28.9.06

YOM KIPUR = DIA DO PERDÃO

BOM DIA! Espero que tenha tido um óptimo e significativo Rosh HaShaná. Em Rosh HaShaná somos julgados e inscritos, esperançosamente, no Livro da Vida. Em Yom Kipur este julgamento é selado. Nestes dias intermediários devemos examinar os nossos actos e corrigir os erros que tenhamos feito. Precisamos de nos colocar em caminhos que nos levem a utilizar melhor o nosso tempo, para aperfeiçoarmos a nós mesmos e ao mundo como um todo!
Yom Kipur começa neste domingo ao entardecer, 1º. de outubro (Yzkor é recitado na segunda-feira, 2 de outubro) e o Sucót inicia-ne na próxima sexta-feira, dia 6 de Outubro, ao entardecer. Trago também um Pensamento da Semana antigo, mas muito pertinente para esta época do ano, onde tomamos boas decisões para o futuro.

Qual a Essência de Yom Kipur e Como o Observamos?
A Torá declara: “Este será um decreto eterno para vocês: No décimo dia do sétimo mês (contando a partir do mês hebreu de Nissán) vocês devem afligir-se e não devem fazer nenhum trabalho, nem vocês nem os convertidos que estão convosco. Neste dia, ele (o Cohen Gadól, o Sumo Sacerdote) deve expiar as suas transgressões para purificá-los. Perante D’us vocês devem ser purificados (Vaikrá 16:29-30)”.
Yom Kipur, o Dia do Perdão, é o aniversário do dia em que Moshe trouxe as segundas Tábuas da Lei do Monte Sinai (as primeiras foram quebradas quando Moshe viu o povo A idolatrar um bezerro de ouro). Isto significou que o Todo-Poderoso havia perdoado o Povo de Israel por terem feito idolatria. Dali para frente, este dia foi decretado como o dia para o perdão dos nossos erros. Entretanto, isto refere-se às transgressões entre o homem e D'us. Transgressões entre o homem e o seu semelhante requerem que se corrija o erro e se peça perdão pelo prejuízo acarretado. Somente então é que pedimos desculpa a D’us por ter ofendido o nosso semelhante.
Durante as orações falamos o Vidúi, uma confissão, e Al Chét, uma lista de transgressões entre o homem e D'us e o homem e o seu semelhante. É interessante notar duas coisas: primeiro, as transgressões estão em ordem alfabética (em Hebraico). Isto torna a lista bastante abrangente, além de permitir a inclusão de qualquer transgressão que se queira na letra apropriada.
Em segundo, o Vidúi e Al Chét estão no plural. Isto ensina-nos que somos um povo ‘entrelaçado’, responsáveis uns pelos outros. Mesmo se não cometemos uma determinada ofensa, carregamos certa responsabilidade por aqueles que a fazem – especialmente se poderíamos ter evitado tal transgressão.
Em Yom Kipur lemos o Livro de Jonas (Yoná). A essência da história é que D'us aceita prontamente o arrependimento de qualquer um que deseje, sinceramente, fazer Teshuvá, voltar ao Criador e aos Caminhos da Torá.
Há cinco proibições em Yom Kipur : comer, usar calçados de couro, relacionamento conjugal, passar cremes, desodorizante, etc. no corpo e banhar-se por prazer.
A essência destas proibições é causar aflição ao corpo, dando, então, prioridade à alma. Pela perspectiva Judaica, o ser humano é constituído pelo Yétser HaTóv (o desejo de fazer as coisas correctamente, que é identificado com a alma) e o Yétser HaRá (o desejo de seguir os próprios instintos, que corresponde ao corpo). O Nosso desafio na vida é ‘sincronizar’ o nosso corpo com o Yétser HaTóv. Uma analogia é feita no Talmud entre um cavalo (o corpo) e um cavaleiro (a alma). É sempre melhor o cavaleiro estar em cima do cavalo!
A tradição Judaica ensina que em Yom Kipur , o Yétser HaRá, o desejo de seguir os próprios instintos, está morto. Se, então, seguirmos os nossos instintos ou desejos, será só pelo hábito, pela rotina. Em Yom Kipur nós podemos mudar os nossos hábitos! Eis 3 perguntas para se pensar em Yom Kipur :
1) Como para Viver ou Vivo para Comer?
2) Se estou a comer para Viver, pelo que vivo?
3) O que gostaria que escrevessem no meu túmulo?

