Sensibilidade pelos sentimentos dos outros
BOM DIA! Há cerca de um mês ocorreu o jejum do dia 10 do mês hebreu de Tevet, que foi estabelecido para lembrar o início de um cerco de 3 anos a Jerusalém feito pelo rei babilónio Nevuchadnétzar, no ano 424 A.E.C.A minha esposa perguntou ao nosso filho de 8 anos, Akiva, o que ele queria para almoçar (as crianças não precisam jejuar). Akiva respondeu: “Nada”. “Mas, sempre almoças neste horário. Por que não queres comer hoje?”, perguntou a minha esposa (Ela suspeitou que ele estivesse tentando ser um Tsadik e jejuar mesmo sem precisar). Depois de muita insistência e hesitações, Akiva finalmente falou: “Porque hoje é dia de jejum e embora eu não tenha que jejuar, não quero que a mãe fique tentada a comer por ter de fazer comida para mim”. A minha esposa explicou-lhe que já preparara refeições para crianças há quase 30 anos, mesmo na época de jejum e que poderia manusear a situação. Então, ele pediu um sandes de atum. Sensibilidade pelos sentimentos dos outros! Eis uma das chaves para uma vida feliz. Muito frequentemente as pessoas reclamam sobre o que lhe fizeram e invariavelmente dizem: “Eu nunca faria isto se fosse ele/a”. Mas eu reafirmo: “Se estivesse no seu lugar, faria EXACTAMENTE o que ele/a fez. Se tivesse os genes daquela pessoa, a sua educação, o seu passado e a filosofia de vida, além dos seus desejos e atitudes, faria precisamente o que ele/a fez. A prova é... que é isto que ELE/A fez! A diferença é que você não é ele/a e pensa que com tudo que é, teria agido diferentemente se estivesse na sua situação”. Qual a solução, então?O livro Pirkei Avót [2:5] (Ética dos Pais – uma compilação esplêndida em sabedoria dos nossos Sábios encontrada no final de muitos livros de orações e em www.artscroll.com/Books/pirh.html) traz: “Hilel disse: Não julgue o próximo enquanto não estiver no seu lugar”. Ou seja: devemos tentar colocar-nos na ‘pele’ do outro antes de fazer qualquer julgamento.Também no Pirkei Avót (4:3) o Rabino Ben Azai disse:“Não troce de ninguém e não desdenhe de nada, pois não há pessoa que não tenha a sua hora e nada que não tenha o seu lugar”. A origem desta Mitsvá (mandamento) é o versículo: “Julgue o seu próximo com rectidão (Vaikrá 19:15)”. Este versículo obriga-nos a dar ao próximo o benefício da dúvida ao vê-lo fazendo algo que poderia ser interpretado dubiamente.As pessoas desconhecem de tal forma a obrigação de julgar o próximo favoravelmente que esta transgressão fez o grande sábio Rambam (Maimônides (1135-1204)) escrever uma lista com cinco transgressões que as pessoas incorrem e usualmente não se arrependem de tê-las feito, pois podem sempre justificar a sua suspeita dizendo: “Não fiz nada de errado. O que é que eu fiz para prejudicar aquela pessoa?”. Elas não percebem que ao considerar uma pessoa inocente como culpada estão cometendo uma transgressão (Hilchót Teshuvá 3:4). Isto não quer dizer que devemos confiar em qualquer um e deixar que tirem vantagem de nós.
A Torá ensina-nos: “Vocês devem confiar plenamente no Todo-Poderoso, o seu D'us (Devarim 18:13)”. O Hafêts Haim (Polónia, 1839-1933), um grande proponente de se amar o próximo, costumava dizer: “A Torá nos obriga a confiar com todo o coração em D'us, mas não nos homens. A pessoa deve estar sempre alerta para não ser enganada!” O Talmud resume isto de forma sucinta: “Honre-o e suspeite também”.A Torá ensina noutro local: “Ame o próximo como a si mesmo (Vaikrá 19:18)”. O Baal Shem Tov (Ucrânia, 1698-1760) costumava dizer: “Ame os demais como a si mesmo. Você sabe que tem muitas falhas e apesar disso, ainda ama a si próprio. Assim deve fazer também em relação ao seu amigo. Apesar das suas falhas, ame-o (Likutei Avraham página. 221)”. Para alguns pode parecer algo muito simples de se fazer. Entretanto, se pudéssemos julgar os outros só um pouquinho melhor, o mundo seria um lugar bastante melhor de se viver!
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