29.4.07

Doña Gracia Nasi




A Europa renascentista do séc. 16, os horrores da Inquisição e o poderio do Império Otomano são o pano de fundo Para a vida de Doña Gracia Nasi. nascida em portugal, O destino a coloca, ainda jovem, à frente do império dos Mendes, família das mais ricas e poderosas da Europa renascentista.

"La Señora", como também era chamada, foi uma mulher extraordinária que marcou de forma profunda a história dos judeus sefaraditas. Doña Gracia tanto era respeitada e admirada por seu poder financeiro, cultura e elegância quanto pela firmeza de caráter e compaixão que a distinguiam. Estava sempre pronta a ajudar seu povo e a assegurar a sobrevivência "dos remanescentes de Israel". Desempenhou também relevante papel na vida econômica e política de vários países. Destemida, enfrentou reis e rainhas, não se deixando intimidar por ser mulher nem por seu "sangue judeu".
La Señora viveu em uma época turbulenta e perigosa para os judeus, na Península Ibérica. Sua expulsão da Espanha, em 1492, e a conversão forçada, em Portugal, em 1497, haviam desencadeado um período de muito sofrimento. Os Mendes, assim como milhares de outros judeus, escolheram o exílio à conversão, na Espanha de 1492. Mas, quando pensavam ter encontrado refúgio em Portugal, foram brutalmente forçados a aceitar o batismo, tornando-se "conversos" - anusim, em hebraico. Também chamados de cristãos novos ou, de forma pejorativa, "marranos", os recém-convertidos eram cristãos na aparência, mas judeus fiéis às Leis de Moisés no coração.
Em 1535, após a repentina morte do marido, D. Gracia, além da imensa fortuna dos Mendes, herda a missão de proteger os conversos. Passa a dedicar a vida e grande parte de seu patrimônio a seu povo. Suas vicissitudes se entrelaçam com a dos "remanescentes de Israel", dos quais se torna líder e fonte de orgulho. Enquanto permaneceu na Europa, sua vida foi uma constante fuga e ela só encontra um abrigo seguro quando se estabelece no Império Otomano, onde assume abertamente a fé ancestral de seu povo.
Afirmar que La Señora salvou a vida de milhares de judeus das garras da Inquisição é subestimar seu vital papel. Samuel Uísque, famoso cronista judeu, na obra Consolação às Tribulações de Israel, a chama de "coração" de seu povo. No entanto, apesar de seu povo se ter apaixonado por ela, seu nome esteve praticamente esquecido pelas grandes massas, durante séculos. Nem se tem uma imagem de D. Gracia. A única efígie que se acreditava ser dela, cunhada em uma moeda da época, não lhe pertence - trata-se de sua sobrinha, também chamada de Gracia Nasi. Apenas os acadêmicos conheciam sua vida até que, em 1948, Cecil Roth publica o livro Doña Gracia, of the House of Nasi. Em 2002, uma biografia publicada pela jornalista e escritora Andrée A. Brooks, especialista em História Sefaradita, revelou novos fatos sobre a vida da grande dama e da época em que viveu. Durante seis anos, a autora pesquisou milhares de documentos, em sete países. O resultado foi uma rica biografia intitulada The Woman who Defied Kings, a mulher que desafiou reis.

