27.7.06

Trabalhe o seu lado exterior

Trabalhe o seu lado exterior e o interior conseqüentemente seguirá.
De Yaakov Astor

Sorria mesmo que o seu coração esteja partido
Ética dos pais 1:15
Shamai diz "Faça de seu estudo de Tora algo regular; fale menos e faça mais; e cumprimente a todos com um sorriso". (Ética dos Pais, 1:15)

"Quem conhece a principal habilidade que todo jogador sério deve saber?" eu pergunto à minha cativante platéia de jovens campistas. Eles sabiam que eu já fui jogador na escola e estão impressionados."Vejam", eu explico a eles, "há uma habilidade acima de todas as outras que um jogador sério precisa ter. Se vocês souberem lidar com essa habilidade, terão, então, uma enorme vantagem."Suas expressões curiosas me revelam que a atenção deles está voltada totalmente para mim.Eu paro...E paro por um bom tempo para permitir que o nível de tensão aumente o impacto do meu segredo."E esta habilidade...", eu digo"Sim, treinador, qual é?""É...""Fale, fale""A habilidade mais importante para um jogador de beisebol é...""É?""É saber como cuspir""O quê?""Sim. Todo mundo sabe que se você não sabe cuspir, não pode jogar beisebol."Você deve olhar o papel do jogador de beisebol. Se você se olhar e se sentir como um jogador de beisebol, e passar esta imagem aos outros que você espera que o tratem como tal, aí você será um jogador de beisebol ou, no mínimo, um melhor jogador de beisebol.(Claro, sempre é bom saber arremessar, bater e correr também.)E beisebol é como a vida. Às vezes, você tem que viver papéis que não sente ter...ainda.Segundo o que está escrito na ética clássica judaica "O exterior desperta o interior". Na psicologia moderna, isso é chamado de "Behaviorismo". Diferentemente de alguns behavioristas, o enfoque da Tora diz que cada um de nós tem uma alma, uma qualidade dormente pré-existente no interior, que é capaz de se destacar com a preparação e o treinamento adequados, assim como o carvão possui uma energia dormente capaz de se ativar com os métodos apropriados.Este princípio forma a base da nossa Mishná. Se trabalharmos o externo, o interno conseqüentemente seguirá.

Faça de seu estudo da Torá algo regular
Rabi Akiva foi um dos maiores eruditos do estudo da Torá. O que fez com que isso acontecesse de forma ainda mais notável foi o fato de ele ter começado a estudar a Torá somente com 40 anos! Mesmo depois de ter começado a estudar, ele ficou muito frustrado. Crianças absorvem melhor e mais facilmente as lições.Até que um dia, enquanto andava, entrou por acaso numa caverna e teve uma experiência transformadora. Viu uma pedra com um buraco bem fundo nela. Examinando mais de perto, viu que o buraco na pedra havia sido feito pela água, que caía na pedra - uma gota por vez, repetidamente. Akiva, então, raciocinou: "Se algo tão mole consegue moldar um buraco numa pedra tão dura, então as palavras de Torá, que são afiadas, podem fazer um buraco no meu cérebro e mexer no meu coração". E isto é o que o verso em Jó (14:19) afirma explicitamente: "Como as águas gastam as pedras...".Daquele dia em diante, ele começou sua subida constante até a grandeza, um dia de cada vez, dia após dia, ano após ano. Às vezes, a pessoa tem uma inspiração, e, assim como uma carga de adrenalina, faz coisas sobre-humanas em um pequeno período de tempo. Porém, a inspiração não dura. A meta é transformá-la em persistência. Como diz o velho ditado "sucesso é uma parte de inspiração e 10 de persistência".Nossa Mishná começa nos aconselhando a fazer de nosso estudo da Torá um hábito regular, firme e diário. Mesmo se estivermos nos sentindo sem inspiração, cansados, frustrados e desanimados, devemos ir até àquela aula ou abrir aquele livro (ou fazer os dois). Se nos comprometermos a um estudo regular, independente de inspiração, adquirimos uma das mais importantes ferramentas para o crescimento pessoal. E a realidade é que, geralmente, nos sentimos inspirados quando a aula começa ou quando começamos a ler algumas páginas do livro.Uma importante Yeshivá na Europa instituiu um período diário de cinco minutos de estudo. Cada aluno era obrigado a escolher um livro e estudá-lo por cinco minutos todo o dia no mesmo horário. Alguns meses depois, eles terminaram o livro. Além do conteúdo do livro, os alunos absorveram uma grande lição através deste livro: que grandes coisas podem ser adquiridas com consistência persistente e fiel.

