30.8.06

Para onde vai o Médio Oriente?




















Por Aaron Ram
Embaixador do Estado de Israel em Portugal


Sempre que os cidadãos de Israel correm perigo, o seu governo - tal como o de qualquer outro Estado soberano – deve cumprir o seu dever de os proteger. Enquanto Estado democrático, Israel tenta primeiro conter uma ameaça através da diplomacia. Apenas se não houver alternativa, como no caso da necessidade imperativa de responder a um ataque não provocado contra os seus cidadãos, Israel vê-se forçado a usar a força militar. E, nessa eventualidade, Israel usará apenas a força necessária para obter uma solução diplomática viável.

No dia 12 de Julho, num acto de guerra não provocado, terroristas do Hezbollah lançaram mísseis katiusha sobre várias cidades de Israel infiltrando-se simultaneamente na fronteira com Israel. Numa emboscada a uma patrulha militar israelita, assassinaram oito soldados e raptaram outros dois. Israel viu-se obrigado a responder imediatamente, em legítima defesa, num esforço para travar os actos terroristas contra a população civil.

Desde o dia 12 de Julho até ao cessar-fogo do dia 14 de Agosto, morreram 116 soldados israelitas e 43 civis. Segundo a Polícia de Israel, 3970 rockets do Hezbollah atingiram Israel nesse período, principalmente zonas urbanas densamente populadas. Mais de 1000 rockets atingiram a zona de Kiryat Shmona, 808 caíram perto de Nahariya, 471 perto de Safed, 176 perto de Karmiel, 106 perto de Akko, 93 nos arredores de Haifa e 81 perto de Tiberíades.

Para além das vítimas mortais, milhares de civis foram feridos e hospitalizados em diferentes estados de gravidade. Ainda outros milhares receberam tratamento psicológico por se encontrarem em estado de choque.

Durante o bombardeamento massivo e impiedoso do Hezbollah contra a população civil de Israel, 6000 casas foram destruídas, 300000 residentes deslocados e mais de um milhão de habitantes foi forçado a viver em abrigos durante as hostilidades. Quase um terço do total da população de Israel - mais de dois milhões de pessoas – esteve directamente exposto à ameaça dos mísseis.

Desde a sua criação em 1982, pela Guarda Revolucionária Iraniana, o Hezbollah foi gradualmente tomando conta do Sul do Líbano, tornando esta zona num “Estado dentro de um Estado”. Quer o governo libanês, quer os observadores da UNIFIL aí estacionados nada fizeram para impedir que o Hezbollah recebesse carregamentos massivos do mais moderno armamento proveniente do Irão e da Síria, tais como mísseis de médio e longo alcance, mísseis anti-tanque, entre outros.

Como consequência desta desastrosa falha, os terroristas do Hezbollah – bem equipados, treinados e armados pelo regime de Teerão, atacaram Israel com milhares de mísseis deliberadamente lançados do seio da população civil libanesa e com o claro propósito de atingir a população civil de Israel. Através de uma táctica cínica com o objectivo de denegrir a imagem do Estado de Israel, e à custa de vidas inocentes, os extremistas do Hezbollah usaram civis como escudos humanos causando a morte e a destruição a civis libaneses, com o propósito de promover os interesses não dos libaneses mas sim do Hezbollah e dos iranianos, de quem esta organização recebe instruções.

A recente Resolução de cessar-fogo do Conselho de Segurança da ONU (1701) activamente promovida por Israel durante as hostilidades, foi adoptada no dia 11 de Agosto, pondo termo aos ataques. A Resolução define uma solução concertada para a crise, incluindo a libertação incondicional dos soldados israelitas raptados, o desarmamento do Hezbollah, a retirada do exército libanês até à fronteira com Israel e o estabelecimento de uma nova e robusta UNIFIL destinada a ajudar o Líbano a alargar a sua soberania a todo o território decretando um embargo ao fornecimento de armas aos terroristas do Hezbollah. Agora, com a Resolução em vigor, é da responsabilidade da comunidade internacional assegurar que esta seja de facto implementada. Um falhanço da comunidade internacional neste contexto, condenaria a região a reviver os horrores do mês passado e deitaria por terra a tentativa de uma solução diplomática. O verdadeiro teste será a implementação efectiva da Resolução 1701, nomeadamente assegurar o embargo eficaz ao fornecimento do armamento proveniente da Síria e do Irão, pois não há dúvidas quanto às intenções desse dois países de rearmar o Hezbollah com as mais sofisticadas armas. Ao verificar-se este cenário, tal prejudicaria profundamente as intenções do governo libanês de tornar o Líbano num Estado soberano, livre e democrático. Assim, pretende-se que a UNIFIL coloque os seus efectivos na fronteira sírio-libanesa, nos aeroportos e portos marítimos.

Uma das lições a tirar desta crise é que o mundo enfrenta uma escalada perigosa do extremismo islâmico. Acabámos de testemunhar uma tentativa do regime dissimulado do Irão em usar o seu joguete, o Hezbollah, para envolver o seu amaldiçoado inimigo, Israel, num conflito sangrento no Líbano, com o intuito de desestabilizar o Médio Oriente. Não é por acaso que esta manobra do Irão acontece ao mesmo tempo que tenta desviar as atenções da comunidade internacional da sua campanha para desenvolver armas nucleares. É, inequivocamente, do interesse comum da comunidade internacional agir com veemência contra organizações terroristas e seus Estados patrocinadores, principalmente quando proclamaram publicamente e com orgulho que a sua intenção é lançar a sua “Jihad” (Guerra Santa) contra os “infiéis” do Ocidente começando pela destruição do Estado de Israel.

*Publicado no Jornal Publico