Infância em Portugal
Doña Gracia nasceu em Lisboa, no seio de proeminente família de conversos, em meados de 1510. Seu pai, Álvaro, era um rico comerciante. A mãe, Filipa, pertencia à outra poderosa família de conversos, os Benevistes. Gracia, assim como a irmã, Brianda, casa-se com um dos irmãos de sua mãe. A história das duas famílias se entrelaça. Em 1492, faziam parte do grupo de seiscentas famílias abastadas de judeus espanhóis que obtiveram permissão para entrar e se estabelecer em Portugal, por tempo indeterminado. Convertidos à força, em Portugal, durante os terríveis acontecimentos de 1497 (ver artigo pág. 44), a família paterna de Gracia adotou o sobrenome cristão "de Luna", enquanto os Benevistes optam pelo nome "Mendes". E assim como milhares de outros conversos, passaram a viver como judeus secretos, procurando preservar sua religião e identidade, apesar da perseguição constante.
Ao ser batizada, Gracia recebeu o nome cristão de Beatrice de Luna, que era obrigada a usar para o mundo exterior e que consta na maioria dos documentos oficiais da época. Mas, como era costume entre os conversos, recebeu o nome judaico de Gracia. Usaria este nome só na intimidade, até chegar às terras otomanas e voltar abertamente ao judaísmo. Apesar de haver milhares de documentos sobre sua vida adulta, não foram encontrados relatos diretos de seus primeiros anos. Extremamente inteligente, Gracia recebera sólida educação e provavelmente também boa formação judaica. Pois, por ocasião da conversão forçada, D. Manuel prometera não devassar, por 20 anos, a vida dos recém-convertidos. Elegante e sofisticada, seus modos eram impecáveis. Uma verdadeira rainha, "ha-Guiveret", como seu povo a chamava, La Señora tinha grande apego ao judaísmo e o fato de ser uma conversa norteou toda sua vida. Não suportando o fingimento que era imposto a seu povo, almejava viver em lugar onde não precisasse manter sua condição judaica em segredo.

A "Casa dos Mendes"
Em 1528, ao se casar com Francisco Mendes, seu tio materno e um dos homens mais poderosos de Portugal, Doña Gracia dá o primeiro passo em direção ao lugar central que ocuparia na história judaica. Francisco constituíra um império comercial e financeiro, juntamente com o irmão, Diogo. Tendo filiais em Lisboa e Antuérpia, onde este último se fixara, em 1512, a "Casa dos Mendes", uma das mais poderosas da Europa renascentista, tinha interesses econômicos em vários países. Concedia também vultosos empréstimos a governantes, entre os quais o Imperador Carlos V, rei de Portugal, e Henrique VIII, da Inglaterra.
A família Mendes nunca abandonou as Leis de Moisés. Documentos emitidos por cortes judaicas se referem a Francisco e a Diogo como "Rabis Anusim", os que conduziam as orações entre os conversos. E era em prol destes que os irmãos trabalhavam, pois tinham profundo senso de responsabilidade por seu povo, um sentimento que não media desafios ou perigos.A organização, extensão e complexidade das operações coordenadas pelos irmãos Mendes e outros conversos contradizem a noção de que os judeus da época não se organizaram para lutar contra as perseguições. Durante anos lideraram os esforços para tentar impedir a instalação da Inquisição em Portugal. Seu rei, afundado em dívidas, visando apoderar-se da riqueza dos conversos, pedira ao Vaticano sua instalação. Como a Inquisição somente podia ser estabelecida através de bula papal, altas somas eram periodicamente enviadas à Cúria romana pelos judeus convertidos. Não era segredo, em Portugal, que a haviam subornado. Mas, cientes de que esta acabaria sendo instalada, montaram e financiaram - a partir de 1531 até meados de 1555 - rotas de fuga para os que quisessem viver em regiões mais tolerantes. Apesar dos perigos que teriam que enfrentar, a simples idéia de apodrecer nas prisões portuguesas ou morrer nas fogueiras inquisitoriais fazia milhares de pessoas optarem pela fuga. Rabi Yeoshua Soncino, erudito do século 16, fez a seguinte afirmação sobre os Mendes: "...Ajudavam seus irmãos de corpo e alma... entendendo ser maior a mitzvá de favorecer os demais do que a de salvar a própria vida".
Em 1535, Francisco morre, repentinamente, deixando sua parte na incalculável fortuna dos Mendes para Doña Gracia e sua única filha, Anna, conhecida por seu nome hebraico, Reyna. A jovem viúva tornava-se, assim, responsável não apenas pelos negócios da família, mas também pelo prosseguimento das atividades clandestinas do marido. Dona de seu destino, passa a tomar suas próprias decisões. Deste privilégio não irá mais abrir mão e, apesar de sua juventude e solidão, decide não voltar a se casar.

