30.11.07

Porção Semanal: Vayêshev


Bereshit 37:1 - 40:23

A Parashá Vayêshev inicia descrevendo o grande amor de Yaacov (Jacó) pelo seu filho Yossef (José), o que provoca o ódio dos outros irmãos. O ciúme deles cresce quando Yossef lhes conta os dois sonhos que indicam que eles serão um dia subservientes a ele.

Yaacov envia Yossef para vigiar os seus irmãos que estão a guardar o rebanho longe de casa, e ao vê-lo se aproximar, planeiam matá-lo. Reuven (Rubens) convence os irmãos a não matarem Yossef, mas é incapaz de salvá-lo totalmente quando os irmãos vendem Yossef como escravo no Egipto. Após mergulhar o casaco de Yossef em sangue, eles voltam ao pai, que acredita que o seu amado filho foi destroçado por um animal selvagem. A Torá faz uma digressão para relatar a história de Yehudá e a sua nora, Tamar.

A narrativa volta-se então para Yossef no Egipto, onde se torna um escravo que obtém sucesso e é encarregado dos negócios da família do seu amo Potifar. A esposa de Potifar tenta por diversas vezes seduzir Yossef, e quando ele recusa os seus avanços, ela grita dizendo que ele tentou violentá-la.

Yossef é jogado na prisão onde novamente é alçado a uma posição de liderança, desta vez ficando encarregado dos prisioneiros. Dez anos depois, o mordomo chefe do faraó e o padeiro são jogados na mesma prisão. Certa noite eles têm um sonho intrigante, que Yossef interpreta de forma acurada, e a porção conclui quando o mordomo retorna ao seu cargo antigo e o padeiro é executado, como Yossef havia predito.

Mensagem da Parashá

O facto que precipitou os últimos eventos na porção da Torá desta semana é a queixa que os irmãos tinham devido ao favoritismo que Yaacov demonstrava para com Yossef. Os sábios do Talmud extraem deste incidente que a pessoa nunca deve tratar um dos filhos de maneira especial. Embora Yaacov desse apenas o valor de duas moedas a mais de seda (o casaco especial) a Yossef que aos outros filhos, os irmãos de Yossef tornaram-se invejosos e o venderam como escravo. A conseqüência mais importante deste acto, enfatizam os sábios, foi o exílio dos nossos antepassados no Egipto.

A Torá descreve Yossef como sendo um "ben zecunim" para Yaacov, que literalmente significa filho de um pai idoso. Onkelos, entretanto, interpreta este termo como "filho sábio", ao passo que Rashi acrescenta que Yossef era o aluno mais estudioso de Yaacov, e que o notável sábio ensinou ao filho tudo que havia aprendido. Rabi Samson Raphael Hirsch explica, no mesmo teor, que o casaco era um símbolo da transmissão da sabedoria de pai para filho, e isso era o que fazia Yossef especial.

Yaacov via Yossef como uma continuação na linhagem dos Patriarcas que começou com Avraham. Havia um problema essencial em destacar Yossef. Os seus irmãos não zombavam da sabedoria do pai, como fez Esav (Esaú) com Yitschac (Isaac) e Yishmael (Ismael) com Avraham (Abraão). Os irmãos nada mais queriam além de ser uma parte na corrente de tradição e colher as recompensas pela sabedoria do pai. Percebendo que Yaacov não havia lhes transmitido a atenção que sentiam merecer, odiaram Yossef. Os irmãos sentiram que Yossef e o seu casaco eram ambos sinais da inferioridade deles.

A inveja impediu-os de se comunicarem com Yossef. Quando atiraram Yossef no fosso, referiram-se ao irmão usando o pronome "ele" numerosas vezes, jamais chamando Yossef pelo nome. Cobiçaram tanto o amor do pai que viam Yossef como um mero "ele", disponível para ser deitado fora, se necessário fosse. Apenas Yehudá se levanta e chama Yossef de "achenu - nosso irmão".

Apenas com o reconhecimento do vínculo familiar, que implicitamente inclui responsabilidade e uma forma de posse (nosso irmão), os irmãos comportam-se mais civilizadamente para com Yossef.

Claramente, a Torá mostra que as conseqüências do favoritismo dos pais podem ser desastrosas, e que é importante que os pais reconheçam as boas qualidades de todos os filhos, mesmo se um deles é especialmente exemplar.

Da mesma forma, apenas quando nos lembramos de que os outros são "nossos irmãos", iremos comportar-nos de uma maneira que sobrepuje a inveja e a ira.

Pequenas coisas da vida

Rabi Reuven Stein

Na porção da Torá desta semana lemos sobre a horrível adversidade enfrentada por Yossef.
Primeiro os seus irmãos quiseram matá-lo, e depois foi vendido como escravo. Assim que a sua situação começou a melhorar, foi atirado para a prisão onde permaneceu por doze longos anos. O que deu a Yossef a paciência de perseverar e superar os tremendos obstáculos que enfrentou durante toda a vida?

Talvez esta força de suportar tantas provações tenha vindo do ponto de vista de sua mãe Rachel sobre a vida, como fica claro pela declaração que ela fez quando ele nasceu: "D’us levou para longe a minha desgraça" (Bereshit 30:23).

Rashi explica que um aspecto da sua desgraça era que, não tendo filhos, as pessoas pensariam que tudo que saísse errado na casa era sua culpa. Assim que nasce uma criança, os acidentes podem ser atribuídos a ela.

À primeira vista, esta poderia parecer uma estranha preocupação para Rachel ter. Rabi Chaim Shmulevitz explica que Rachel reconhecia a importância de toda pequena bênção na sua vida, e por isso pôde agradecer a D’us por tudo que lhe aconteceu. Rachel estava tão agradecida quando finalmente teve um filho que pôde apreciar todos os benefícios, mesmo o mais simples detalhes que, com uma criança na casa, ela não receberia toda a culpa pelos acidentes que ocorressem. Rachel passou este atributo a Yossef, dando-lhe a habilidade especial de ver e apreciar as menores coisas. Concentrando-se nas pequenas bênçãos na sua vida, Yossef pôde lidar com a adversidade e superá-la.

Encontramos o primeiro exemplo de uma bênção incidental no meio à sua angústia quando Yossef foi vendido como escravo. Rashi enfatiza que, enquanto a maioria das caravanas da época tinham cargas mal-cheirosas, D’us enviou a Yossef um pequeno lembrete, de que Ele estava a seu lado, arranjando para a caravana de Yossef carregar fragrantes especiarias e perfumes (ibid. 37:25), tornando esta horrível experiência um pouco mais suportável.

Um outro exemplo ocorre quando Yossef é acusado de estuprar a mulher de Potifar, manchando a sua reputação e tornando-o objecto de conversas caluniosas por todo o Egipto. D’us fez com que outro escândalo chamasse a atenção, a expulsão de dois dos oficiais do faraó, o mordomo chefe e o padeiro, para desviar a discussão do assunto Yossef. Este sinal deu a Yossef a coragem de suportar o seu demorado sofrimento na prisão.

Sabemos também que durante o seu período de escravidão e de cárcere, por pior que fosse, D’us sempre permaneceu com ele, ajudando-o a encontrar um certo favor aos olhos de outras pessoas, o que lhe permitiu galgar posições de proeminência.

Assim também ocorre na nossa vida: quando no meio de situações muito adversas, podemos usar a lição de Yossef para encontrar um lado positivo em tudo aquilo que acontece. Desta maneira, teremos um maior reconhecimento de que D’us está connosco e estaremos mais bem equipados para superar as situações difíceis da vida.

SHABAT SHALOM