Fale menos e faça mais
Continuando com o enfoque behaviorista, a Mishná nos aconselha a fazermos mais e falarmos menos. Certa vez, ouvi o Rabino Hanoch Teller contar uma experiência que teve num avião. Ele estava sentado perto de um pastor, e, durante algumas horas, eles tiveram várias discussões teológicas, as quais, ainda que educadas, de vez em quando viravam discussões do tipo " minha religião é melhor do que a sua". De repente, no fim do vôo, um passageiro sofreu um ataque cardíaco. Todos estavam assustados vendo a equipe de vôo cuidar dele. Quando sua condição se estabilizou, as pessoas voltaram aos seus assentos e pensamentos. Todas não, o Rabino Teller não voltou para o seu lugar. Ele tirou seu chapéu e passou de passageiro em passageiro pedindo que colocassem algumas moedas para ajudar o homem que sofreu o ataque. Quando o avião pousou, ela já tinha uma boa quantia de dinheiro. O Rabino Teller explicou que este foi seu primeiro impulso, pois, desde garoto, recolhia dinheiro para ajudar aos mais necessitados, andando de um lado a outro da sinagoga, todas as manhãs, com uma pushka (jarro para pôr dinheiro). Assim, as pessoas podiam dar tzedaká (caridade). Este foi o argumento teológico favorecendo o Judaísmo: o instinto judaico para agir com caridade e compaixão, em tempos de crise, fala mais alto que qualquer palavra.
Na verdade, a filantropia é um "instinto" judaico; em partes, porque foi infiltrada na cultura todos esses milênios através de repetidas ações. Pessoas são pessoas, através de denominações e religiões. Algumas tendem a ser mais caridosas do que as outras. Contudo, a personalidade pode ser treinada. O Judaísmo nos ensina que é preferível dar cem notas de um real para cem pessoas do que dar uma de cem para uma pessoa. Através da persistente doação, o ato fica inculcado em nós. Jogue algumas moedas na pushka todo dia mesmo que seja somente para treinar o ato de dar. Curiosamente, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Bar Ilan, os judeus ortodoxos dão de quatro a sete vezes mais do que seus companheiros não-religiosos, mesmo estando em um nível econômico mais baixo. Um estudo da Universidade Gutman, que é afiliada ao Instituto para a Democracia em Israel (Israel Institute for Democracy), expôs a consciência social daqueles que se dizem anti-religiosos. Neste grupo, somente 28% vê a ajuda ao próximo como um valor importante na vida e 88% se recusa a dar. Entre os judeus observantes em Israel, o estudo mostra que 90% vêem a caridade, a ajuda ao próximo, como um ato de suma importância.Mesmo nas comunidades mais pobres em Jerusalém, a caridade é praticada em um nível inigualável. Centenas de milhões de dólares são angariados regularmente para viúvas e órfãos através de contas de casais, que também passam por dificuldades. Centenas de sociedades beneficentes cobrem desde remédios até vestidos de noiva e fraldas, e tudo isso é encontrado em anúncios em listas telefônicas. Se, por acaso, as pessoas não têm dinheiro para ajudar, elas se tornam voluntárias. O impulso de dar pode ser um instinto natural, mas deve ser nutrido. As comunidades judaicas, durante anos e até hoje, têm alimentado este instinto. O ato de dar pode ser treinado e inculcado até que se torne algo natural. "O exterior desperta o interior."

Sorria mesmo que o seu coração esteja partido
A última frase da Mishná pode ser resumida pelas linhas de um famoso aforismo contemporâneo: "Sorria mesmo que seu coração esteja partido".Um grande rabino disse uma vez que a aparência de uma pessoa é um "domínio público". O que significa que temos a obrigação de sorrir, mesmo que estejamos tristes interiormente. Vivemos em um mundo com outras pessoas, assim sendo, nossa face pode afetar o humor do outro ser humano. A alegria é contagiosa. Temos a obrigação de fazer os outros se sentirem felizes e não fazê-los se sentirem tristes. E o espelho do mundo nos dá o que mostramos a ele "como na água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem" (Provérbios 27:19). Se lançarmos um sorriso ao próximo, eles lhe devolverão o sorriso e você, por sua vez, vai sentir uma mudança em seu estado interno. Alguns dizem que sorrir quando se está triste é "falsidade". Contudo, é falsidade negar que nós humanos precisamos um pouco dela e de um pouco de "exterioridade" para nos ajudar a passar pelas dificuldades da vida. É um erro negar que "o exterior desperta o interior". Houve um estudo feito uma vez em que crianças com Síndrome de Down foram treinadas a sorrirem, mesmo sendo algo forçado, um sorriso plástico. Contudo, o resultado do estudo mostrou que as outras pessoas lhes trataram melhor, o que fez com que se sentissem melhores em relação a si mesmas, o que as fez sorrir naturalmente. Quem disse que o sentimento de tristeza e apatia é o nosso estado de espírito verdadeiro? Ninguém nasce assim. Você pode sacudir a apatia. Levante. Pule. Grite com toda a força de seus pulmões. Não estamos falando de um estilo de vida hipócrita. Falamos do ato de usar algo externo para despertar algo interno, mesmo se demorar um bom tempo para que esse lado interno se destaque e venha naturalmente. Então, aprenda a usar o "externo" para despertar o "interno" e um dia, você se verá vivendo com a imagem que projetou para si mesmo, o que, por sua vez, o fará se sentir melhor e o ajudará a ser uma pessoa melhor.
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