15.9.06

Porção da Torá: Nitzavim - Vayelech

Livro Devarim/ Deuteronomio
Netzavím [29:09-30:20] e Vaiélech [31:01-31:30]

No dia da sua morte, Moshe reuniu todo o Povo Judeu e ratificou o Pacto Divino, confirmando o Povo de Israel como o Povo Escolhido por D'us, por todas as gerações futuras, com os seus direitos e responsabilidades. Moshe deixou claras as consequências da rejeição a D’us e a Sua Torá, bem como a possibilidade do arrependimento. Reiterou que a Torá está à disposição de todas as pessoas interessadas.
Netzavím conclui talvez a mais poderosa e clara declaração em toda a Torá sobre o objectivo da vida e a existência do livre-arbítrio: “Coloquei, hoje, diante de vocês, a vida e o bem, a morte e o mal... a bênção e a maldição. Portanto, escolham a vida para que possam viver, vocês e os seus descendentes”.
Vaiélech começa com Moshe, no último dia da sua vida, passando o ‘bastão’ da liderança para Yehoshua (Josué). Dá-lhe, então, uma ordem/bênção que se aplica a todo líder Judeu: “Seja forte e valente. Não tenha medo ou se sinta inseguro na frente deles (o Povo). D’us, o Todo-Poderoso, é Aquele que o acompanhará e Ele não falhará nem o abandonará”.
Moshe transcreve toda a Torá e a entrega aos Cohanim e aos Anciãos. Ordena, então, que no futuro, no fim do ano sabático (Shemitá), o Rei deverá reunir todo o Povo de Israel, durante a festa de Sucót, e ler-lhes a Torá para que “...ouçam, aprendam e temam o Eterno, o seu D’us, e sejam cuidadosos ao cumprirem todas as palavras da Torá”.
O Todo-Poderoso descreve, num curto parágrafo, o percurso da História Judaica (isto começa em Devarim 31:16, para os curiosos). Por fim, antes de Moshe ir ‘deitar-se com os seus antepassados’, ensina ao Povo a canção de Haazinu (a porção da próxima semana) para recordar-lhes sobre as consequências de abandonar ou voltarem-se contra o Todo-Poderoso.
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Da autoria do Rabino Shlomo Wahnon

Resumo da Porção Nitzavim

A parashá desta semana começa com o anúncio de Moshé sobre as cerimónias a realizarem-se na Terra de Israel, referem-se as primícias (bikurim), os primeiros frutos das sete espécies (minim). Os mesmos deviam ser apresentados perante o sacerdote (cohen). Também recorda as leis do dízimo da colheita (maaser) de cada terceiro ano do ciclo da shemitá, como colocar de lado maaser para os levitas, os órfãos e as viúvas.

Moshé recorda ao Povo de Israel que o cumprimento dos mandamentos do Eterno, sem desviar-se dos Seus caminhos e os Seus mandatos, recompensá-los-ia com a elevação do Povo sobre os demais.

Moshé e os anciãos instruíram o povo no sentido de que quando cruzassem o rio Jordão, deviam colocar grandes pedras no monte Eival, sobre as que as escreveriam todas as palavras da Lei. Também e em segunda instância, deviam construir um altar de pedras e sobre ele sacrificar oferendas. Em terceiro lugar, as doze tribos deviam rectificar a aceitação das Leis do Todo poderoso, situando-se as seis tribos sobre o monte Guezerim representando as bênçãos e as outras seis deviam ascender ao monte Eival representando as maldições. Os Levitas situar-se-iam entre os dois montes e procederiam a advertir quem cometesse pecados como os da idolatria, faltar ao respeito aos pais, deslocando os limites de separação do seu vizinho, colocar obstáculos ao cego, não actuar com justiça para com o estrangeiro, o órfão ou à viúva, manter certas relações proibidas, ferir traiçoeiramente o próximo, receber suborno, não cumprir os mandamentos da Torá. Perante cada advertência, o Povo deveria responder “Amén”. Depois procederiam a bendizer, por seguir os caminhos do Eterno.

