1.11.09


Pergunta: Porque devemos preocupar-nos com um “mau olhar”, ayin hará? Se servimos a D'us, Ele nos protegerá!
Rabi: Não precisa de se preocupar com ayin hará; pode confiar em Hashem.
Pergunta: Então porque é mencionado nas preces de Shacharit?
Rabi: È porque confiamos em Hashem! Rezamos a D‘us para que Ele cuide de nós e não fiquemos sujeitos ao ayin hará.
Pergunta: Mas ao reconhecermos de maneira a "proteja-nos do ayin hará" não estamos afirmando que "foi o ayin hará" que causou algo negativo?

Rabi: Eu não disse que não existe o ayin hará, e não foi isso que você perguntou, mas sim porque se preocupar com isso quando Hashem cuida de nós. E eu disse “não se preocupe e que é por isso que rezamos”: para que Hashem tome conta de nós e assim, não devemos preocupar-nos. Portanto, eu não entendo a sua última pergunta.
Pergunta: Acho problemático o facto de darmos tamanha importância à existência de um ayin hará como uma causa (aparentemente) de algo mau. Não é tudo pela vontade de Hashem? Não está tudo conectado com as nossas acções? Não temos o poder de mudar a maneira de Hashem nos tratar? Porque ficar incomodado com este supersticioso ayin hará? Consegue imaginar Yaacov a dizer, que a decepção de Lavan foi o ayin hará? Não somos mais inteligentes que isso?
Rabi: A sua pergunta fornece a resposta. Tudo é pela vontade de D’us, e está conectado às nossas acções. Portanto, se fazemos algo que causa ayin hará pode ser a vontade Divina que algo resulte disso. Sabe o que ayin hará realmente significa?
Pergunta: Mau olhar, não é?
Rabi: E o que isso quer dizer?
Pergunta: Mau olhar é como um feitiço que alguém lança sobre outra pessoa.
Rabi: Esta é a tradução correcta, mas qual é o conceito?
Pergunta: Geralmente uma maldição.
Rabi: Não realmente… o conceito é que quando alguém olha demais ou de maneira errada, isso pode causar que D'us olhe novamente, por assim dizer, decida mudar de idéia ou trazer algo sobre si.
Pergunta: Olhar demais ou da maneira errada – o que quer dizer?
Rabi: Por exemplo, quando um professor vê um aluno fazer alguma coisa, mas decide fazer vista grossa e ignorar aquilo… mas, se outro aluno começa a dizer: ‘Ei! Olhe o que aquele aluno está a fazer’, etc., o professor pode reexaminar a situação.
Pergunta: Então, é o olho do professor que percebe o mau comportamento e o castiga como resultado?
Rabi: Como os "olhos" dos alunos estavam focalizados naquilo, isso trouxe o "olho" do professor de volta para o facto. Isso acontece sempre… uma criança faz alguma coisa mas somente é castigada porque todos começaram a observar e isso atrai atenção.
Pergunta: Então o castigo é o ayin hará? Ou a averá que o colocou em acção?
Rabi: Ayin hará não é um castigo, pode ser a fonte de problemas. Como foi explicado antes, pode "reabrir" um caso antigo, ou chamar atenção para algo que de outra forma teria passado despercebido.
Pergunta: Então averot (pecados), repetitivos, que resultam em punição seria o ayin hará?
Rabi: Não entendi…
Pergunta: Se eu roubo um biscoito – posso ficar impune, mas se roubar um biscoito todos os dias – terminarei por ser castigado.
Rabi: Isso nada tem a ver com o ayin hará, tem a ver com a sua ACTIVIDADE.
Pergunta: Mas como essa noção de ayin hará existe independentemente das nossas acções?
Rabi: Voltando à analogia, é como o aluno que consegue livrar-se de algo errado que fez e então faz de novo, e de novo, até que finalmente o professor diz basta. Ayin hará é a PRIMEIRA vez que o aluno faz aquilo, e ele teria se livrado, mas alguém estava "a olhar" para ele e portanto criou o caso, e o professor decide que não pode deixá-lo sair impune daquilo.
