1.12.07


Uma boa semana! Hanucá está aí! Para mim, é a minha festividade favorita. Depois que acendemos as velas, cantamos a canção Maóz Tsur, comemos deliciosos ‘sonhos’, contamos histórias,fazemos perguntas sobre Hanucá – tudo à luz das velas de Hanucá. As nossas memórias são criadas a

partir de uma colectânea de momentos preciosos.

Ouvi a seguinte história, verídica, alguns anos atrás, quando morava em Israel. Antes da União Soviética permitir a saída de Judeus para Israel, os Judeus costumavam contratar um guia para ‘contrabandeá-los’ para fora da Rússia. Certo ano, em Hanucá, um grupo de Judeus estava a ‘brincar ao gato e rato’ com uma patrulha do exército soviético, quando se aproximaram da fronteira. O guia, achando que já tinham despistado a patrulha, anunciou um descanso de meia hora antes de continuarem a sua jornada. Um dos fugitivos, ouvindo o número mágico de meia hora, o tempo mínimo que as velas de Hanucá devem permanecer acesas para se cumprir a mitsvá, pegou na sua menorá, colocou as velas, fez as bênçãos e começou a acender os pavios. Imediatamente os outros fugitivos pularam sobre ele e a menorá, para apagar as velas, quando a patrulha soviética apareceu e os cercou.

O comandante da patrulha falou: “Nós já estávamos para abrir fogo e matá-los quando vi este homem acendendo as velas de Hanucá. Fui dominado por uma tremenda emoção. Lembrei-me do meu zeide (avô) acendendo as velas de Hanucá ... Decidi deixá-los ir embora em paz.”

Hanucá começa quarta-feira à noite, 05 de dezembro. As velas devem ser acesas após o pôr do sol. (A propósito, o rapaz não deveria ter posto as suas vidas em perigo ao acender as velas.)

O que é Hanucá e como o celebramos ?

Existem duas maneiras pelas quais os nossos inimigos tentaram nos destruir durante a história. A primeira foi através da aniquilação física, sendo a última tentativa o Holocausto. A segunda foi através da assimilação cultural. Purim é a celebração anual da nossa sobrevivência física. Hanucá é a celebração anual da nossa sobrevivência espiritual, apesar das inúmeras tentativas de nos destruir através da assimilação cultural.

Em 167 A.E.C., o imperador greco-sírio Antióhus resolveu destruir o Judaísmo banindo três mitsvót: O Shabat, a Santificação do Novo Mês (estabelece-se o primeiro dia do mês pelo testemunho de duas pessoas que viram o nascer da lua nova) e o Brit Milá (a entrada dos meninos no Pacto de Avraham, através da circuncisão). O Shabat significa que D’us é o Criador e o Mantenedor do Universo, que a Sua Torá é o ‘mapa’ da criação, contendo os seus significados e valores. Santificar o Novo Mês serve para determinar a data dos Feriados Judaicos. Sem isto seria o caos. Por exemplo, Sucót cai no 15º dia

de Tishrei. O dia em que isto ocorrerá depende da declaração do primeiro dia de Tishrei. Brit Milá é o símbolo do nosso pacto especial com o Todo Poderoso. Todos os três mantêm a nossa integridade cultural e eram, portanto, uma ameaça à Cultura Grega. Matitiáhu e os seus 5 filhos, conhecidos como os Macabeus, iniciaram a revolta e, três anos depois, conseguiram expulsar os opressores de Israel. A vitória foi um milagre (proporcionalmente, seria como

se Israel vencesse todas as superpotências mundiais de hoje, juntas). Tendo conseguido recuperar o controle do Templo Sagrado, em Jerusalém, desejaram colocá-lo em funcionamento imediatamente.Precisavam de azeite de oliva, ritualmente puro, para reacender a Grande Menorá do Templo. Porém, somente um frasco de azeite foi encontrado intacto, suficiente para queimar por apenas um dia, sendo que precisavam de uma quantidade que durasse oito dias, até que o novo azeite, ritualmente puro, pudesse ser produzido. Um milagre ocorreu e aquele azeite, suficiente para um só dia, ardeu por 8 dias. Daí acendermos velas de Hanucá (ou, melhor ainda, recipientes com azeite de oliva) por oito dias. Um no 1º dia, dois no 2º, e assim por diante. A primeira vela é colocada no lado direito da hanukiá (ou menorá) e, a cada dia, uma nova vela é acrescentada imediatamente à sua esquerda.