Moshé enfatizou o que sucederia se o Povo observasse os caminhos do Eterno, obteriam prosperidade nas suas cidades, nos seus campos, nos seus gados, submetendo-se aos inimigos e estando acima dos demais nações. Pelo contrário, o seu comportamento contrário, trairia como consequências doenças, fome e morte, o territorio de Israel seria destruído e dominado por nações violentas e os judeus disseminados e convertidos em escravos.

Por último, Moshé começou a sua última exposição perante o Povo, exortando-o a recordar o Todo poderoso que os protegeu no Egipto, durante os quarenta anos no deserto e continuaria a proteger no futuro.

Comentário Parasha Nitzavim
“E será, quando chegues...” (Devarim 26:1)

“E será, quando chegues à terra ... tomarás das primícias de todo o fruto...e dirás: declaro hoje que cheguei à terra que o Eterno prometeu aos meus antepassados...”.

Assim determina a Torá o preceito da oferta das primícias... Arameu perdido era meu pai e descendeu ao Egipto e viveu ali com poucos varões e cresceu...

O motivo da oferta das primícias é o reconhecimento da bênção divina, que, de um povo de poucos membros perseguidos e escravos, Hashem nos fez um povo de gente livre.

O reconhecimento e agradecimento são os princípios básicos da nossa Torá e assim determina a Halachá que o respeito aos pais é comparado com o respeito aos mestres e o respeito aos mestres com o respeito ao Eterno, pois todo o indivíduo que não sabe reconhecer o bem que os seus pais fizeram para com ele, tão pouco saberá reconhecer o bem que os seus mestres fizeram e não chegará a reconhecer o bem que o Todo poderoso fez com todos nós através das gerações.

Após a obrigação de separar as primícias, a Torá recorda-nos a obrigação do segundo dízimo devendo dizer-se:”E dei ao levita, ao estranho, ao órfão e à viúva como em todos os preceitos que me encomendaste, não transgredi as tuas obrigações e não me esqueci”. Que recordatório tão importante o da Torá, que nos obriga a não esquecermos, como princípio básico sobre todos os preceitos, a quem talvez não tenham meios, como o caso do estranho, o órfão e a viúva, todos a par do levita, pelo que a relação não é a que se estabelece entre pedinte e necessitado, senão a de obrigado-beneficiário e na qual eles, tanto o órfão, o estranho e a viúva junto com o levita, são os que nos permitem cumprir com essa obrigação.

O Talmud comenta-nos que um gentio perguntou a Rabi Akiva: Se o Todo poderoso ama os seus filhos, como é que pode ser que existam necessitados no mundo que Ele criou? Respondeu Rabi Akiva: Os ricos necessitam mais dos pobres que estes dos ricos! Os pobres necessitam dos ricos apenas ajuda económica mas os ricos, senão existissem os necessitados como é que poderiam fazer bondade? A bondade é uma necessidade obrigatória para todo o ser, tal como para o necessitado. Olam Chessed Yibané! O mundo constrói a bondade! A bondade é considerada mais importante que a caridade, pois esta apenas se pode cumprir com os pobres, enquanto que a bondade-ajuda pode fazer-se com todos. A caridade pode realizar-se apenas materialmente, enquanto que a bondade pode realizar-se até com palavras.

A Torá preocupou-se de não marginalizar o necessitado, denominado a caridade como justiça, quando equiparou o necessitado ao órfão, estranho ou à viúva com o Levita, que recebe o dízimo como salário e não como caridade, pois assim disse a Torá: “E a tribo de Levi não herdará a terra, pois Eu sou a sua herança, pelo que foram eleitos para o Meu serviço.

Olam Chessed Yibané! O mundo constrói a bondade! Os nossos Sábios não vieram avanços tecnológicos nem grandes inventos nem descobrimentos, a razão da existência; não esqueçamos que a geração após geração aumentam os nomes de célebres talentos que encontraram maneira de facilitar-nos a vida. Nobel sonhou em acabar com o sofrimento dos mineiros e Einstein encontrar a fonte de energia, a galinha dos ovos de ouro tinha de terminar com na miséria da idade média, o homem já pôs o pé na Lua e talvez consiga obter uma cápsula fora da nossa galáxia. Por acaso somos mais felizes que os nossos avós?

