8.3.07

Acalmando-se...

Por Sara Yoheved Rigler

É bom para tudo na sua vida— inclusive o seu Judaísmo.
Quando estive na Índia, em 1979, visitei o Sarnath, o lugar onde, de acordo com tradição budista, Buda atingiu o seu momento de iluminação. No centro do local há uma Stupa Budista, ou seja, uma estrutura grande e sólida, com uma cúpula. Fui informado que o protocolo adequado para visitar uma Stupa budista, era dar voltas ao seu redor. Então, juntei-me a alguns peregrinos que caminhavam ao redor da Stupa.
Depois de alguns minutos, notei um monge budista de idade, vestido com um manto cor amarelo-alaranjado, caminhando devagar, muito lentamente na minha frente. Logo, ultrapassei-o. Na outra volta, estava atrás dele e ia ultrapassá-lo novamente quando, de repente, percebi que isto era um absurdo. Pensei comigo mesmo: "Por que estou andando tão rápido? Não tenho nenhum lugar para ir! Estou somente dando voltas em círculo! Então, por que a pressa?"
Diminuí imediatamente a velocidade seguindo os passos do monge. Então, aconteceu algo surpreendente: a minha mente foi se acalmando, diminuindo aquele ritmo rápido e apressado, fiquei mais calma e entrei num estado de meditação.

A pausa que sensibiliza
Acalmar-se, ou seja, diminuir o ritmo é provavelmente o único meio eficaz para melhorar a sua vida. É bom para a nossa saúde coronária, a pressão sanguínea, o casamento, para o seu relacionamento com os seus filhos e amigos e para trazer paz a sua mente.
E também é bom para o Judaísmo. Uma das maiores reclamações dos judeus contra a prática religiosa é que eles rezam, falam as berachot ou fazem mitzvot "sem sentir nada." O culpado aqui é a PRESSA. Se reza a correr ou faz a berachá (benção) antes de comer um alimento como se este fosse desaparecer em dois segundos senão chegar a sua boca, então logicamente não sentirá nada.
Maimônides, no seu código de leis judaicas, escreve que o judeu deve fazer uma pausa antes de dizer a oração principal, o Shemona Esrei, para que se lembre de que se trata da grandeza de D’us. Aquele minuto de preparação interna pode mudar toda a experiência desde o acto de fazer mecanicamente uma reza até ao modo como lidamos com os nossos relacionamentos.
Esta pausa vital também pode ser empregada antes de recitar bênçãos e fazer mitzvot, para que se tenha consciência do que vai dizer ou fazer. A consciência requer que tenhamos tempo para sair do “piloto automático” para assim, começar a pilotar o avião.

Honra ao próximo

A necessidade de estarmos completamente presentes não se aplica só na nossa relação com D’us, mas também no relacionamento com as pessoas. A lei que fala "ame ao próximo como a ti mesmo" pode ser cumprida de três modos específicos:
Falar bem do próximo;
Prover as necessidades físicas do próximo;
Honrar ao próximo.

Mas, o que dizer exactamente "honrar" outra pessoa? Como fazemos isto? Primeiro, vejamos o que não significa "honra ao próximo”:
Interromper uma conversa com um amigo para atender o telemóvel;
Discutir alguma coisa com o seu cônjuge enquanto faz a lista do supermercado ou assiste às notícias no jornal;
Falar com sua mãe ao telefone enquanto navega na Internet;
Perguntar ao seu filho como foi o dia dele sem ouvir a resposta, pois está envolvido com a sua papelada ou pensando no que vai jantar.
É claro que os exemplos acima dizem que honrar ao próximo quer dizer dar todo o seu tempo e a atenção ao próximo.
Imagine que você esteja numa reunião com o presidente e o seu telemóvel começa a tocar. Não diria, "Com licença, Sr. Presidente, preciso atender o telemóvel”. Então se damos todo o nosso tempo e atenção para uma pessoa de carne e osso, devemos dar muito mais da nossa atenção ao Todo-poderoso, quando falamos com Ele numa oração. E, se você daria a sua atenção e tempo integral a uma distinta figura política, quanto do seu tempo e atenção deve dar ao seu amado cônjuge?

A falta de tempo
É irónico o facto de que mesmo que existam milhões de objectos que nos facilitam no dia-a-dia, temos tão pouco tempo de sobra. É difícil encontrar uma pessoa com tempo suficiente. E quanto mais dispositivos de trabalho são desenvolvidos, menos tempo conseguimos!
Porém, conheci uma pessoa que pareceu sempre ter bastante tempo. A Rebbetzin Chaya Sara Kramer, o assunto de meu livro “Holy Woman” não tinha uma máquina de lavar roupas, uma secadora, um forno, uma máquina de lavar louça e nem sequer um carro. Também nunca teve uma moça que lhe ajudasse a cuidar da sua fazenda. Mas, sempre que alguém vinha para a sua casa, parecia que tinha todo o tempo do mundo para esta visita. Ela parava qualquer coisa que estava a fazer, sentava-se, e dava a atenção total ao seu convidado.
Assim como uma moça me disse numa entrevista: "Era como se Rebbetzin Kramer não tivesse mais nada para fazer no mundo excepto escutar-me".
O tempo, que temos não se trata do tamanho da nossa lista de actividades e sim da grandeza que possuímos.