17.1.06

História religiosa

Este artigo tem como finalidade, poder esclarecer um pouco mais, mas também facilitar o retorno do nosso povo à religião dos nossos antepassados.

Por Don Isaac Abravanel

"...Na antiguidade, as pessoas adoravam muitos Deuses- Deuses do trovão, Deuses da chuva, Deuses da Lua e Deuses do Sol. Existiam Deuses da Terra e existiam Deusas da fertilidade. O primeiro Judeu, Abraão, foi o primeiro a ver a futilidade desses ídolos. Por causa de Abraão, os Judeus tornaram-se num povo único entre os povos do Médio Oriente ao acreditar que Deus é invisível, do qual ídolos e imagens não podem ser feitas.

Os Judeus acreditam que nenhum ser humano pode ser adorado como Deus. Nenhuma pessoa -nem Antiochus, nem Ceasar, nem Jesus- ninguém deve ser adorado como Deus. Deus não tem forma humana. O Deus de Israel, o Deus do Universo, está para além da forma humana, Ele não pode ser representado. Não existem ídolos ou gravura ou imagem mental que possa capturar a forma ou essência do seu ser.

Foi neste ambiente rigorosamente anti-idólatra que Jesus de Nazaré nasceu. Como Judeu, Jesus acreditava que Deus era incapaz de ser representado em imagens ou incarnar no corpo humano. E como Judeu, Jesus veria como blasfémia se alguém, incluindo ele mesmo, fosse adorado como igual a Deus.

De facto no Novo testamento, Jesus disse "porque me chamam de bom? Apenas Deus é bom" indicando que Jesus não se considerava divino.

Os Judeus de Judeia estavam familiarizados com os Homens-Deuses das outras religiões e das outras nações. No Egipto, o Faraó era adorado como um ser supremo, como a incarnação do deus Osíris. Alexandre, o Grande exigia reconhecimento da sua divindade.

Na religião do império romano, o Deus Apolo era suposto ser o Deus Pai dos seus dois filhos adorados, Júlio e Augusto Caesar, que de acordo com um decreto do Senado Romano, exigiam que o adorassem como Deuses. Augusto foi tornado Deus quando ainda vivo, e depois da sua morte havia pessoas que estavam preparadas para testemunhar que ele tinha ascendido aos céus.

Foi nesta perspectiva histórica de fazer homens mortais em deuses que o Judaísmo viu a tentativa de fazer Jesus um Deus ou o filho de Deus. Porque Judaísmo se opõem à ideia de adorar seres humanos, Judeus consideram Jesus como um outro ser humano que foi elevado erradamente ao estatuto de divino. Jesus foi um ser humano e nada mais.

Em relação a Jesus ser o messias, é preciso entender que o conceito judeu do Messias evoluiu durante a ocupação romana em Judeia. O messias nunca foi suposto ser um ser humano. A palavra messias vem da palavra hebraica Mashiah, que significa "ungido". O profeta Samuel foi o "Ungido" de Israel, como também foi o Rei David. Eles eram humanos, mas eram "ungidos", todos eram Mashiah em serviço divino. O Messias Judeu é suposto ser um homem ungido por Deus que cumpriria certos princípios. O Messias seria descendente do Rei David, ele acabaria com o domínio odioso romano (Jesus pregava submissão ao jugo Romano). Ele recolheria os Judeus dispersos em todo o mundo e ele iniciaria uma nova era messiânica depois do Dia do Julgamento.

Os Judeus não aceitaram Jesus porque ele não cumpriu os critérios Messiânicos, Jesus não fez nenhuma tentativa para terminar o jugo romano, de facto ele pregou a submissão ao domínio romano. Ele não recolheu os Judeus exilados, nem como os profetas disseram "Reinou de Oceano a Oceano, e desde o rio até ao fim do mundo". Na realidade, Jesus não reinou sobre ninguém. Durante a sua vida ele foi perseguido pelos seus inimigos e tinha que se esconder frequentemente.

Assim como ele não recolheu os Judeus dispersos, porque ele não iniciou uma era nova messiânica, porque ele não reinou sobre nenhum povo na terra. Para os Judeus isto é prova suficiente que Jesus não era o Messias.

Em relação à genealogia no novo testamento indicando que Jesus era descendente do Rei David. As descrições são conflituosas. Alguns autores traçam a linha de Jesus através de José, e outros através de Maria. Se José era o Pai de Jesus, então poderia se disser que era possível a Jesus ser o messias, mas ele não poderia ser o Filho de Deus. Se o Espírito Santo em vez de José tornou Maria grávida, então poderia se disser que Jesus era o Filho de Deus. Mas como a semente Davídica de José não estava envolvida na gravidez, não se pode dizer que ele era o messias. Concluindo Jesus não pode herdar a linha davídica através de José porque se diz que José não era o Pai de Jesus.

Se, se disser que Maria era descendente do Rei David, não importa também porque Jesus não poderia herdar o Reino de acordo com as leis da Tora. Pois está escrito que as filhas e as suas sementes não podem herdar desde que haja um herdeiro homem, e na geração de Jesus existiam muitos herdeiros Homem.

A maioria dos seguidores de Jesus eram Judeus. Eles acreditavam que ele era o seu messias, o homem que iria iniciar a era messiânica. Eles não o viam como divino, porque como Judeus, esta crença seria vista como blasfémia. Os Judeus seguidores de Jesus teriam sido um grupo insignificante se não fosse pela chegada de Paulo, um homem que nunca conheceu Jesus.

