Porção Semanal: Ki Tetsê
Bereshit 47:28 - 49:26
Ki Tetsê (Devarim 21:10 - 25:19) começa discutindo o caso de uma mulher quando capturada por um soldado judeu durante uma batalha. No resto da porção semanal, a Torá continua com uma lista de várias mitsvot cobrindo vasta gama de tópicos. Relata então os direitos especiais da herança do primogénito, o caso do filho teimoso, a importância de respeitar-se a propriedade de outras pessoas, a obrigação de afastar a ave mãe do ninho antes de pegar os seus filhotes, e que não se deve vestir shatnez, mescla de lã e linho na mesma peça de roupa.
O caso da difamação da mulher casada é então discutido, seguido pela proibição de adultério e outros casamentos proibidos, bem como a ordem de manter o acampamento do exército como local santificado. Após mencionar brevemente o divórcio e o requerimento de um get (carta de divórcio), a Torá discute o sequestro, a mitsvá de pagar os trabalhadores no tempo apropriado, e o conceito da responsabilidade do indivíduo pelas suas próprias acções. A Torá descreve então a consideração especial que deve ser dada a um órfão e a uma viúva, o casamento levirato e a mitsvá de ser honesto nos negócios. Esta Porção da Torá conclui com uma exortação para recordar as atrocidades que a nação de Amalek cometeu contra nós após o Êxodo.
Mensagem da Parashá
Prisioneiro de guerra
por Yoel Spotts
À primeira vista, a secção registada no início da porção desta semana da Torá a respeito de eshet y'fat to'ar parece inteiramente fora de carácter com a mensagem geral da Torá. Durante todos os cinco livros de Moshê lemos sobre as leis enfatizando a restrição e auto-disciplina, responsabilidade e controle. Mesmo assim, na porção desta semana da Torá descobrimos o caso de eshet y'fat to'ar, quando um soldado, em tempo de guerra, tem permissão de abandonar aqueles ideais elevados e render-se aos seus desejos.
Que mensagem a Torá está a tentar transmitir, quando aparentemente permite que soldados judeus apoderem-se de mulheres cativas à vontade, sem dar importância alguma ao auto-controle?
Entretanto, antes que façamos um julgamento apressado, devemos primeiro examinar mais cuidadosamente os versículos que relacionam a atitude prescrita, pois o consentimento da Torá a esse encontro com uma mulher prisioneira não representa nem metade da história.
Em Devarim 21:12, aprendemos que logo após o seu encontro inicial, a mulher deve rapar o seu cabelo e deixar crescer as unhas, certamente uma visão nada atraente. O versículo 13 explica ainda que ela deve chorar incessantemente pelos seus pais mortos, durante trinta dias, tudo isso à vista de seu captor. Apenas após este mês de luto eles poderão iniciar um relacionamento normal como marido e mulher. Certamente após esta exibição, quase qualquer homem se tornaria rapidamente desinteressado pela mulher que, apenas pouco tempo atrás, tanto estimulara o seu interesse.
Na verdade a Torá, esperando tal reação, prescreve a acção correcta que fará com que o homem não mais deseje esta mulher como esposa. Obviamente, a aparente sanção da Torá a tal comportamento não é bem precisa; claramente, existe aqui uma mensagem mais profunda. Consideremos por um momento a provação do soldado em tempo de guerra. Afastado da esposa e da família por meses intermináveis, está sujeito às duras condições do brutal confronto. Se isso não fosse suficiente, deve ainda suportar as tentações da mulher não-judia que passou a desfilar em frente aos soldados da forma mais sedutora possível, a fim de distrair a sua atenção da batalha. (De facto, por este motivo a Torá exige que a mulher "raptada" troque as suas roupas de guerra antes de entrar na casa do soldado.) O soldado judeu nesta situação poderá ver-se incapaz de controlar as suas emoções, e conseqüentemente ficar seduzido pelas armadilhas desta mulher.
O que deve acontecer com este soldado – ser condenado eternamente pelo seu crime? O Judaísmo diz que não. D'us criou o homem como um ser físico num mundo físico, com desejos físicos. É claro que a missão do homem nesta terra é superar a sua má inclinação, que o leva a agir segundo estes desejos. Entretanto, não se pode esperar que a pessoa domine as suas emoções do dia para a noite. É uma batalha para a vida toda. Dessa maneira, a Torá aceita que a pessoa possa ver-se incapaz de resistir aos apelos do pecado. Apesar disso, não deve permitir-se permanecer neste estado de depravação. Embora tenha falhado desta vez, deve tomar as precauções para ter sucesso na próxima. Dessa maneira, o soldado deve rapar a cabeça da mulher, permitir que suas unhas cresçam, abster-se de ter relações com ela, fazer tudo para tornar a mulher desprezível. Afortunadamente, quando trinta dias se passarem, o seu desejo pela mulher também terá passado.
Embora muitos de nós jamais tenhamos nos defrontado com estas mesmas circunstâncias que o soldado judeu descrito na porção desta semana da Torá, mesmo assim temos que suportar a nossa própria cota de tentações. Não se espera que a pessoa consiga derrotar os seus desejos todas as vezes. O Rei Salomão declarou isso há muito tempo, quando disse: "Não existe homem que seja tão correcto na terra que sempre faça o bem e jamais peque" (Cohêlet 7:20).
Todos em alguma ocasião sucumbem pelos seus desejos. A verdadeira questão é: O que acontece depois? A pessoa renderá-se-á às suas fraquezas, resignando-se à noção de que o homem não tem esperança na sua guerra contra a má inclinação e que tudo está perdido? Ou se reerguerá com uma nova determinação, acreditando que embora possa ter perdido a batalha, ainda pode vencer a guerra?
Aprenderá realmente com os seus erros, e tomará as devidas precauções para assegurar futuras vitórias?
A maneira pela qual alguém responde a estas perguntas determina se ele se permitirá ser refém das suas emoções, ou se será capaz de libertar-se das amarras da má inclinação. Com o mandamento de eshet y'fat to'ar, a Torá forneceu-nos uma receita para tratar eficazmente o síndrome de pós-pecado.
Agora cabe a nós tomar correctamente o remédio.
SHABAT SHALOM
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