3.11.07

"O CRIME NÃO COMPENSA"

Explicam os nossos sábios que a Torá é tão precisa nas suas palavras, que até mesmo uma letra pode conter muitos ensinamentos. Um exemplo está na Parashá desta semana, Chaiei Sara, que começa por descrever a morte de Sara aos 127 anos. Avraham imediatamente começou a procurar um lugar para enterrar a sua esposa, e escolheu a "Mearat Hamachpela", uma caverna onde estavam enterrados Adam e Chava (Adão e Eva), e cujo proprietário era Efron, do povo de Het. A Torá descreve-nos um pouco da personalidade de Efron, uma pessoa cínica, materialista e oportunista. Num primeiro momento, para parecer uma boa pessoa aos olhos dos outros, ele ofereceu a Mearat Hamachpela de graça a Avraham, que recusou. Depois disso, vendo o quanto Avraham estava realmente interessado naquela caverna, cobrando 400 moedas de prata, um preço muito caro e injusto. Avraham, que entendia o valor espiritual daquela caverna, não discutiu o preço e pagou imediatamente. Mas há um detalhe interessante na forma como a Torá escreve o nome de Efron. Por diversas vezes está escrito Efron com a letra "Vav", com excessão do último versículo que fala sobre a venda, "...e pesou Avraham para Efron a prata que havia falado na presença do povo de Het, quatrocentos siclos de prata, em moeda corrente entre os mercadores" (Bereishit 23:16), onde o nome Efron está escrito sem o "Vav". Porque esta diferença, isto é, porque Efron "perdeu" uma letra do seu nome? Explica o Chafetz Chaim que aquele que rouba é um Rashá (malvado) e um tolo. Entendemos que a pessoa seja Rashá, pois está desrespeitando as ordens de D'us, que nos ensinou explicitamente "Não roubarás". Mas porque tolo? Pois a pessoa que rouba pensa que está ganhando algo, quando na verdade está perdendo. E isso não somente em aspectos espirituais, também em aspectos materiais. Todo o dinheiro que a pessoa receberá durante o ano já foi decretado em Rosh Hashaná, e portanto a pessoa que rouba apenas diminui os seus méritos espirituais, recebendo menos ainda do que já havia sido decretado. E é isso que aprendemos na Parashá da semana. Há um Midrash (parte da Torá oral) que nos ensina que enquanto Avraham contava o dinheiro, Efron permaneceu ao lado da balança, e durante todo o tempo mudou os pesos para roubar Avraham e receber mais dinheiro. Por isso a Torá retirou o último "vav" do nome de Efron, para nos ensinar que não apenas ele não ganhou nada, mas sim, perdeu. Não existe nada que passe desapercebido do controle de D'us, e portanto uma pessoa não pode tirar algo de outra pessoa sem isto estar decretado nos Céus. Mas como isso funciona na prática? Vemos que quando uma pessoa rouba, ela fica com o dinheiro do roubo, e a outra pessoa perde. Como então a Torá nos ensina que quem roubou não ganha e quem foi roubado não perde? D'us é perfeito na Sua justiça, e o faz de forma oculta, para não diminuir a nossa livre escolha. Na forma de pequenos prejuízos, a pessoa vai perdendo, sem perceber, tudo o que ganhou desonestamente. É o carro que se avaria, a geleira que estraga, a infecção que precisa de um antibiótico caro, a cano de água que arrebenta, etc. E por outro lado a pessoa que foi roubada também recebe tudo de volta, quando o seu carro passa a consumir menos combustível ou as roupas dos filhos não estragam. Nos final a justiça perfeita sempre se cumpre, mas de forma a nos deixar a livre escolha de sermos honestos ou desonestos. Todos somos contra o roubo e o engano, e sempre gritamos contra as injustiças. Criticamos os políticos que desviam dinheiro e desprezamos juízes que recebem suborno para mudar um julgamento. Porém, será que nós realmente somos tão justos e honestos quanto pensamos? Quantos de nós nunca levou uma "lembrancinha" do Hotel, para guardar para sempre na memória aquelas férias inesquecíveis? Quantos de nós nunca furou uma fila de cinema, ao encontrar amigos na fila, passando na frente de várias pessoas que já estavam há mais tempo? Quantos de nós nunca passou horas na Internet ou no telefone no dia em que o chefe não estava no escritório?

Portanto, antes de procurar erros nos outros, lembre-se, de que ao apontarmos o dedo a alguém, 3 dedos ficam apontados para nós mesmos.

Rav. Efraim Birbojm