28.11.06

O que é o tempo?















Por Rebbetzin Tzipporah Heller

Como seres espirituais, somos responsáveis por colocar em prática o potencial de santidade que D’us nos dá a cada momento.
Uma das perguntas mais fáceis de responder é: "Que horas são?" Uma das mais difíceis é: "O que é o tempo?"
Nós medimos a passagem do tempo por meio das horas, dias, meses, e anos, mas qual é a ilusória realidade que estamos a medir? Um físico responderia que o tempo é o modo como medimos as rotações e revoluções dos corpos celestes.
Mas, enquanto o movimento dos corpos celestes é circular, a percepção humana de tempo é linear. No nível físico, a Terra gira ao seu redor hoje, assim como girou ontem. Num nível mais profundo, porém, sabemos que ontem não é só uma repetição de hoje, e este ano não é somente uma repetição do ano passado. Entendemos, intuitivamente, que as nossas vidas não se movem em círculos, e sim em espirais, com as rotações ainda maiores que as anteriores.
Também sabemos que o tempo passa, e os nossos corpos suportam somente alguns anos antes de perecer. Este conhecimento subconsciente da própria mortalidade também abrange a nossa relação com o tempo e a sua passagem.
O Arizal, um estudioso místico quase legendário, enfatiza que as rotações e revoluções que marcam fisicamente a passagem do tempo têm um paralelo espiritual. Todo o ano é único em termos do seu potencial, assim como todo mês, dia e hora.
Deste modo, duas orações nunca são as mesmas. Uma oração recitada este ano pode trazer forças espirituais que não foram atraídas no ano passado, ou ainda antes na história. Cada dia e momento têm o seu próprio presente em termos da sua constelação particular de energia. Podemos utilizar ou rejeitar este presente.

Tempo para mudanças
A palavra hebraica que descreve a passagem do tempo reforça esta mensagem. A palavra hebraica para "ano" é shaná, que compartilha a sua raiz com a palavra shoni, que significa "mudança”. A palavra para "mês" é chodesh que compartilha a sua raiz com a palavra chadash que significa "novo”. A passagem de tempo nos modifica de formas significantes. Como podemos desenvolver uma relação significativa com o tempo?
Santificar o tempo por meio de uma cerimónia chamada "Rosh Chodesh", a nova lua, é o primeiro mandamento que recebemos como nação. Este mandamento revela como o Judaísmo se relaciona com o tempo.
Vamos primeiro olhar para o contexto histórico desta mitzvá. Na véspera do Êxodo, os judeus no Egipto estavam prontos para começar as suas vidas como nação. A escravidão ensinou-lhes a nunca servir de boa vontade a um mestre terrestre, nem se deixar cair nas mãos do opressor. Também viram grandes milagres que lhes revelaram a presença de D’us, a devoção pelo Seu povo e a habilidade de modificar as leis da natureza.
Até aquele ponto, os judeus eram passageiros de uma jornada contra a sua própria vontade. Agora, D’us dava-lhes uma ordem para que saíssem da passividade e se tornassem activos. Foram ordenados a santificar o tempo.

Santificar o tempo
Rosh Chodesh, a santificação da nova lua, ocorre quando duas testemunhas declaram solenemente diante de um júri formado por três juízes competentes que viram o primeiro brilho da lua crescente no céu, e então os juízes declaram o início de um novo mês. Aquele brilho da lua aparece somente na véspera do 29 ou 30 dia do mês. Se a lua não puder ser vista (por exemplo, devido ao tempo nublado), o 31 dia do mês anterior será declarado o primeiro dia do novo mês.
Uma cláusula fascinante na lei menciona que o novo mês só se inicia quando os juízes realmente o proclamarem. Por exemplo, se na véspera do 30° dia ocorre um atraso fazendo com que as testemunhas não cheguem na hora certa ou os juízes não consigam tomar o seu testemunho até o anoitecer, não importa quantas pessoas viram a nova lua, o novo mês começará no 31° dia e não antes disso.
Este não é só um mero detalhe técnico. Do ponto de vista judaico, o tempo não é uma realidade física mecânica definida pelo movimento dos corpos celestes. O tempo é definido pelos seres humanos, como declarado pelo tribunal judaico. Isto significa que estamos indo além de só perceber mudanças físicas no céu; como seres espirituais, somos responsáveis por colocar em prática o potencial de santidade que D’us nos dá a cada momento.
Sempre, que a lua se encontra com o sol novamente e recebe a sua luz, algo profundo acontece. D’us quer que o Seu Povo (representado pelas testemunhas e o tribunal) Lhe encontre novamente, redescubra a Sua luz, embora esta esteja frequentemente obscurecida por períodos de escuridão e encobrimento espiritual. Portanto, a nova lua é um tempo de renascimento espiritual e moral de nós mesmos.

Mazal tov?
O fluxo de força espiritual que provem de todo o mês é chamado mazal, que literalmente significa, "que flui". O mazal do mês é o canal pelo qual podemos experimentar D’us.
Cada um dos 12 meses tem um signo astral que delineia o seu mazal. Antigamente, os astrólogos podiam ler os signos astrológicos do mesmo modo como lemos um mapa hoje. Obviamente, o facto de poder pegar num mapa e localizar Chicago não quer dizer que causei a existência de Chicago. Da mesma forma, informações astrológicas não alteram a realidade. Só a delineiam.
Uma interessante falha na natureza humana é a que subconscientemente confundimos a nossa habilidade de descrever coisas com a de controlá-las. A astrologia, ou o conhecimento do "mapa" de como o mazal altera as nossas vidas, pode tornar-se uma perseguição obsessiva. A Torá diz-nos para caminhar com simplicidade, e deixar que o tempo se revele de acordo com os Seus termos. Nós não praticamos astrologia, leitura de cartas, ou qualquer meio ilusório de tirar o controle de D’us prevendo o que o futuro trará.
Uma busca completamente diferente é estar ciente da natureza espiritual de cada mês, não para controlar, e sim para saber como utilizar estas energias.
Uma maneira de utilizar a energia exclusiva de todo o mês é por meio da celebração dos feriados judaicos. Os feriados não existem só para que celebremos eventos passados. Melhor dizendo, a nossa consciência do passado nos informa sobre as forças que estão nas nossas mãos para usarmos e ajustarmos o nosso presente e futuro aos planos de D’us.
Há sete feriados principais que são mencionados na Torá. Isso significa que são parte integral dos planos de D’us em relação ao tempo, ao mazal, e ao destino do mundo. Na literatura mística os feriados são descritos como tempos de ratzon, que significa literalmente "vontade". São dias em que a vontade de D’us, que está normalmente escondida, pode ser vista com muito mais brilho e luminosidade.
Na Torá, os feriados são chamados de moadim, ou seja, "tempos de encontro" entre nós, com todas as nossas limitações, e D’us no Seu infinito incompreensível. A ponte que atravessamos para encontrar D’us é feita pelo espírito do tempo em particular, como também pelos eventos que aconteceram na história, que nós dá uma compreensão clara de ambos - o tempo e o Criador do tempo.
Cada feriado é distinto e insubstituível. Eles actuam como luzes que nos dão a habilidade de ver longe além do fluxo e refluxo da existência.
Se mudarmos a nossa relação com o tempo, mudaremos também a nossa relação com a vida propriamente dita.