A primeira fuga: de Lisboa para Antuérpia
Dois acontecimentos fazem-na ver que chegara a hora de deixar Lisboa. Em 1536, o Vaticano autoriza a instalação da Inquisição, em Portugal. Some-se a isso o fato de o Rei português, querendo apoderar-se da fortuna dos Mendes, tenta levar Reyna para a Corte para casá-la com um cristão-velho e, assim, pôr as mãos na herança da jovem. D. Gracia não perde tempo. Alegando ter negócios na Antuérpia, consegue do Rei a permissão de sair de Portugal, acompanhada da irmã Brianda, da filha Reyna e de Juan e Bernardo Micas (nomes cristãos de D. Joseph e D. Samuel Nasi). Seu cunhado Diogo organiza a fuga. Seria a primeira de muitas.
Aos 27 anos, chega à Antuérpia, onde é recebida de braços abertos. Durante toda sua vida, foi vista como uma oportunidade de ouro, onde chegava, pois, além de todos os negócios que levava consigo, ela própria era um chamariz para que outros conversos, ricos e talentosos, a seguissem. Doña Gracia podia também conceder vultosos empréstimos a governantes e poderosos, e em várias ocasiões, usou esta arma para salvar a vida de milhares de judeus.Na Antuérpia, próspero centro comercial, que integrava os domínios do Imperador Carlos V, Gracia passa a trabalhar com o cunhado Diogo. Em pouco tempo, torna-se uma hábil mulher de negócios e aprende sobre as rotas de fuga, cada vez mais essenciais, à medida que aumentava a pressão da Inquisição.
Em 1538, um ano após sua chegada na Antuérpia, Ercole II, Duque de Ferrara, faz o primeiro contato diplomático com Doña Gracia para convencê-la a viver em seus domínios. Antes de considerar a proposta, ela faz uma exigência: qualquer converso que se estabelecesse em Ferrara teria permissão de voltar à sua fé, com garantias de não enfrentar a Inquisição, no futuro. Ansioso em ter a riqueza e conhecimentos dos judeus ibéricos em seus domínios, o duque concorda. Ferrara torna-se, assim, o único refúgio seguro, na Europa cristã, onde os conversos podiam voltar à sua fé sem temer represálias - isto é, até a morte de Ercole II. A própria Doña Gracia só iria para Ferrara dez anos mais tarde, em 1548.
Na Antuérpia, torna-se mais intensa a perseguição aos conversos e La Señora consegue convencer Diogo a deixar a cidade, mas ele acaba falecendo, em 1543. Conhecedor das habilidades da cunhada, de sua força de caráter e comprometimento com a causa dos conversos, Diogo a nomeia, em testamento, tutora da filha e responsável pela administração de seu patrimônio. No futuro, este fato iria provocar graves desavenças entre ela e a irmã Brianda, esposa de Diogo. Aos 33 anos, Gracia Mendes assume o comando de uma das maiores fortunas da Europa renascentista. Habilmente consegue impedir o confisco dos bens do cunhado pelo Imperador Carlos V e pela rainha Marie.
Mas, endividado, o imperador não pretendia desistir da fortuna dos Mendes e, no ano seguinte, arquiteta casar a jovem Reyna com um nobre cristão. Quando Doña Gracia é convocada pela rainha para tratar da boda, indignada afirma que não haveria casamento algum. Preferia "morta e afogada a filha do que casada com um cristão". Apesar de saber que sua recusa teria graves conseqüências, filha sua não se casaria fora de sua fé.
Logo a seguir, recrudesce a perseguição aos conversos e Doña Gracia decide deixar para sempre a Antuérpia. Mas, não partiu sem antes conseguir a libertação de todos os conversos presos e reaver a alta soma que fora obrigada a emprestar à Coroa, após a morte de Diogo. Tinha melhor uso para o dinheiro do que deixá-lo nas mãos de governantes cristãos. Em 1544, deixa a cidade com a filha, a irmã, a sobrinha, Don José e Don Samuel e seus auxiliares - todos conversos. O destino, Veneza.