Pergunta: Mas na nossa vida diária a maioria das averot é conhecida somente da pessoa que faz. Ninguém mais está ali para ver. Somente você e Hashem.
Rabi: OK, não estou a falar sobre essas averot. É como qualquer reportagem investigativa de hoje em dia… as pessoas podem estar a seguir normalmente o curso da sua vida, e de repente alguém decide chamar a atenção sobre essas pessoas… num instante toda a porcaria, que a pessoa escondia há anos começa a emergir e de repente aquela pessoa passa a ter problemas por acções que fez há muito tempo, ou de repente pára de receber os benefícios que tem recebido há anos.
Pergunta: Acho que entendi. Alguém pode cometer averot todo o dia, e então um dia algo de mau acontece como resultado daquela averá original. Então o ayin hará "surge" quando as coisas estão estáveis e de repente derruba a pessoa com um soco.
Rabi: Certo. Deixe-me dar-lhe um exemplo talmúdico de ayin hará. O Talmud diz: “Coloque cercas ao redor dos seus campos para não ser atingido pelo ayin hará”, o que isso quer dizer? O seguinte: digamos que é abençoado com bons frutos todo o ano, e D'us, por algum motivo, decidiu abençoá-lo. Certo dia, alguém passa e vê todos os bons frutos e começa a pensar: "Ei, isso não é justo, eu conheço-o e ele fez isso e aquilo, então, como recebe bons frutos e eu não?!" Isso pode fazer D'us reabrir o caso – é o ayin hará – um mau olhar olhando e causando problemas. Ora, é claro que D'us pode ignorar aquilo, e é por isso que rezamos todas as manhãs.
Pergunta: Porque a inveja de alguém, uma averá por si mesma, faria Hashem reconsiderar?
Rabi: Voltando ao exemplo do estudante: os alunos estão a comer na classe. O professor decide ignorar, mas se de repente três alunos olham para o que o garoto está a comer, e isso começa a causar confusão, então, o professor mudará de idéia e agirá por causa de algo que, cinco minutos atrás, ele teria ignorado totalmente.
Pergunta: Sim, entendo o exemplo. Mas esta segunda pessoa que chega ao pomar, olha e fica invejosa – a inveja da segunda pessoa é uma averá. Porque Hashem daria ouvidos a alguém que está a cometer uma averá tão básica?
Rabi: Não importa porque a segunda pessoa está a fazer isso – o principal é que ele tem algo a que se apegar.
Pergunta: Isso encoraja as pessoas a serem secretas com as suas averot?
Rabi: Não é apenas sobre averot específicas – é sobre qualquer coisa… ninguém deseja ser examinado a fundo, certo? Todos desejamos que Deus continue a dar-nos coisas boas sem chamar a atenção de todos sobre os nossos actos, portanto ficamos na moita e não provoquemos a inveja pelo nosso bom sucesso, pois isso chamaria a atenção (quer dizer, despertaria o ayin hará).
É claro que também rezamos a Hashem toda as manhãs para que Ele considere ayin hará, e faça o que é bom para nós.
Pergunta: Entendi o conceito, eu estava com problemas no conceito da recompensa e punição.
Rabi: Não sei o que mais posso dizer.

Pergunta: Já disse muito, e foi bastante paciente. O melhor que pode dizer é Shalom, Laila Tov.
Rabi: Quando você está sob os holofotes, seja porque motivo for, (que é o mesmo que ayin hará) mais a descoberto fica e menor as suas possibilidades em se safar. Então vamos rezar para que Hashem não preste atenção às histórias, que as pessoas pensem ou dizem a nosso respeito, ou qualquer outra coisa que possa atrair atenção indesejada.
O principal é não se preocupar com as pessoas, mas confiar em D'us.

Shalom