Tisha Beav
Uma boa semana! Qual o dia mais triste da vida de uma pessoa? Provavelmente é o dia do falecimento de um parente mais próximo (pai, mãe, irmão, irmã, filho, filha ou cônjuge). E se a pessoa não sente nenhuma tristeza pelo falecimento de seu parente próximo? Então certamente deveria sentir-se triste pela sua falta de apreço e por sua incapacidade de sentir a emoção apropriada.
Dia 23 de julho, segunda-feira, iniciando-se ao pôr do sol, até o anoitecer de terça-feira, é Tishá BeÁv, o 9 dia do mês Judaico de Av. É o dia mais triste do calendário Judaico. O que a pessoa deve fazer se não tem nenhum sentimento em especial por Tishá BeÁv? Se for Judia e se se identifica com o Judaísmo, então lhe cabe descobrir o porquê de nós, como um Povo, estarmos de luto neste dia. O que perdemos nesta data? O que ela
Em 1967, pára-quedistas israelitas capturaram a Cidade Velha de Jerusalém e abriram caminho até ao Muro das Lamentações (Kotel HaMaaravi). Muitos dos soldados religiosos estavam emocionados e encostaram-se no Muro, orando e chorando. Um pouco afastado do Muro estava um soldado não-religioso que também estava a chorar. Os seus colegas perguntaram: “Porque chora?
O que o Muro representa para si?” O soldado respondeu: “Estou a chorar, por não saber porque deveria estar chorando!”
O dia de Tishá BeÁv é observado para lamentarmos a perda dos Templos Sagrados de Jerusalém. Qual foi a grande perda resultante da destruição dos Templos? Foi a perda do sentimento da presença Divina entre nós. O Templo era um local de orações, espiritualidade, santidade e milagres a céu aberto. Era a parte mais importante do Povo Judeu, o ponto focal da identidade Judaica. Três vezes ao ano (Pessach, Shavuót e Sucót) todo Judeu ascendia ao Templo. A sua presença permeava todos os aspectos da vida Judaica: o planeamento do ano, o lado para onde a pessoa se voltava para rezar, onde recorria por justiça ou para estudar Torá, onde trazia certos dízimos, etc.
Neste mesmo dia, através da História, muitas tragédias aconteceram com o Povo Judeu, incluindo:
1. O incidente com os espiões difamando a Terra de Israel, com o conseqüente decreto para vagarem pelo deserto por 40 anos.
2. A destruição do Primeiro Templo, em Jerusalém, por Nevuchadnétzar, Rei da Babilônia.
3. A destruição do Segundo Templo, em Jerusalém, pelos romanos, no ano 70 E.C.
4. A queda da cidade de Betar e o fim da revolta de Bar Kochvá contra os romanos, 62 anos depois, no ano 132 E. C.
5. Os Judeus da Inglaterra são expulsos em 1290.
6. Iniciam-se as Primeiras Cruzadas. Dezenas de milhares de Judeus são mortos e muitas comunidades completamente destruídas.
7. Os Judeus da Espanha são expulsos em 1492, dando início à Inquisição Espanhola.
8. A Primeira Guerra Mundial irrompeu em Tishá BeÁv de 1914, quando a Rússia declarou guerra contra a Alemanha. O ressentimento alemão após ter sido derrotado criou o palco para o Holocausto.
9. Começou a deportação dos Judeus do Gueto de Varsóvia. Tishá BeÁv é um dia de jejum (com a mesma duração que Yom Kipur: do anoitecer de um dia até o anoitecer do dia seguinte) que culmina e encerra as Três Semanas de luto do Povo Judeu. Neste dia somos proibidos de comer e beber, banhar-nos, usar cremes, loções ou óleos, calçar sapatos de couro ou manter relações conjugais. A idéia é minimizar o prazer e fazer o corpo sentir o desconforto que a alma deveria sentir em relação a tragédias como estas. Como em todos os dias de jejum, o objectivo deste dia é a introspecção, fazendo
Teshuvá é um processo de quatro etapas:
1) Precisamos conscientizar-nos das coisas erradas que fizemos e de nos arrepender de tê-las feito.
2) Precisamos parar de fazer estas transgressões e corrigir quaisquer danos que possamos ter causado.
3) Devemos aceitar sobre nós não repetir o erro novamente.
4) Precisamos, verbalmente, pedir ao Todo-Poderoso que nos desculpe. Na noite de Tishá BeÁv, lemos na sinagoga a Meguilá Eichá (pronuncia-se Eirrá), o livro das Lamentações, escrito pelo profeta Yirmiáhu (Jeremias). Também recitamos as Kinót, poemas especiais recontando as tragédias, que aconteceram com o Povo Judeu durante toda a História. Com o ambiente à meia luz, sentamo-nos em almofadas ou pequenas banquetas em sinal de luto.
O estudo da Torá é o coração, a alma e o sangue do Povo Judeu. É o segredo de nossa sobrevivência.
Estudar leva ao entendimento e o entendimento leva à ação. Uma pessoa não consegue amar aquilo que não entende. Estudar Torá nos dá uma grande satisfação ao nos proporcionar a oportunidade de entendermos as nossas vidas. Em Tishá BeÁv somos proibidos de estudar Torá, com excepção daquelas partes que tratam sobre
Durante toda a nossa História passamos por Holocaustos, Pogroms, Cruzadas e outros massacres. Isto por si só já nos faria despertar a seguinte pergunta: “Por que os nossos ancestrais tão persistentemente insistiram em se manterem Judeus quando, com poucas palavras, poderiam terem-se convertido – excepto durante o Holocausto – e salvo as suas vidas e a dos seus familiares? O que eles sabiam que não sabemos? O que precisamos então saber?”
Repetindo a história que compartilhei com vocês há algumas semanas atrás, o imperador francês Napoleão Bonaparte caminhava pelas ruas de Paris, quando ouviu lamentos e gritos vindos de uma sinagoga.
Querendo saber o motivo, vieram informar-lhe que aquele era o dia de Tishá BeÁv e que os Judeus estavam a chorar pela destruição do seu Templo em Jerusalém. “Como eu não ouvi sobre isto? Quando aconteceu?”, perguntou Napoleão. Quando descobriu que o facto ocorrera há quase 2.000 anos, Napoleão permaneceu em silencio e então falou: “Uma nação que recorda o seu Templo destruído e lamenta tão profundamente e por tanto tempo a sua perda, certamente terá o mérito de o reconstruír novamente!” Que todos nós possamos ter o mérito de que o Grande Templo seja reconstruído rapidamente nos nossos dias!
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