21.9.06

Rosh Hashana e a introspecção














Rosh HaShaná começa hoje, sexta-feira, ao entardecer, dia 22 de Setembro! Rosh HaShaná é chamado o Dia do Julgamento, em que somos julgados para o próximo ano em relação a tudo, à vida ou não, riqueza ou pobreza, saúde ou o contrário. O julgamento é selado em Yom Kipur.
Muitos leitores perguntam: Será que D’us rege o mundo o tempo todo? A resposta é: Sim, com absoluta certeza. Tudo, tudo, tudo que acontece connosco é supervisionado por D’us, nos seus mínimos detalhes. Desde a Criação do mundo até hoje, o Criador toma conta de tudo e de todos o tempo inteiro. Têm-se dito que a diferença entre um milagre e os eventos do dia-a-dia é a frequência com que ocorrem. Gostaria de contar-lhes a seguinte história, verídica, para ilustrar como o Todo-Poderoso ‘rege’ o mundo:
Havia um homem que era dono de um hotel em Miami Beach. Ele vinha de uma família de Judeus tradicionais e era um grande filantropo. Sempre, que o seu bom amigo, o Rabino Jerry Burstyn, director da famosa Universidade Talmúdica, lhe falava sobre a nossa herança espiritual, o homem respondia-lhe: “Rabino, religião e negócios são coisas diferentes! Por favor, não as misture!”
Quando o homem fez 81 anos de idade, decidiu ir para Israel comprar um túmulo no Monte das Oliveiras, na secção que a sua mãe, de abençoada memória, estava enterrada.
Em Jerusalém, contactou um representante da Hévra Kadishá (Sociedade Funerária), responsável por aquela secção do Monte das Oliveiras. O homem informou-lhe que aquela área já havia sido vendida há mais de 20 anos, mas ofereceu-se para descobrir se algum dos donos tinha interesse em vender o seu terreno.
No dia anterior ao do seu regresso a Miami, o representante ligou-lhe, animado: “Um homem está para casar a sua filha e precisa vender o seu jazigo no cemitério. Encontremo-nos amanhã e eu vou mostrar-lhe o local”. Ao se encontrarem no cemitério, procuraram a fila e o número da cova, que era, adivinhem: justamente ao lado do túmulo da sua mãe! O homem olhou para a cova, olhou para o túmulo da sua mãe ali ao lado, e um arrepio correu-lhe a espinha. “O quanto ele pedir por este pedaço de terra, eu pago!”, falou para o representante.
Naquela tarde, todas as partes interessadas encontraram-se para fechar o negócio. O último documento colocado à frente do homem, para assinar, foi o da Hévra Kadishá. Estava escrito: “Pelo presente, afirmo aqui que sou Shomêr Mitsvót (uma pessoa que cumpre todos os mandamentos da Torá)”.
Mais tarde, o homem relatou ao Rabino Burstyn: “A minha mãe chamava-me: ‘Filhinho, está na hora de voltar para o nosso lar de Torá e cumprimento das mitsvót’. Imediatamente, peguei a caneta e assinei o papel”.
Daquele dia em diante tornou-se um Judeu completamente observante! Rosh HaShaná é a forma que o Todo-Poderoso usa para dizer: “Filhinho, é a hora de voltar para o Lar!”

Como Sobreviver à Sinagoga ou Como Posso Tornar minha Experiência na Sinagoga Mais Significativa?
1) Cinco minutos de reza proferida com entendimento, sentimento e conexão pessoal com as palavras e seus significados representam muito mais que 5 horas de “trabalho labial”.
2) “Expectativas não atingidas levam a frustrações auto-impostas”. Portanto, não espere ficar “tocado” a cada oração ou ao acompanhar toda a reza.
3) Leia as orações sem interrupção e, pausadamente, pense no que está dizendo, sem ficar preocupado se “ficou para trás” em relação ao restante do público. Olhe: o pior que poderá acontecer é você ficar “meio” perdido, mas não se preocupe! Provavelmente irão anunciar as páginas que estão sendo lidas, e você sempre poderá “acompanhá-los”!
4) Se uma sentença ou parágrafo em particular, lhe “tocarem” -- demore-se um pouco mais. Repita as palavras várias vezes para si, baixinho, mas audível aos seus ouvidos. Deixe estas palavras terem maior contacto consigo. E, se for realmente corajoso, feche os olhos e repita essas palavras, insistentemente, por alguns momentos.
5) Você não domina bem o Hebraico? Não se preocupe: D’us entende muito bem qualquer língua que você fale. E, como um amado pai, D’us pode discernir no seu coração o que está sentindo, mesmo que não consiga expressá-lo da maneira que gostaria.
6) Ao sentar-se na sinagoga em Rosh HaShaná e Yom Kipur, você une-se a milhões de Judeus noutras sinagogas, por todo o mundo. Você é um/uma Judeu/Judia e está a fazer uma poderosa declaração sobre o seu comprometimento ao Judaísmo e ao Povo Judeu!