A vida na Itália
Após uma viagem longa e difícil pelas estradas da Europa, no final de 1545, Doña Gracia e sua comitiva chegam a Veneza. Na época, viviam na cidade cerca de 1.300 judeus. Para ela, talvez tenha sido a primeira vez em que teve contato com judeus que seguiam abertamente sua fé. Apesar da relativa tolerância dos venezianos, desde 1516 os judeus eram obrigados a viver dentro do gueto. Mas, como os Mendes mantinham a aparência de cristãos, em momento algum lhes foi sugerido viver no gueto ou usar roupas especiais.
De fato, naquela época, contanto que se mantivessem as aparências, pouco importava aos líderes da Sereníssima que, na intimidade, os conversos seguissem as Leis de Moisés. O que importava era o inestimável valor comercial e financeiro que a presença de Doña Gracia trazia à cidade.
Em 1548, quando uma relutante Veneza cede às pressões papais e a Inquisição se instala na cidade, Doña Gracia inicia os planos para sua ida para o Império Otomano. Entretanto, a rivalidade entre as irmãs Gracia e Brianda torna-se briga declarada. Brianda estava decidida a ter acesso à herança do marido e não queria viver com a irmã no Império Otomano. Por seu lado, Gracia considerava a fortuna dos Mendes um legado sagrado, a ser usado para ajudar o seu povo, e, conhecendo os hábitos perdulários da irmã e sua falta de comprometimento com a missão da família, não a quer próxima à fortuna. Brianda, então, toma a terrível decisão de denunciar a irmã ao Senado veneziano. Revela-lhes que ela era judaizante - acusação gravíssima à época - e, como se não bastasse, que pretendia estabelecer-se no Império Otomano, levando consigo toda a sua fortuna.
Mais uma vez Doña Gracia demonstra estar sempre um passo à frente de seus inimigos. Não espera para ser convocada perante o Senado e foge, em 1548, para Ferrara. Ao mesmo tempo, informa ao sultão Suleiman, o Magnífico (1520-1566), sua intenção de viver no Império Otomano. Ao sultão agradava a idéia de ter uma banqueira com tamanha fama internacional em seus domínios. Sua proteção se tornaria um fator determinante para a futura segurança da família Mendes.
Historiadores têm levantado a hipótese de ter sido em Ferrara que Doña Gracia voltou abertamente ao judaísmo. No entanto, os documentos pesquisados por Andrée A. Brooks desmentem a versão. Mas, sem dúvida, foi lá que D. Gracia se torna uma grande mecenas, realizando sua antiga paixão - editar livros. Queria, com isso, preservar o judaísmo para uma geração que perdera contato com sua história, cultura e tradições. Estava determinada a transmitir, às futuras gerações, os conhecimentos necessários para enriquecer a alma.
Quatro importantes obras publicadas na cidade levam dedicatórias pessoais à sua pessoa. Uma é a famosa Bíblia Hebraica, conhecida como Bíblia de Ferrara, publicada em1552. Traduzida para o ladino, a obra vai ser utilizada, nos séculos 16 e 17, por todos aqueles que não sabiam ler hebraico. Em 1553, Samuel Uísque publica Consolação às Atribulações de Israel, onde retrata os trágicos acontecimentos que se abateram sobre os judeus da Península Ibérica e a dedica "àquela que, por sua benevolência, tornara-se credora da gratidão de todos os judeus portugueses".
A partir de 1552, a Inquisição se alastra com mais força por toda a Europa; e, com esta, o ódio em relação aos judeus e conversos. Mesmo a Itália, até então relativamente tolerante, tornara-se perigosa. Doña Gracia sabia que chegara a hora de deixar o continente europeu, para sempre. Volta por um breve período a Veneza, apenas a caminho do Império Otomano. Só consegue seguir viagem com sua filha Reyna, no outono de 1552, graças à intervenção pessoal do sultão Suleiman, que enviara um representante pessoal à Sereníssima com a ordem de acompanhar a comitiva até terras turcas.
Devem ter sido momentos difíceis para La Señora. Além de ter que abandonar tudo o que conhecia para viver em terras estranhas e enfrentar uma viagem perigosa, não conseguira cumprir os desejos de Diogo. Não consegue levar consigo a irmã Brianda nem a sobrinha, Gracia, La Chica. Deixa-as para trás, em meio a grandes perigos. Em Roma,o papa Julio III ordenara que todos os livros em hebraico fossem queimados e estava sendo atendido mesmo em Veneza e Ferrara. Ademais, o Senado a obrigara a entregar à Brianda parte da fortuna da família - aquele legado que, em seu entender, tinha uma missão muito mais nobre.

