19.9.08

Porção Semanal: Ki Tavó


Bereshit 47:28 - 49:26

Parashat Ki Tavo (Devarim 26:1 - 29:8) inicia descrevendo a mitsvá anual aos fazendeiros de Israel para que trouxessem os seus bicurim, primeiros frutos, ao cohen no Templo, quando então o fazendeiro reconhece o importante papel de D’us na provisão do seu sustento.

Após novamente exortar o povo judeu a permanecer fiel a D’us, que os elegeu especificamente como o Seu povo escolhido dentre todas as nações do mundo, Moshê ensina duas mitsvot especiais que eles deverão cumprir ao entrar na Terra de Israel para reafirmar o seu compromisso com a Torá. Primeiro deverão escrever toda a Torá em doze grandes pedras, e então deverão recitar bênçãos e maldições no vale entre Monte Gerizim e Monte Eival, as quais se aplicarão respectivamente àqueles que cumprem e àqueles que afrontam a Torá. Seguindo-se uma recontagem das maravilhosas bênçãos que D’us concederá ao povo judeu por permanecer fiel, Moshê faz uma assustadora profecia do que se abaterá sobre o povo judeu por não cumprir a Torá. Conhecido como admoestação, Moshê descreve com detalhes a horrível destruição que infelizmente acontecerá quando nos desviarmos das mitsvot.

A Porção da Torá conclui quando Moshê contempla em retrospecto os maravilhosos milagres que D’us realizou pelos quarenta anos anteriores, lembrando o povo da enorme dívida de gratidão que tem com D’us pelo Seu carinhoso amor.

Mensagem da Parashá

Tudo no coração
por Kevin Rodbell

O único breve toque do seu relógio digital anunciando a hora, 4:30 da tarde, assustou e acordou Jon do seu devaneio. O copo de coca-cola escorregou da bandeja e caiu no chão. Espatifou-se contra os ladrilhos brancos e pretos, espalhando vidro em todas as direcções. O líquido escuro correu rapidamente sobre onze azulejos, formando uma poça escorregadia de refrigerante próximo à mesa onde Jon estava servindo. "Desculpe-me, senhor, sinto muito – não sei onde estava com a cabeça."

Na verdade, Jon não estava concentrando-se em equilibrar a bandeja. É claro que, enquanto o seu rosto enrubescia, concentrou-se totalmente na situação do momento. O seu emprego de verão como empregado de mesa começava às 9 da manhã e terminava às 5 da tarde. Geralmente, às 4h30, já estava ansioso para sair; hoje não era uma excepção. Embora as suas mãos, olhos e ouvidos estivessem ocupados servindo suculentos hambúrgueres, batatas fritas engorduradas e refrigerantes gelados, a mente de Jon estava constantemente vagueando até ao jogo de futebol que aconteceria naquela noite. O passatempo favorito de Jon. Gostava tanto do entusiasmo e camaradagem que visões de correr atrás de bolas altas enchiam a sua mente sem cessar. Jon concentrava-se nos lances, ao invés de servir refeições. Hoje ele enfrentava as consequências com um esfregão, em vez de assistir ao jogo da sua equipa.

Todos conhecem o sentimento da "minha mente está num outro lugar". Algumas coisas que consideramos mais importantes – seja pagar a conta de luz ou tirar umas merecidas férias – tendem a desviar a nossa atenção do equilíbrio da bandeja ou seja o que for que estejamos a fazer. Em vez disso, as pessoas podem passar a maior parte do dia a realizar tarefas necessárias que não são de primordial importância, como fica evidente, enquando devaneiam sobre outros assuntos. Jon, por exemplo, passa dois terços do tempo no restaurante, mas a sua principal ocupação em termos de horas não indica o verdadeiro interesse do seu coração.

Da mesma forma, muitos judeus passam longas horas no trabalho, mas esta alocação de tempo dos profissionais judeus não reflete o que deveria ser a sua suprema aspiração na vida, a aspiração que expressamos duas vezes ao dia quando lemos o Shemá. "Amarás a D’us com todo o teu coração..." Apesar de todo o tempo que passamos a realizar actividades aparentemente mundanas, o coração de um judeu na verdade anseia por crescer na Torá e construir um relacionamento com o seu Criador.

Rabi Moshê Feinstein destaca este conceito numa declaração intrigante que Moshê faz ao povo judeu na porção desta semana da Torá: "Vocês viram tudo que D’us fez perante os vossos olhos na terra do Egipto…as grandes provas que os seus olhos viram, aqueles sinais, e grandes maravilhas. Porém o Eterno não lhes deu um coração para conhecer as bondades de D’us, os olhos para ver e ouvidos para ouvir, até aos dias de hoje" (Devarim 29:1-3).

Os judeus reclamaram em dez ocasiões diferentes sobre as condições inóspitas do deserto no qual D’us os colocara, mas jamais reconheceram todos os grandes milagres que D’us realizou no Egipto e no deserto em seu benefício, durante os quarenta anos. D’us provou constantemente a Sua dedicação aos Filhos de Israel, mas eles sempre responderam com rebelião e dissensão. Finalmente, naquele dia, ao final da sua jornada pelo deserto, Moshê percebeu que os judeus eram definitivamente dedicados a D’us.

Um acontecimento em particular alterou a opinião de Moshê sobre o povo judeu. No final da sua vida, Moshê copiou toda a Torá e tentou dar o rolo à família de Levi; eles, mais que qualquer outra tribo, deviam dedicar a vida a estudar e ensinar o precioso livro de D’us ao povo judeu. Rashi relata que o restante do povo judeu reuniu-se e disse a Moshê que eles também tinham estado presentes no Monte Sinai quando D’us outorgou a Torá. Eles afirmaram que presentear este rolo especial da Torá aos Levitas poderia algum dia fazê-los dizer que a Torá lhes fora dada exclusivamente.

Rabi Moshê Feinstein explica que, na verdade, a família de levi jamais faria reivindicação tão audaciosa; é claro que a Torá completa, mesmo as leis especificamente aplicadas aos levitas, foram dadas a todo o povo judeu. Ao contrário, as outras tribos suspeitaram de algo mais subtil. Os não-levitas, que deviam passar longas horas no trabalho para ganhar o sustento, temiam que os levitas, que tinham a oportunidade de passar o dia inteiro mergulhados na Torá, exigiriam exclusividade nas áreas de ensinamento da Torá, e na resolução de complicados problemas da Lei Judaica. Os não-levitas desejavam assegurar um lugar para si mesmos entre os especialistas em Torá.

Ao exigir um papel activo na perpetuação da Torá, o povo judeu mostrou a ênfase no seu coração, e reassegurou a Moshê que tinham as correctas prioridades. Ter uma renda é certamente uma necessidade, mas não importa quanto esforço devotem a outras actividades, os judeus devem lembrar-se que a Torá e o relacionamento com D’us permanecem sendo o nosso verdadeiro objectivo de vida.

SHABAT SHALOM