Qual a Essência de Rosh HaShaná?
A essência de Rosh HaShaná é reconhecermos que D’us é o Criador, o que Mantém e o Supervisor das nossas vidas. A nossa meta é renovarmos o nosso relacionamento com o Todo-Poderoso.
Um dos nossos piores erros é que desistimos facilmente de nós mesmos. Aceitamos as nossas limitações como um status quo e paramos de acreditar no nosso próprio potencial para a grandiosidade. Com o passar do tempo, o optimismo dá lugar ao ‘realismo’, e acabamos por nos acostumar com a depressão e expectativas desanimadoras. Desistimos de ser realmente felizes. Acabamos por aceitar, que nunca conseguiremos comunicar com as nossas esposas/esposos e filhos. Os pais dizem aos seus filhos: “Quando tiveres a minha idade, vais entender.” Entender o quê? O que querem dizer é: “Quando tiveres a minha idade, terás desistido da mesma forma que eu o fiz.” Paramos de tentar crescer e começamos a preparar-nos para a morte. Rosh HaShaná é a oportunidade de renovarmos o sonho do que a vida pode vir a ser, de retornarmos ao nosso verdadeiro caminho, de exercermos todo o nosso potencial.
Comecemos por nos arrepender dos nossos erros passados. O que saiu errado com as nossas boas intenções do último ano? Por que magoamos as pessoas que amamos? Arrepender-se não é culpa. Arrependimento é o reconhecimento realista de um prejuízo. Culpa, por outro lado, leva à autodestruição. Culpa é uma ofensa que a pessoa aceita e não reclama, é esquivar-se da responsabilidade. Arrependimento é a percepção dolorosa de oportunidades perdidas. Quando cai dinheiro do meu bolso, lamento a perda, costuro o furo e a vida continua. Não posso perder tempo com a culpa. Erros são muito caros para repeti-los. Os nossos erros alienam-nos de nós mesmos e nos separam das outras pessoas. O arrependimento dos erros passados dá substância e base para novos propósitos, novas e boas intenções.
Para o Judaísmo é uma grande alegria voltarmos para nós mesmos, para as pessoas que amamos, para o nosso Pai no Céu. Rosh HaShaná é um dia de felicidade. Em Rosh HaShaná , todos temos a chance de voltar para as nossas origens, para o nosso lar!

Porção da Torá:
Como o primeiro dia de Rosh HaShaná cai no Shabat, a porção especial de Rosh HaShaná é lida no lugar da porção usual do Shabat. No primeiro dia de Rosh HaShaná lemos o trecho em Bereshit 21, onde o Todo-Poderoso lembra-se de Sara e ela dá à luz Ytschák. No segundo dia lemos Bereshit 22, sobre a “Akeidát Ytschák”, o teste de Avraham ao preparar o seu filho Ytschák (Isaac) para ser sacrificado. Isto também aconteceu em Rosh HaShaná.

Um último pensamento...
Um antigo sábio, chamado Rabino Zússia, estava deitado no seu leito de morte, rodeado pelos seus alunos e discípulos. Estava a chorar e ninguém conseguia confortá-lo.
Um aluno perguntou-lhe: “Rabi, por que está a chorar? O senhor é quase tão inteligente como Moshe e tão bondoso quanto Abraão!”
O Rabino Zússia respondeu: “Quando partir deste mundo e comparecer perante o Tribunal Celestial, não me irão questionar: ‘Zússia, por que não foi inteligente como Moshe ou bondoso como Abraão? ’. Pelo contrário, irão perguntar-me: ‘Zússia, por que não foi como Zússia? ’ Por que não exerceu o seu potencial, por que não seguiu a sua própria trajectória?”
Em Rosh HaShaná confrontamos o nosso potencial como seres humanos, mas, igualmente, como Judeus. Permitamo-nos, cada um de nós, usarmos esta oportunidade para reavaliar as nossas vidas, os nossos potenciais e o nosso compromisso com D’us, com a nossa Torá, o nosso Povo e nós mesmos!
Em nome de todos nós do Êsh HaTorá, gostaria de desejar a si e a toda a sua família um belo e doce Ano Novo, repleto de bênçãos Divinas de saúde, alegria e sucesso. Que o seu Rosh HaShaná seja significativo, importante e inspirador!

Shabat Shalom, que todos tenham um ano doce, pleno de bênçãos, saúde, crescimento espiritual e material, e que sejamos todos inscritos no Livro da Vida!

Rabino Kalman Packouz