Doña Gracia Nasi no Império Otomano
Segundo um cronista da época, a entrada de Doña Gracia em Istambul, em 1553, foi majestosa: "...quarenta cavalos e quatro carruagens cheias de criados e damas espanholas". O sultão Suleiman, o Magnífico, exultava com sua vinda, pois tinha consciência dos benefícios econômicos e financeiros em que o fato implicava. Suleiman atendera uma série de exigências que Gracia impusera, entre as quais a permissão de se vestir como desejasse, e não como a lei muçulmana obrigava os outros judeus a se vestir. Esta extraordinária concessão foi estendida a todos os integrantes de sua comitiva.
Um dos primeiros atos da Señora, foi assumir abertamente o judaísmo. Abandona o nome de Beatrice e passa a usar Gracia, seu nome judaico. Curiosamente não adota o sobrenome Benevistes, mas sim Nasi, cujo significado é o de líder secular e político. Doña Gracia se instala em uma suntuosa mansão no Gálata, bairro perto do Bósforo, habitado por judeus e europeus.
Na época, Istambul já era um importante centro judaico. Para os turcos, este povo era uma talentosa minoria; milhares de refugiados ibéricos, atraídos pela tolerância turca, haviam encontrado refúgio no Império Otomano. Muitos fizeram de Istambul seu lar. Antes de 1492, viviam na cidade apenas mil judeus; em 1553, somavam aproximadamente 15 mil.
No início de 1554, chega a Istambul D. José, seu braço direito, que também retorna abertamente ao judaísmo. É circuncidado e abandona o nome de Juan Micas, adotando o de José Nasi. No ano seguinte, ele desposa Reyna. Um dos maiores sonhos de Doña Gracia se realizava - casara a filha segundo as Leis de Moisés.
Seus negócios prosperaram na Turquia e Gracia se torna líder da comunidade empresarial local.Além disso, devido ao profundo conhecimento dos assuntos ligados à Europa pelas informações que recebia de seus agentes, torna-se influente na corte turca. Em pouco tempo, D. José torna-se amigo e conselheiro do sultão, assumindo papel cada vez mais importante nos assuntos internos turcos e na vida dos judeus.
Fontes judaicas da época se referem a Doña Gracia, nesse período, como ha-Guiveret. Do momento em que apeou de sua carruagem, ocupa entre os judeus do Império Otomano, chamados de levantinos, o status de rainha, de líder absoluto, posição jamais ocupada por uma mulher - muito menos, uma conversa. Sua benevolência e amor pelo judaísmo pareciam não ter limites, sempre acudindo aqueles em perigo ou necessidade. Em seu suntuoso palácio alimentava diariamente cerca de 80 judeus carentes, além de sustentar, em Istambul, um lar para os pobres e doentes. Significativas eram as somas que doava para pagar o resgate de judeus capturados pelos piratas, um dos grandes perigos enfrentados por todos os que cruzavam os mares. Fundou escolas em todo o Império Otomano, estimulou a educação judaica e subsidiou a publicação de livros. Tornou-se patrona da vida religiosa de Istambul, além de fundar sinagogas e ieshivot nas cidades mais importantes do Império. De todas as sinagogas que fundou, só a de Ismir, chamada "La Sinyora", funciona até hoje de forma ininterrupta, apesar de sua estrutura ter sido reconstruída.
Em 1554 cumpre o pedido que Francisco lhe fizera em seu leito de morte - ser enterrado em Jerusalém. Traz da Europa os restos mortais do marido e dos pais, enterrando-os no Monte das Oliveiras. Dois anos mais tarde, é abalada pela notícia da morte de Brianda, em Ferrara. Não querendo ver a sobrinha, Gracia, La Chica, casada com um cristão, ela manda D. Samuel, irmão mais velho de D. José, de volta para Ferrara para com ela se casar. Historiadores acreditam que a famosa medalha com o retrato de Gracia, La Chica, tenha sido cunhada por ocasião do casamento. Só no final de 1559 o casal se muda para Istambul.

