25.7.06

A PARASHA MATOT E OS ANUSIM

Aqui no Nordeste ainda estamos chocados com aquela rejeição feita no Rio de Janeiro. Um “anuse” notável, obreiro da Causa do Retorno, tendo falecido não pôde ser sepultado como judeu. Isso lhe foi negado.

Aqui em Natal, RN, em nossa Sinagoga Braz Palatinik, e sua “H:eVRaH QaDYSHaH”, já temos dois “bnei anusim” sepultados como completos e verdadeiros judeus.

E chegámos a essa “parashah” Matot, com as instruções do ETERNO, às Tribos dos B’ney Israel. ELE mandou uma expedição punitiva aos Midianitas, a qual passou a espada os homens e as mulheres, mas trouxe como cativas as meninas e as moças virgens.

Mesmo sob o “status” de servas, trinta e duas mil moças midianitas ingressaram no Povo Judeu. Algumas delas foram tomadas, inclusive, para servirem no Tabernáculo, o futuro Templo.

Por quê é tão difícil, hoje, que um descendente do Povo, cujos avoengos passaram por uma terrível perseguição conhecida e documentada, seja considerado pertencente a este Povo?

Concordamos inteiramente que o filho de mãe judia nasce judeu. Mas o que não podemos aceitar, à luz dessa parashah, à luz da Torah e de todo o “T:aNaKH” é que se exijam provas difíceis de se conseguir.

Aliás, mesmo nessa linha de filiação materna judia, os anusim, oriundos de Portugal, são judeus. A “pureza” de linhagem materna do Povo todo não se confirma tanto assim.
Vejamos, logo no nascimento da Tradição. Pai Avraham e Ima Sara geraram um filho sanguíneo, Isaac. Mas nosso Patriarca circuncidou os 318 servos de sua Casa, incluindo-os, pois, na Aliança (Bereeshyt –Gênesis- 14: 14-15 e 17: 10-13). No começo, pois, a relação era de 318 “de fora” para 1 membro sanguíneo, mas todos incluídos no Concerto.

Tem mais. Os dois tri-netos de Avraham, Efráhime e Menasseh, nasceram da egípcia Asenate e eram netos de Potífera, sacerdote egípcio, ou seja, um avô de israelitas que era sacerdote de um culto pagão (Bereeshyt 41: 45 ).

Por quê tanta exigência inatingível para com os b’ney anusim? Pois Efrahime e Manasseh se tornariam cabeças de tribo, príncipes dos israelitas, e motivo de bênção. Nós abençoamos nossos filhos dizendo “Que o SENHOR te faça como a Efrahime e a Menasseh”.

Agora, nessa parasha, ingressam trinta e duas mil mães em potencial para os israelitas, que não são da “linhagem materna” da Aliança.

Há quem argumente que os 318 servos circuncidados e o ingresso de Efrahime e Menasseh se deram antes da Lei do Sinai. E que depois da Lei ter sido comunicada, agora se justificariam as exigências rabínicas. Mas essa inclusão das trinta e duas mil “imaot” –mães- não judias se deu após o Sinai. Pelo menos 40 anos após a vigência da Lei.

Argumentam outros que, tendo sido os anussyme batizados como cristãos, agora é nescessário que se convertam de volta ao Judaísmo. Nós temos dois argumentos contrários a essa posição:

1- as conversões forçadas não são actos voluntários e, portanto, carecem de validade. Reconhecer validade seriam juizes judeus validando os inquisidores;
2- temos o caso paralelo da converção forçada de todos os judeus e judias ao culto de Marduque, na Babilônia (Daniel 1: 2 e 3: 3-6).

O Judaísmo prosseguiu como que ignorando essa conversão em massa. Nenhuma celebração de retorno ou reconversão. O que houve, realmente, foi o ignorar ou desconsiderar a conversão forçada.

Dezenove séculos depois o RAMBAM instruiu sobre isso, como mostrámos em nosso trabalho “ NOS PASSOS DO RETORNO”.

Para encerrar, queremos deixar dois conselhos:
- Primeiro aos judeus e judias, que não vêm da Inquisição, que recebam os b’ney anusim em suas comunidades e em suas sinagogas, como os judeus que eles de facto são. Que não sejam vocês apanhados na Reprovação do ETERNO por Seu Profeta Ezequiel, no capítulo 34. O ETERNO reprova duramente aqueles que não acolhem os dispersos que retornam.
- Segundo, nosso conselho aos b’ney anusim. Não se deixem levar por pseudos argumentos de rejeição. Não há nada na Lei Judáica que os rejeite. Ao contrário, o T:aNaKH está replecto de afirmações de que Vocês retornarão ao seu Povo, “AOS SEUS CORAÇÕES” (D’VaRYMe – Deuteronômio – 30: 1-2 ).

Não aceitem conversão, nem peçam para serem aceitos. Mas afirmem positivamente que vocês pertencem ao Povo Judeu. Se argumentarem com minúcias sobre pretensa “pureza”, lembre a eles que nem o mais notável rabino pode garantir que não descende do sacerdote egípcio, ou dos 318 servos de Avraham ou das trinta e duas mil midianitas. Aliás o próprio Rei David, o mais notável líder judeu e modelo do futuro Mashiah tem uma bisavó moabita. Ruth e Boáz são bisavós do Rei David ( Ruth 4: 21-22 ).


Com Shalom!

João F DIAS MEDEIROS
BRASIL
joaofmedeiros@uol.com.br