Se soubermos as nossas metas de vida, será mais fácil atingi-las!

Algumas Idéias para Tornar o Serviço de Yom Kipur Mais Significativo:
1 - Tenhamos satisfação! Já tomamos a importante decisão de comparecer à sinagoga. Não nos arrependamos, não!
2 - Não viemos para nos entreter e sim para conquistar algo a um nível espiritual: aproximarmo-nos do Todo-Poderoso, reflectir, colocarmo-nos num caminho melhor na vida.
3 - Não culpe a cerimónia religiosa, o Rabino ou o livro de orações. Se desejar, prepare-se antecipadamente: leia o Mahzór (o livro com as orações especiais de Rosh HaShaná e Yom Kipur) para entender as palavras e as ideias contidas nestas orações. Façamos uma ‘lista’ de atitudes ou comportamentos de que nos arrependemos, que gostaríamos de corrigir e gostaríamos que o Todo-Poderoso nos perdoasse.
4 – A nossa mente parece ter duas pistas: uma pessoa pode falar e pensar sobre o que quer dizer simultaneamente, ela pode também ler e estar a pensar sobre algo que não tem nada a haver com a leitura, etc. Podemos também rezar e pensar num milhão de coisas diferentes. Ao lermos uma prece silenciosa, concentremo-nos naquilo que estamos a ler. Ao ouvir o Hazan (a pessoa que está na liderança das orações), foquemos a nossa mente num pensamento espiritual: “Querido D’us, por favor, ajuda-me”, “Todo-Poderoso, perdoe-me”, “D’us, eu realmente acredito no Senhor”. Isto evitará que a nossa mente comece a pensar sobre o resultado do jogo de futebol, as contas a pagar, reparações a serem feitas em casa, etc. A maioria das pessoas não entende a liturgia em Hebraico que se está a cantar. Entretanto, mesmo se as nossas mentes não entenderem, o coração e a alma nutrem-se dessas palavras, da melodia e da atmosfera. Relaxe e ouça a essência do que se está a cantar.
5 - Façamos o melhor uso possível do nosso tempo. Leiamos os comentários ou a tradução das orações. Procure se na sua sinagoga não há algum material interessante sobre Yom Kipur, numa língua que entenda. E se estiver realmente a sofrer, então apenas peça: “D’us, por favor, aceite o meu sofrimento por estar na sinagoga como reparação pelas minhas transgressões!”
6 - Assista ao belo e inspirador filme de 1 minuto de duração (em inglês) intitulado 'Sorry': clique em http://www.aish.com/movies/sorry.asp

Um último pensamento...
Ao prepararmos-nos para Yom Kipur, precisamos de nos perguntar: “O que posso fazer para melhorar o meu relacionamento com o Todo-Poderoso e a minha observância para com os Seus mandamentos?”
O Rambam, o conhecido Rabino espanhol Maimônides (1135-1204), que viveu em Espanha e no Egipto, ensinou que a vida de cada indivíduo é constantemente analisada sobre uma balança de pratos – como aquelas balanças antigas, onde a mercadoria era colocada num prato e os pesos no outro – e que cada um de nós deve pensar antes de tomar toda e qualquer atitude, pois uma transgressão ou uma mitsvá (boa acção) podem inclinar a balança para o lado positivo ou o contrário. Mais ainda, explica o Rambam: “Cada comunidade, cada país e o próprio mundo são julgados desta maneira”. Portanto, a pessoa não deve pensar que está afectando apenas a sua ‘própria balança’, mas sim o mundo como um todo.
Nestes dias antes de Yom Kipur devemos examinar os nossos actos e corrigir os erros que tenhamos feito, principalmente com os nossos familiares e amigos. Lembre-se de ligar para aquele seu amigo ou parente que há muito tempo não via ou conversava. Reactive o relacionamento para este novo ano e, se for necessário, peça desculpas por algum erro cometido no passado. Estaremos assim a aperfeiçoar-nos e a abrir as portas para tornar este mundo melhor!