Na primeira noite recitamos três berachót (bênçãos) e duas nas noites subseqüentes. Acendemos a vela sempre a partir do lado esquerdo (a vela do dia), seguindo em direcção ao lado direito da hanukiá. A hanukiá deve ter todos seus ‘braços’ alinhados e na mesma altura. A tradição Ashkenazi é que cada homem acima de 13 anos acenda sua própria hanukiá, enquanto a tradição Sefaradi é acender uma única hanukiá por toda a família. As bênçãos podem ser encontradas no Sidur, o livro de preces. Mesmo sendo permitido acender as velas dentro de casa, é preferível acendê-las onde os passantes da rua possam ver suas chamas, para divulgar o milagre de Hanucá. Em Israel, muitas pessoas acendem as velas do lado de fora das casas, em caixas de vidro ventiladas feitas para se colocar a hanukiá. A tradição de comer látkes, panquecas de batata, é para recordarmos o milagre do óleo (látkes são fritas em óleo). Em Israel, a tradição é comer sufganiót, sonhos recheados com geléia. O dreidel, um pião com quatro lados, tendo as letras hebraicas Nún, Gímel, Hêi e Shín (as primeiras letras de “Nês Gadól Hayá Shám: Um Grande Milagre Aconteceu Lá – em Israel”) é o jogo tradicional. Nos tempos da perseguição, onde estudar Torá era proibido, os Judeus estudavam escondidos e, quando os soldados gregos vinham investigar, rodavam o dreidel e fingiam estar apostando. As regras: Nún - ninguém ganhou; Guímel - o que rodou leva tudo; Hêi - o que rodou leva a metade; Shín - o que rodou tem que ‘colocar na mesa’ o equivalente ao que foi apostado. Ganha quem acumular mais fichas no menor tempo !


VELAS PARA SEMPRE - CHÁNUKA 5768 (30 de novembro de 2007)