Tragédia em Ancona
Apesar de viver longe, ha-Guiveret jamais esqueceu os conversos que ainda estavam na Europa. Em 1556, enfrenta Paulo IV - um dos papas mais anti-semitas da história - em Ancona, importante porto italiano.
Quando, em 1555, o cardeal Caraffa, responsável por transformar a moderada Inquisição italiana em um instrumento de terror, é elevado ao Papado, judeus e conversos da Europa sabiam que grande sofrimento os aguardava. Caraffa odiava os judeus e via todo converso como um apóstata. Um de seus primeiros atos foi a criação do gueto compulsório.
Em 1556, ignorando todos os privilégios outorgados pelos papas anteriores, a Inquisição prende 90 prósperos mercadores conversos, em Ancona, acusando-os de serem judaizantes e apóstatas. Se não houvesse "arrependimento", a pena para tal acusação era a fogueira. Antes que algo pudesse ser feito, os presos foram cruelmente torturados. Segundo um observador da época, os motivos financeiros atrás desta manobra eram fortes, pois esta permitiria que o papa e Carlos Caraffa, seu sobrinho, colocassem as mãos nas riquezas dos conversos. Como resultado das prisões, o caos financeiro se apodera de Ancona. Além dos problemas econômicos criados pelo confisco dos bens dos presos, outros conversos, com medo da Inquisição, fogem da cidade, indo para Pesaro. Nenhum apelo feito por cidadãos de Ancona ao papa, para libertar os conversos, foi aceito. Determinada a enfrentar o Papa Caraffa, D. Gracia pede pessoalmente ao sultão Suleiman para intervir. Atendendo o pedido, o sultão intercede junto ao Papa que, surpreendentemente, recusa o pedido de clemência. Nesse ínterim, 65 prisioneiros conseguem fugir, mas nenhum esforço consegue salvar os 25 restantes. Em junho de 1557, 24 conversos são queimados e um se suicida.
Desta vez, porém, em uma atitude sem precedentes, os judeus estavam prontos para revidar e decidem boicotar o porto de Ancona. Um dos mais atuantes e determinados líderes do movimento é justamente Gracia. Segundo Andrée A. Brooks, apesar de não ser a idealizadora do boicote - como vários historiadores chegaram a acreditar - documentos mostram que ela foi um de seus grandes vetores. Não poupou esforços para convencer outros judeus da necessidade de aderir e respeitar o boicote, alertando-os sobre as conseqüências de um possível fracasso. Infelizmente, o boicote não foi bem-sucedido, já que os os judeus não apresentaram uma frente unida.

