30.8.07

Porção Semanal: Ki Tavó



Bereshit 47:28 - 49:26

Parashat Ki Tavo (Devarim 26:1 - 29:8) inicia descrevendo a mitsvá anual aos fazendeiros de Israel para que trouxessem os seus bicurim, primeiros frutos, ao cohen no Templo, quando então o fazendeiro reconhece o importante papel de D’us na provisão do seu sustento.
Após novamente exortar o povo judeu a permanecer fiel a D’us, que os elegeu especificamente como Seu povo escolhido dentre todas as nações do mundo, Moshê ensina duas mitsvot especiais que eles deverão cumprir ao entrar na Terra de Israel para reafirmar o seu compromisso com a Torá. Primeiro deverão escrever toda a Torá em doze grandes pedras, e então deverão recitar bênçãos e maldições no vale entre Monte Gerizim e Monte Eival, as quais se aplicarão respectivamente àqueles que cumprem e àqueles que afrontam a Torá. Seguindo-se uma recontagem das maravilhosas bênçãos que D’us concederá ao povo judeu por permanecer fiel, Moshê faz uma assustadora profecia do que se abaterá sobre o povo judeu por não cumprir a Torá. Conhecido como admoestação, Moshê descreve com detalhes a horrível destruição que infelizmente acontecerá quando nos desviarmos das mitsvot.
A Porção da Torá conclui quando Moshê contempla em retrospecto os maravilhosos milagres que D’us realizou pelos quarenta anos anteriores, lembrando o povo da enorme dívida de gratidão que tem para com D’us pelo Seu carinhoso amor.

Mensagem da Parashá

Tudo no coração
por Kevin Rodbell

O único breve toque do seu relógio digital anunciando a hora, 4:30 da tarde, assustou e acordou Jon do seu devaneio. O copo de coca-cola escorregou da bandeja e caiu no chão. Espatifou-se contra os ladrilhos brancos e pretos, espalhando vidro em todas as direcções. O líquido escuro correu rapidamente sobre onze azulejos, formando uma poça escorregadia de refrigerante próximo à mesa onde Jon estava a servir. "Desculpe-me, senhor, sinto muito – não sei onde estava com a cabeça."
Na verdade, Jon não estava concentrado em equilibrar a bandeja. É claro que, enquanto o seu rosto enrubescia, concentrou-se totalmente na situação do momento. O seu emprego de verão como empregado de mesa começava às 9 da manhã e terminava às 5 da tarde. Geralmente, às 4h30, já estava ansioso para sair; hoje não era uma excepção. Embora as suas mãos, olhos e ouvidos estivessem ocupados servindo suculentos hamburgers, batatas fritas engorduradas e refrigerantes gelados, a mente de Jon estava constantemente vagueando até ao jogo de futebol que aconteceria naquela noite. O passatempo favorito de Jon. Gostava tanto do entusiasmo e camaradagem que visões de correr atrás de bolas altas enchiam a sua mente sem cessar. Jon concentrava-se nos lances do desporto, ao invés de servir refeições. Hoje ele enfrentava as consequências com um esfregão, em vez de assistir ao jogo da sua equipa preferida.
Todos conhecem o sentimento "a minha mente está noutro lugar". Algumas coisas que consideramos mais importantes – seja pagar a conta de luz ou tirar umas merecidas férias – tendem a desviar a nossa atenção do equilíbrio da bandeja ou seja o que for que estejamos a fazer. Em vez disso, as pessoas podem passar a maior parte do dia a realizar tarefas necessárias que não são de primordial importância, como fica evidente quando devaneiam sobre outros assuntos. Jon, por exemplo, passa dois terços do tempo no restaurante, mas a sua principal ocupação em termos de horas não indica o verdadeiro interesse do seu coração.
Da mesma forma, muitos judeus passam longas horas no trabalho, mas esta alocação de tempo dos profissionais judeus não reflecte o que deveria ser a sua suprema aspiração na vida, a aspiração que expressamos duas vezes ao dia quando lemos o Shemá. "Amarás D’us com todo o teu coração..." Apesar de passarmos muito tempo a realizar actividades aparentemente mundanas, o coração de um judeu na verdade anseia por crescer na Torá e construir um relacionamento com o seu Criador.
Rabi Moshê Feinstein destaca este conceito numa declaração intrigante que Moshê faz ao povo judeu na porção desta semana da Torá: "Vocês viram tudo o que D’us fez perante os vossos olhos na terra do Egipto…as grandes provas que os vossos olhos viram, aqueles sinais, e grandes maravilhas. Porém o Eterno não lhes deu um coração para conhecer as bondades de D’us, e e olhos para ver, e ouvidos para ouvir, até aos dias de hoje" (Devarim 29:1-3).
Os judeus reclamaram em dez ocasiões diferentes sobre as condições inóspitas do deserto no qual D’us os colocara, mas jamais reconheceram todos os grandes milagres que D’us realizou para eles no Egipto e no deserto durante os quarenta anos. D’us provou constantemente a Sua dedicação aos Filhos de Israel, mas eles sempre responderam com rebelião e dissensão. Finalmente, naquele dia, ao final da sua jornada pelo deserto, Moshê percebeu que os judeus eram definitivamente dedicados a D’us.
Um acontecimento em particular alterou a opinião de Moshê sobre o povo judeu. No final da sua vida, Moshê copiou toda a Torá e tentou dar o rolo à família de Levi; eles, mais que qualquer outra tribo, deviam dedicar a vida a estudar e ensinar o precioso livro de D’us ao povo judeu. Rashi relata que o restante do povo judeu reuniu-se e disse a Moshê que eles também tinham estado presentes no Monte Sinai quando D’us outorgou a Torá. Eles afirmaram que presentear este rolo especial da Torá aos Levitas poderia algum dia fazê-los dizer que a Torá fora dada exclusivamente a eles.
Rabi Moshê Feinstein explica que, na verdade, a família de levi jamais faria reivindicação tão audaciosa; é claro que a Torá completa, mesmo as leis especificamente aplicadas aos levitas, foram dadas a todo o povo judeu. Ao contrário, as outras tribos suspeitaram de algo mais subtil. Os não-levitas, que deviam passar longas horas no trabalho para ganhar o sustento, temiam que os levitas, que tinham a oportunidade de passar o dia inteiro mergulhados na Torá, exigiriam exclusividade nas áreas de ensinamento da Torá, e na resolução de complicados problemas da Lei Judaica. Os não-levitas desejavam assegurar um lugar para si mesmos entre os especialistas em Torá.
Ao exigir um papel activo na perpetuação da Torá, o povo judeu mostrou o que ia no seu coração, e reassegurou a Moshê que tinham as correctas prioridades. Ter uma renda é certamente uma necessidade, mas não importa quanto esforço devotem a outras actividades, os judeus devem lembrar-se de que a Torá e o relacionamento com D’us permanecem sendo o nosso verdadeiro objectivo de vida.

SHABAT SHALOM