Foi Paulo que mudou a natureza do movimento Cristão. Depois de ter sido submetido a uma conversão mística. Paulo teve a necessidade de criar um esquema de redenção envolvendo a morte de Jesus que de nada tinha em comum com o Jesus histórico. De facto Paulo agia como se soubesse mais sobre Jesus do que Jesus. Enquanto Jesus disse "Não se dirigiam aos gentios, mas às ovelhas perdidas da casa de Israel" Paulo decidiu fazer precisamente o oposto e começou a pregar aos gentios. Enquanto Jesus nunca mencionou nada sobre o pecado original, Paulo afirmou que a morte de Jesus era necessária para redimir os pecados dos homens começado por Adão. Enquanto Jesus disse que ele não veio para mudar uma vírgula sequer da Lei da Tora. Paulo contradiz Jesus e disse que as leis de Moisés não poderiam salvar o ser humano e deveriam ser abandonadas, e que os rituais alimentares e o convénio com Abraão deveriam ser abolidos.

Os efeitos dos ensinamentos de Paulo permitiu a entrada de números largos de pessoas não judaicas no início do movimento cristão. Os números dos cristãos aumentou com os convertidos de origem pagã que trouxeram com eles as suas ideias pagãs até que o movimento estava completamente nas suas mãos.

Quando Paulo pregou aos pagãos que Jesus era o filho de Deus, os Pagãos convertidos aceitaram os seus ensinamentos e viram Jesus como sendo nascido de uma virgem assim como eram os Deuses pagãos. Como os Deuses pagãos tinham a aparência de homem e mulher, sobre a influência dos convertidos de origem pagã, o Deus cristão tomou a forma e a aparência de um Homem em Jesus.
O Conceito de morrer e ressuscitar dos deuses era bem conhecido entre os pagãos que constituíam a maioria dos cristãos convertidos. Por exemplo o culto do Deus Adónis era popular e envolvia cerimónias representativas do enterro e ressurreição de Adónis.

Noutro Culto, o culto de Dionísio, os crentes tinham uma refeição sacramental onde a carne e o sangue do Deus eram comidos que mais tarde ressuscitaria.

No Egipto, Osíris morreu e foi ressuscitado prometendo aos seus seguidores que todos seriam salvos se declarassem a a sua fé em Osíris. Também na Ásia menor a morte e ressurreição de Hércules era celebrada anualmente.

Para competir com os cultos pagãos, cristianismo tornou-se como eles. Desenvolveu rituais sacramentais para os iniciados para obterem a salvação e imortalidade. Os seguidores de Dionísio tinham uma comunhão especial que envolvia pão e vinho. Assim também os cristãos através do pão e vinho tomavam simbolicamente o corpo e sangue de Jesus. Assim como fé em Osíris e os segredos de Dionísio garantiam imortalidade e salvação, assim também a fé em Jesus era o critério necessário para garantir vida após a morte física. Assim como Hércules, Dionísio e Osíris que morreram e ressuscitaram assim também Jesus se diz que morreu e ressuscitou.

Demorou 3 séculos para o estrago ser feito, neste espaço de tempo onde o Deus do Universo-invisivel e para além de representação ser reduzido nas mãos cristãs ao estatuto de Deus que não defere em forma de outros Deuses pagãs. Enquanto os Judeus adoraram o Deus único, os cristãos disseram que existiam 3 partes do seu Deus- O Pai, o filho e o espírito santo. Enquanto na Jerusalém Judaica era proibido qualquer estátua de homem ou Deus para não profanar a cidade, era comum em Roma e Espanha e em todos os outros lugares do Império Romano encontrar estátuas de Jesus, Maria e de outros santos.

É fácil a nós, judeus, ver o erro que o cristianismo fez: Criaram um Deus à imagem do homem, um Deus na imagem de um Judeu conhecido como Jesus. Este é o erro fundamental do Cristianismo, mesmo assim incrivelmente é a fundação da sua religião. Nós sabemos que a vossa mensagem é falsa, mas vós proclamais ser a verdade suprema. Agarraram nas nossas escrituras sagradas, tiraram passagens fora de contexto, e inventaram interpretações forçadas para dar o sentido desejado às passagens proféticas. Eles pretendem ser o Novo Israel, eles que fizeram tudo possível para profanar e perverter tudo o que é sagrado ao Judaísmo.

Mas apesar de tudo, os cristãos receiam aquilo que temos para dizer. Esta é a razão que quando Cristianismo se tornou na religião oficial do Império Romano no ano 315, foi feito um acto criminal punido por morte a quem se convertesse ao cristianismo. Esta é a razão por que em todos os países cristãos regulamentos são feitos para restringir os direitos e privilégios dos Judeus...

..Judaísmo sempre ensinou que o homem é responsável por seus pecados. A crença que alguém possa sofrer para redimir os pecados é totalmente estranho à filosofia Judaica. Por esta razão a morte de Jesus para salvar os pecados dos homens não faz sentido nenhum aos Judeus.

Nós Judeus nunca tivemos a doutrina do pecado original. Depois do relato no jardim foi Éden no livro de Génesis, não se fez mais menção do pecado original na bíblia ou no talmude, o que nos dá uma indicação muita boa que este assunto não tem importância nenhuma. Nunca sacrifícios jamais foram feitos no Templo Judaico para redenção do pecado original. E como os Judeus nunca acreditaram no pecado mortal que necessita de alguém para os salvar, não existe razão para haver um salvador.

E mais, verdadeiro perdão dos nossos pecados é obtido sem intermediários. Através de arrependimento sincero, qualquer homem pode obter perdão do Altíssimo, abençoado seja ele. Teshuva o retorno a Deus e aos seus mandamentos, o retorno a um estado de santidade e arrependimento, é possível até ao pior dos pecadores.