12.10.06

O meu encontro com a Torá

Fui chamado pela primeira vez a uma aliyá da Torá aos trinta e seis anos. Eu estava no Beit Chabad em Milwaukee, Wisconsin, e era um estranho no grupo de participantes regulares que lotavam a sala, excepto por Rabino Yossef Samuels, que me tinha convidado. Eram poucos os passos do meu assento até a mesa de leitura. Mas naquele curto período de tempo fiquei muito ansioso sobre o que se esperava de mim.
Lembrei-me da sinagoga que frequentava esporadicamente quando garoto, onde a Arca ficava em frente de um aposento grande e estéril, e somente os membros mais ricos e mais influentes eram chamados para recitar as bênçãos perante a Torá. Na minha infância, o Judaísmo era formal e distante, repleto de cerimónias que para mim não possuíam significado ou substância. A Torá na sinagoga de minha juventude era algo distante, sem relevância para mim ou para a vida quotidiana da minha família. Jamais, em trinta e seis anos de vida, eu tivera a oportunidade de ver o interior de um Rolo de Torá.Eu não contava ser chamado à Torá nesta manhã de Shabat na Beit Chabad de Milwaukee. Hesitante, aproximei-me do grupo de homens que cercavam a mesa de leitura. Conseguia ver apenas as suas costas envoltas em talitot brancos (xailes de oração). Eu esperava ver rostos sérios e intimidadores espreitando por debaixo do tecido branco puxado sobre a testa deles. Mas quando me aproximei da Torá, saudaram-me com sorrisos calorosos.
Um deles, a pessoa com quem eu falara brevemente antes que as preces começassem, saudou-me com uma palmada gentil no ombro. Os outros estavam a conversar enquanto o leitor encontrava o local para começar. Disseram-me para tocar a Torá com o meu talit e então levar o tecido até os lábios e beijar o local que tinha tocado o pergaminho e as letras. Atrapalhei-me com a transliteração das bênçãos, e depois fiquei ali de pé, nervosamente, enquanto a Torá era lida. Recitei a segunda bênção e fui gentilmente movido até ao lado da mesa de leitura, enquanto umi shebeirach era dito em minha honra. O homem que eu tinha encontrado brevemente pôs o seu braço ao meu redor enquanto isso estava a acontecer, e brincou um pouco comigo enquanto esperávamos começar a próxima leitura.Havia uma atmosfera de informalidade e intimidade com a Torá que me surpreenderam."A Torá não é estranha" – explicou Rabino Samuel. "Vivemos com ela todos os dias."Nos meses e anos que se seguiram, aprendi o quanto a Torá podia se tornar, tanto na vida dos Lubavitchers que passei a conhecer tão bem, quanto na minha. Passei por vários ciclos judaicos anuais, vivendo tempos de reverência e veneração pela Torá, e tempos de familiaridade que beiravam a irreverência. O abraço e a dança com os Rolos Sagrados em Simchat Torá! Quem poderia ter imaginado!Mas assim como eu ficaria íntimo da Torá, assim ela ficaria íntima comigo. Quando comecei a estudar, descobri a relevância da Torá em todas as áreas de minha vida. Conforme os seus significados profundos me eram desvendados através do estudo de ensinamentos chassídicos, descobri que podia voltar-me para a Torá em busca de orientação para qualquer circunstância.
Independentemente do meu humor ou estado de espírito, podia aproximar-me da Torá e encontrá-la esperando por mim. Mesmo em épocas de fúria ou rebelião, a Torá mostrava perdão e liderança. Nos tempos de depressão ou tristeza, eu encontrava esperança e encorajamento. Nas ocasiões de júbilo e celebração, podia encontrar palavras de agradecimentos e louvor Àquele que concede toda a bondade. Não havia um aspecto da minha vida em que a Torá não estivesse presente. Lentamente, penetrava na minha vida interior, na minha carreira, no meu relacionamento com os meus filhos e pais, no meu casamento. Quando fui primeiro apresentado à Torá, senti que estava a conhecer um parente distante que eu sabia existir, mas que jamais encontrara antes. Com o passar dos anos, comecei a sentir que o meu estudo e observância revelavam que a Torá sempre tinha existido dentro de mim. A Torá tornou-se profundamente impregnada na minha vida.Actualmente, quando me apresso na sinagoga para beijar a Torá, é com muita afeição e familiaridade. Quando danço em Simchat Torá com os Rolos Sagrados, as minhas inibições e emoções são libertas pelos l'chayims, fecho os meus olhos e abraço a Torá, girando em círculos, desfrutando uma intimidade física com o suave tecido aveludado e os escritos sagrados que ela envolve.Sem perder o seu lugar como reverenciado mestre e guia, a Torá tem sido minha companheira familiar. Hoje, continuo a maravilhar-me pelo facto de que a mais sagrada das criações de D’us se deixa abraçar por mim.