"Um sobrevivente do Holocausto conta que, enquanto estava em Auschwitz, conheceu um senhor velhinho, muito doce e devoto, chamado Yossi. Yossi estava determinado a não deixar os nazistas apagarem a sua herança e o seu orgulho judaico. Ele insistia em jejuar em Yom Kipur, mesmo que isso significasse não comer a porção diária que os prisioneiros recebiam. Enquanto ele andava pelo Campo de Concentração, fazendo trabalhos forçados, os seus lábios silenciosamente proferiam as palavras do Livro dos Salmos. Yossi media os seus dias pelo número de vezes que ele já havia conseguido terminar todo o Livro dos Salmos. Quando chegou Chánuka, Yossi estava decidido a acender as velas de Chánuka a qualquer custo. Ele conseguiu um pouco de óleo vegetal com um dos soldados, em troca de suas botas de inverno, acendeu a sua vela caseira, fez as Brachot (Bençãos) do acendimento, e o seu rosto se iluminou, refletindo o brilho da vela. Alguns minutos depois a porta abriu-se violentamente e alguns soldados nazistas entraram no alojamento. Eles exigiram saber quem havia acendido a vela, e ameaçaram matar todos os prisioneiros do alojamento caso eles não revelassem a identidade do "culpado". Embora Yossi já estivesse encurvado pela idade, pelos sofrimentos e pela dor do trabalho incessante, ele encheu o peito de ar, deu um passo para frente e falou, com um brilho especial no rosto: "Fui eu". Imediatamente os assassinos o arrastaram para fora, e o mataram com um tiro na cabeça. Porém, na pressa, eles esqueceram de apagar a vela. E todos os prisioneiros daquele alojamento presenciaram um novo milagre de Chánuka: mesmo com apenas um pouquinho de óleo vegetal, aquela vela brilhou forte durante os 8 dias de Chánuka." Esta não é apenas a história real de um judeu Tzadik (justo) chamado Yossi. Essa é a história do povo judeu.
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Na próxima Terça-feira de noite, dia 04 de dezembro, acendemos a primeira vela de Chánuka, iniciando os oito dias em que revivemos uma época de milagres e intervenção Divina. Foram 2 milagres que aconteceram nos dias de Chánuka: a Menorá do Beit-Hamikdash, que tinha óleo suficiente para permanecer acesa por apenas um dia, ardeu por oito dias; e o povo judeu, um povo pequeno e desarmado, conseguiu vencer a batalha contra os gregos, o maior Império da época, e expulsá-los de Israel. A vitória na batalha contra os gregos não foi apenas a salvação da nossa vida física, foi a salvação da nossa vida espiritual e a continuidade do judaísmo. Os gregos, com a sua cultura helenista, com o seu conceito de "Carpe Diem" (aproveitar o mundo material ao extremo, sem pensar no dia seguinte), conquistaram o mundo inteiro sem lutas. Porém, o povo judeu, baseado nos conceitos espirituais da Torá, rejeitou as idéias gregas. Os gregos então começaram a utilizar a força, e visando nossa destruição espiritual, começaram a proibir o cumprimento de Mitzvót, em especial o Shabat, o Brit-Milá e o Kidush HaChodesh (Santificação do novo mês, através da observação da lua, quando esta se renova e recomeça a brilhar). Entende-se que os gregos tenham tentado apagar o Shabat, que é um sinal de conexão ente o povo judeu e D'us, e também o Brit-Milá, que é o nosso pacto com o Criador do mundo desde o momento em que a criança nasce. Mas por que os gregos quiseram arrancar a mitzvá de Kidush Hachodesh, o que isto os encomodava? E mais interessante ainda, a primeira Mitzvá entregue ao povo judeu foi justamente a Mitzvá de Kidush Hachodesh, ressaltando ainda mais o fato de que esta Mitzvá é muito importante. Qual a mensagem espiritual desta Mitzvá, e qual a conexão com a filosofia grega do "Carpe Diem"? A lua tem algo especial, ela desaparece e renasce. Mas se sabemos que a lua não muda, então por que sua forma é diferente de acordo com o dia do mês? Segundo a astronomia, a lua não tem luz própria, ela apenas reflete a luz do sol e, dependendo da interferência que a Terra causa entre o sol e a lua, vemos a lua mais brilhante ou menos brilhante. E há um conceito espiritual profundo escondido neste conceito astronômico. Ensinam nossos sábios que a nossa alma é comparada com a lua, pois a alma não tem luz própria, ela apenas reflete a luz que recebe do Criador, comparado com o sol. Quando a luz chega com toda a intensidade, ela influência sobre o corpo para que tudo esteja bem. Quanto mais luz, mais prosperidade em tudo, mais paz, mais amor, mais tranqüilidade. Ao contrário, se falta luz, ocorrem mais problemas, menos saúde, mais angústia e preocupações. E do que depende se chega mais ou menos luz na alma? Do "planeta Terra", isto é, da influência do mundo material. O nosso corpo, os nossos desejos físicos, influenciam e interferem na luz que chega na alma. Quanto maior a interferência, maior a escuridão espiritual. A Mitzvá de Kidush Hachodesh ensina que o povo judeu tem, através dos ensinamentos da Torá, a capacidade de iluminar sua alma, tirando a influência do seu corpo material. Não cortando completamente os prazeres, mas sim sabendo direcionar a utilização do mundo material e seus prazeres para um propósito espiritual. É isso que incomodava tanto os gregos, que pregavam justamente o contrário, viver a vida apenas pelo materialismo e pelos prazeres imediatos. Qual a conseqüência do materialismo excessivo, da busca incansável de bens e prazeres? Explica o Rav Chaim Vital, um grande Kabalista, que o ser humano é formado por quatro elementos: fogo, terra, água e ar. A tristeza e a preguiça vêm quando a parte "terra", que é a parte material pesada, predomina sobre o ser humano. Isso obscurece a luz da alma, e causa a doença do século: a angústia existencial, uma angústia inexplicável, que não encontramos motivos. Isso leva ao elevado índice de pessoas com depressão, inclusive adolescentes. O judaísmo ensina que a cura desta angústia está em procurar em que ponto nos afundamos no materialismo. Quanto mais claridade tivermos de que a essência é a alma, e o corpo é apenas secundário, como uma roupa, mais poderemos buscar os prazeres verdadeiros, investindo mais em experiências espirituais como o Shabat, que preenchem o que as pessoas estão buscando, ao invés de dedicar todo o nosso tempo no "Carpe Diem", que no final não nos leva a nada.

Rav. Efraim Birbojm