A felicidade pelos vistos não se encontra nem na tecnologia nem mas comodidades, como tampouco do outrolado do cosmos, senão como disse a Torá: “Não é nos céus nem do outro lado do mar senão dentro de ti e no teu coração que deves fazê-los.”

Num mundo de bondade onde reine a preocupação pelo próximo, onde não se esqueça o levita nem o estranho, nem o órfão, nem a viúva, podendo cantar: “E comeremos com alegria dos Teus Pessachim”.

Resumo Parasha Vayelech

Moshé cumpria 120 anos de idade e falou ao Povo de Israel anunciando-lhe que estava a finalizar a sua liderança e que o Todopoderoso tinha elegido como sucessor Yeoshua, que os dirigia e conduziria à Terra Prometida. Perante todo o Povo, Moshé incentivou Yeoshua a “ser forte e valente” e que confiasse plenamente no Eterno.

Posteriormente entregou a Lei escrita aos cohanim e aos anciãos. Em Sucot do ano posterior ao da Shemitá, deverá ler-se publicamente e assim cada um estará obrigado a obedecer a Hashem.

O livro da Lei deveria ser colocado pelos levitas ao lado do Arón Hadkodesh, para testemunhar contra o Povo de Israel, se este se desviar dos Seus ensinamentos.

Por último, o Todo poderoso ordenou a Moshé que procedesse a reunir o Povo e lhes ensinasse o cântico e que seria por recordação das consequências de afastar-se do Eterno.

Comentário Parasha Vayelech
“Esforcem-se e sejam felizes...” (Devarim 31:6)

“Chisku Vehimzu”. Esforcem-se e sejam felizes, não temam e não caiam espiritualmente. Assim se despede do povo, o grande Mestre Moshé antes da entrada da Terra de Israel. O temor e o desespero perante o perigo ou qualquer outra situação da vida, são expressões de desconfiança. Rabi Nachman de Breslev disse: “Todo o mundo é como uma ponte estreita e o importante é nunca temer”. A vida é uma sequência de decisões assim como uma ponte, não temos mais remédio que cruzá-la e a insegurança da sua longevidade assusta. A isto Rabi Nachman responde que uma vez, que temos de passar por ela, apenas nos resta a confiança.

O medo é a sensação pelo desconhecido, a insegurança e a desconfiança, a resposta, o conhecimento e a confiança.

“E escreverás agora este cântico e ensiná-lo-ás aos filhos de Israel”.

Com estas palavras O Eterno obriga Moshé a nomear Yeoshua como sucessor e adverte-o do que acontecerá ao Povo de Israel no futuro: “...E se levantará este povo e errará após outros deuses da terra onde habitarão e me abandonarão e se apartarão do pacto que fiz com ele”.

A diáspora trouxe consigo a riqueza da diversidade de costumes do nosso povo, dentro de uma união incomparável com nenhum outro povo, senão consigo mesmo, onde doze tribos formaram parte de um só povo. O erro não está na diferença senão no abandono, já que durante gerações as comunidades estavam definidas mas unidas, tanto yemanitas, ashkenazitas, sefarditas, orientais ou polacos, todos tinham uma mesma direcção e meta. O que os diferenciava era apenas o país onde habitavam, o idioma, as comidas, as roupas e costumes mas unia-os o primordial, aquilo que os definia como tribos: A Torá e os preceitos!

As palavras da Torá não foram escritas em vão: “E se levantará este povo...”, pois a história nos demonstrou que a diáspora não trouxe apenas a riqueza da diversidade como também o abandono por causa da assimilação. Terríveis estatísticas transmitem-nos incríveis percentagens de assimilação e nem todas as tentativas para evitá-la demonstraram ser efectivos, pois muitos “...ismos” se levantaram no nosso Povo mas com outros deuses da terra onde habitam. Não está na lógica a solução, senão nas palavras da Torá.

“E escreverás agora este cântico e o ensinarás aos filhos de Israel...e será quando acontecer”. “... e este cântico será como testemunho pois não será esquecido pelas gerações”. A profecia da Torá poderia não cumprir-se, através de três mil anos de história, desterros, perseguições, genocídios... mas não puderam com ela, pois ela é testemunho da Sua verdade.

Shabat Shalom