6.8.07

Cremar ou não cremar ???

Há algum tempo atrás me foi pedido para conversar com uma mulher sobre a possibilidade do seu irmão, a pouco falecido, ser cremado. Ele não havia deixado testamento. A mulher não via o seu irmão há 15 anos e não estava inclinada a gastar dinheiro com o enterro. Ela imaginou que se o cremassem, não só iria economizar algum dinheiro, mas também poderia colocar as cinzas num nicho no cemitério e assim visitar o irmão de tempos em tempos. O último pedido do irmão foi ter um enterro Judaico e o serviço funerário Judaico da cidade onde ele morreu estava disposto a cobrir todas as despesas do enterro. Mas não tive sucesso. Na verdade, fiz o máximo possível, mas a decisão a ser tomada não era minha. Galileu certa vez disse: Você não pode resolver nada por uma pessoa. Você pode apenas ajudá-la a descobrir o caminho por si só. Se D’us quiser, poderá ajudar alguém a enterrar os seus entes queridos adequadamente.

Por que não Cremar os Entes Queridos que Faleceram ?

Pela perspectiva da Torá, a vida é uma dádiva de D’us. Nós fomos criados com um corpo e uma alma. A essência é a alma. O corpo é um recipiente emprestado pelo Todo-Poderoso para abrigar a alma. Como todos os objectos que emprestamos, devemos cuidar do corpo da melhor forma possível e, no final, devolvê-lo ao seu Dono de acordo com as Suas instruções. O Todo-Poderoso falou a Adão, o primeiro homem: “Do pó você veio e para ele retornará” (Bereshit 3:19). No livro Devarim (21:23), D’us fala: “Vocês precisam enterrá-lo”. O enterro Judaico honra o corpo e o trata com respeito. O corpo é velado, lavado com afeição e vestido com uma mortalha branca simples. O caixão é de madeira. Tudo isto é um reconhecimento de que a morte faz parte da vida e que a decomposição do corpo não deve ser nem apressada nem lenta. Depois do Holocausto que sofremos, é impensável que um Judeu possa pedir para ser cremado ou concordar que um outro Judeu o seja. Eu vejo Hitler, que o seu nome e sua memória sejam eliminados, a rir-se de alegria e dizendo: “Aquilo que não tive sucesso em causar aos Judeus, agora eles o fazem por si próprios”. Muitos pensam que a cremação é anti-séptica e salutar: Num momento, um corpo, no momento seguinte, uma urna selada contendo cinzas fininhas. Na realidade, pense nos odores na sua própria cozinha, quando deixa uma carne por muito tempo no forno. Aí, então ... trazem um triturador para garantir que os ossos que não foram reduzidos a cinzas vão caber dentro da urna. Que diferença isto faz para a alma? Os cabalistas (místicos) explicam sobre a confusão que uma alma sofre ao se separar do corpo onde passou os seus dias na Terra. Inicialmente, a alma paira sobre o corpo. Depois do enterro, paira sobre o seu antigo lugar de residência, antes de partir (este é o motivo pelo qual fazemos Shivá - uma semana de luto - no local onde o falecido viveu). O que a alma do falecido experimentará, quando o seu antigo corpo for colocado no crematório, ao assistir as chamas queimando-o? Se a pessoa acredita em D’us e na Vida Após a Vida, permitir que cremem a si ou a outro ente querido com certeza não é algo que se queira ter no seu ‘livro de contabilidade’ espiritual, para depois ter prestar contas a D’us e receber julgamento por esse acto. A Lei Judaica é tão inflexível sobre a cremação, que caso alguém seja cremado, não se observa a semana de Shivá por ele, não se fala Kadish e não se estabelece luto por esta pessoa. De acordo com o livro The Jewish Way in Death and Mourning (O Caminho Judaico na Morte e no Luto): “Aqueles que são cremados são considerados como tendo abandonado todas as Leis Judaicas e, portanto, tendo cedido os seus direitos à honra póstuma”.