhões de judeus de todas as esferas da vida, e corroborada pelo próprio modo de vida e comprometimento com as mesmas mitsvot da mesma Torá (o mesmo Shabat, o mesmo Tefilin, Mezuzá, etc.) de geração a geração, em países diferentes e sob condições diversas. Embora outros factores, que geralmente se associam com a preservação de outras nações e as suas culturas étnicas - tais como território, independência política, idioma, modo de vestir, etc. - tenham mudado na vida judaica de tempos em tempos e de lugares para lugares, a Torá e mitsvot não mudaram na vida de todos os judeus. Este facto que corre como uma linha de ouro por toda a nossa História Judaica não apenas confirma sem a menor sombra de dúvida a autenticidade da nossa Torá e mitsvot, como também demonstra qual é verdadeiramente o factor vital da constância que nos tem preservado como judeus sob todos os tipos de circunstâncias e crises, a saber, a Torá e mitsvot...

Nenhuma outra religião, sem excepção, mesmo aquelas cujos seguidores superam em número o nosso povo judeu, pode reivindicar tal prova de autenticidade.

Pois se traçarmos uma linha até á origem dessas religiões, invariavelmente encontraremos que cada uma delas, sem excepção, está baseada num único fundador ou pequeno grupo de fundadores.

Consequentemente, apesar da multidão de seguidores, o cético poderia questionar a veracidade da revelação reivindicada pelo fundador original, se foi uma revelação profética genuína como afirmam ou talvez uma alucinação, e, no caso de um pequeno grupo de fundadores, se houve uma experiência genuína compartilhada, ou talvez uma conspiração, ou coisa semelhante.

Porém, é claro que estas dúvidas não se aplicam a respeito da Torá, especialmente porque as outras grandes religiões admitem claramente a sua dependência fundamental no nosso Tanach (o assim chamado "Antigo Testamento"), com todos os eventos lá narrados, incluindo o Êxodo e a Revelação no Sinai – a nossa própria prova enfática (caso provas fossem necessárias) de que "Moshê é verdadeiro e a sua Torá é verdadeira."

Finalmente, há ainda um outro aspecto importante, que é também uma regra aceite pela ciência, a saber, confiar na autoridade de um perito reconhecido - uma regra fielmente seguida mesmo pela medicina, quando directamente relacionada com a saúde e a vida; certamente não para dispensar, ou agir de forma contrária à opinião do especialista.

Os peritos, a respeito dos problemas delineados na sua carta, são as autoridades da Torá de todas as gerações, aqueles que dedicaram toda a sua vida ao estudo da Torá e cujas vidas foram consagradas a viver pela letra e espírito da Torá e as suas mitsvot.

Como tudo acontece pela Hashgachá Pratit (Divina Providência), e esta carta, há muito devida, foi escrita muito próxima a Yud Shevat, o Yahrzeit - Hilula do meu sogro, o Rebe, de abençoada memória, é oportuno lembrar a sua vida e obra, que tocaram tantos judeus em todas as partes do mundo. Creio que está ciente da sua total dedicação à preservação e, de facto, disseminação dos caminhos da Torá, mesmo sob os mais cruéis e anti-religiosos regimes totalitários. Logicamente, não havia a mais remota chance de que ele tivesse sucesso, especialmente após todos os outros líderes religiosos (não apenas judeus) terem sido silenciados ou eliminados. Mesmo assim, quando a situação atingiu um ponto crítico (em 1927), ele saiu vitorioso com a ajuda de D'us. Os frutos da sua vitória podem ser vistos mesmo agora, mais de meio século depois, nos homens, mulheres e crianças que emergiram da Cortina de Ferro como judeus fortes e integrais, e que são uma inspiração para todos aqueles que os encontram...

*Carta do Rebe e uma lição de fé para todos nós.