5.7.08

QUEM ESCOLHE O CAMINHO

"António, um bem sucedido mercador, contratou Daniel, um carroceiro, para ajudá-lo a transportar algumas mercadorias até a cidade vizinha. António, que tinha medo de viagens, instruiu Daniel a controlar o cavalo durante todo o caminho, para que o animal não se desviasse e não acontecesse nada de mal. Apesar dos pedidos de António, Daniel aproveitou antes da viagem para comer bem e beber além da conta. Já na mesa Daniel começou a sentir muito sono, e logo o começo da viagem o balanço da carroça fez com que ele dormisse profundamente e soltasse as rédeas.Por um tempo o cavalo seguiu so eu caminho na estrada, mas logo ele percebeu que as rédeas estavam frouxas, e portanto poderia ir para onde desejasse. O cavalo olhou para os lados e viu lindos pastos verdes e lagos com água cristalina, e não pensou duas vezes: saiu da estrada e foi tranquilamente pastar. O campo era todo esburacado, e quando a roda passou num buraco mais fundo, a carroça capotou, ferindo o mercador e atirando toda a sua mercadoria para longe. O mercador levantou-se muito irritado. Aos berros, pegou o carroceiro pela camisa e gritou:- Seu tonto, eu não te avisei para prestares atenção ao cavalo, para que nada de mal acontecesse? Porque não me escutas-te?O carroceiro, meio sem jeito, ainda tentou justificar-se:- Sabe o que acontece, é que por alguns quilómetros eu supervisionei o cavalo, e verifiquei que ele se mantinha sempre no centro da estrada. Eu sei que o meu cavalo é muito inteligente e conhece o caminho. Nunca imaginei que ele se desviaria de repente.O mercador explodiu em gargalhadas, e falou:- Meu amigo, você diz que o seu cavalo é "inteligente"? Pode dizer que ele é um bom animal, que é bem treinado, mas não é nada mais do que um animal, pois é movido apenas pelos seus instintos, não pela sua inteligência. Portanto, quando um cavalo vê coisas que despertam o seu desejo, se não houver alguém controlando-o, certamente que se desvia do caminho. Era o seu trabalho ficar todo o tempo com as rédeas na mão, direcionando o cavalo para que ele não saísse do caminho"Explica o Chafetz Chaim que assim acontece connosco. Se a nossa parte racional solta as rédeas e deixa a parte dos desejos controlar, desviamo-nos do caminho correcto, e as consequências podem ser, muitas vezes, desastrosas.
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Na Parashá desta semana, Chukat, o povo judeu aproxima-se da terra de Israel e trava batalhas com os povos que viviam na fronteira. Uma das batalhas foi contra os Emorim, cujo rei era Sichon. O povo judeu pediu a Sichon permissão apenas para passar pelas terras dos Emorim, garantindo que não passaria pelas colheitas nem beberia da sua água, mas Sichon não apenas negou a passagem do povo judeu como também juntou o seu exército e declarou guerra. O povo judeu saiu vitorioso da batalha, e tomaram todas as cidades dos Emorim, inclusive uma cidade chamada "Cheshbon", a capital.Os comentaristas explicam que a cidade de Cheshbon era uma cidade que anteriormente pertencia ao povo de Amon, e que os Emorim haviam passado muitos anos tentando conquistar sem sucesso, até que contrataram Bilaam e o seu pai Beor que, através de um "poema", amaldiçoaram a cidade e permitiram finalmente a sua conquista, como está escrito "E em relação a isso disseram os "Moshlim" (poetas): Vamos a "Cheshbon", que ela seja construída e estabelecida como a cidade de Sichon..." (Bamidbar 21:27).Explica o Chafetz Chaim que cada palavra descrita na Torá tem vários níveis de significado, desde a explicação mais simples até entendimentos mais profundos. Um exemplo é este "poema" de Bilaam, que também pode ser entendido de uma maneira mais profunda. A palavra "Moshlim" também significa "aqueles que têm controle", e "Cheshbon" significa "fazer um balanço". Segundo este entendimento, qual é o ensinamento que o versículo nos transmite?No início da Criação D'us fez os anjos, seres que seguem apenas o lado lógico verdadeiro e não têm nenhum desejo ou vontade que os desvie. Depois disso D'us criou os animais, criaturas que não tem nenhuma sabedoria nem lógica, e vão atrás apenas de suas vontades. E no sexto dia D'us criou o ser humano, composto por estas duas forças contraditórias, isto é, uma Neshamá (parte mais elevada da alma) que está repleta de sabedoria e conhecimento, como um anjo; e uma Nefesh (parte menos elevada da alma), que é atraída pelos desejos do corpo, como um animal. Se o homem faz com que prepondere a sua Neshamá, isto é, as decisões racionais, ele é chamado de Tzadik (justo) e se compara aos anjos. Mas se a parte animal prepondera sobre a sua parte espiritual, isto é, ele toma as suas decisões a partir das vontades e desejos, afunda-se e cai ao nível de um animal, e é chamado de Rashá (malvado). Qual é a maneira de conseguir sempre tomar as decisões de maneira racional, sem que os desejos nos desviem?O sonho da maioria das pessoas é viver sem um chefe, isto é, abrir o seu próprio negócio. Mas estatísticas mostram que 75% dos novos negócios não duram mais do que poucos anos. Porque isso acontece? Pois o mundo dos negócios é muito enganador, e se o investidor não sabe as regras do jogo e não faz um balanço constante da sua empresa, ele quebra.. A pessoa inexperiente vê o dinheiro entrando e pensa que está cheia de sucesso, e muitas vezes não percebe que as saídas são maiores que a entrada. E assim a bola de neve vai crescendo até que chega o inevitável: a falência.A solução é o comerciante fazer constantemente o balanço da sua empresa. Saber quanto está entrando mas também quanto está saindo. Saber onde investir mais e onde não está tendo lucro. Saber que os stocks precisam de ser renovados todos os dias e quais os que praticamente não são consumidos. E se para um comerciante ter sucesso é necessário um balanço constante das suas atividades, muito mais para os seres humanos, que precisam de um balanço para verificar, em todos os seus actos, quais os aproximam dos anjos e quais os aproximam dos animais. Por isso, é uma obrigação do ser humano sempre verificar os seus actos e não deixar que a sua parte animal o desvie. E é esse o entendimento mais profundo do versículo. Os "Moshlim" são aqueles que conseguem chegar a controlar o seu instinto, e ensinam que a única maneira é através do "Cheshbon", isto é, de fazer um balanço dos nossos actos. São os nossos instintos que nos levam a cometer transgressões, e o balanço constante nos ajuda a evitá-las, pois se pensarmos o pouco de prazer que ganhamos com cada transgressão, comparado com o prazer eterno que perderemos, certamente não transgrediremos. O balanço constante dos nossos actos pode mudar a nossa vida, pois se numa empresa o que está em jogo é apenas o salário do fim do mês, na vida de uma pessoa o que está em jogo é a eternidade.