Vivência em Tiberíades
No final de sua vida, Doña Gracia tenta realizar um sonho acalentado há mais de uma década - criar um "Estado Judaico", um local seguro que servisse de refúgio para todos os judeus. Como a Terra Santa era então parte do Império Otomano, a idéia se tornara plausível. A Señora escolhe Tiberíades para seu projeto, apesar do local estar, como relatara em 1547 um viajante judeu, "deserto e em ruínas". Em 1560, Gracia apresenta ao sultão Suleiman um pedido formal para o arrendamento do local. Foi imediatamente atendida.
Durante séculos os historiadores acreditavam que a alma do projeto havia sido D. José, mas documentos recém descobertos revelam que ela o encabeçara. Concordando em pagar pelo arrendamento mil ducados de ouro ao ano, é nomeada "cobradora de impostos" - posto político que implicava em uma infinidade de direitos legais. Apesar da oposição das autoridades turcas locais, Suleiman via o projeto com bons olhos. Assim, sob a responsabilidade e a autoridade de Doña Gracia, Tiberíades tinha o potencial de se tornar uma província judaica semi-autônoma, onde os judeus poderiam estabelecer-se e viver em segurança.
Sob seu auspícios a cidade voltou a florescer. Ela reabriu e sustentou uma antiga sinagoga perto do lago e uma ieshivá. E, segundo o relato de visitantes, "o deserto dera lugar a um verdadeiro Jardim do Éden".Não se sabe se ela chegou a viver em Tiberíades. Alguns historiadores acreditam que não, pois na época já estava muito doente. Com sua morte, a cidade entrou em um rápido processo de decadência. Provavelmente, devido à violência, os judeus mais proeminentes foram deixando a cidade, que foi reconstruída somente em 1740, por um núcleo judaico.
Não há muitas informações sobre a morte de Doña Gracia ou sobre o local onde foi enterrada. Há somente elogios fúnebres por rabinos e poetas por ocasião de seu falecimento.
Doña Gracia era, de fato, uma mulher rara, com idéias anos-luz à frente de seu tempo. Seu senso de responsabilidade ia além de sua própria salvação. Segundo Uísque, "arriscando sua própria vida para salvar a de seus irmãos", ela "era a mão estendida que resgata os cansados e alimenta os famintos; a fonte de coragem e de estímulo para os pobres e enfraquecidos".

Bibliografia
Brooks, Andrée, The Woman who Defied Kings: The Life and Times of Doña Gracia Nasi

27.4.07

Porção Semanal: Acharê Mot


Bereshit 47:28 - 49:26

Os mandamentos descritos na Parashá Acharê Mot (Vayicrá 16:1-18:30), seguem cronologicamente as mortes trágicas dos dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, sobre as quais lemos na Parashá Shemini há algumas semanas. A porção desta semana começa com uma longa descrição do serviço especial de Yom Kipur, a ser realizado no Mishcan pelo Cohen Gadol. O serviço incluía a confissão do Cohen Gadol em seu próprio nome e em nome de toda a nação; a seleção por sorteio entre duas cabras, uma das quais seria a oferenda pelo pecado nacional, e a outra seria empurrada de um penhasco no deserto, como portadora dos pecados do povo; e as complicadas cerimônias de aspersão de incenso e sangue a serem realizadas no Codesh HaKedoshim (Santo dos Santos). Seguindo a ordem de que Yom Kipur e suas leis de jejum e abstinência de trabalho seriam observadas eternamente pelo povo judeu como um dia de perdão, a Torá proíbe a oferenda de corbanot fora das instalações do Mishcan. O sangue não pode ser ingerido, e durante o processo da shechitá (abate ritual), uma porção do sangue derramado deve ser coberta. A porção da Torá conclui com uma lista dos relacionamentos sexuais imorais e proibidos, e a ordem de que o povo judeu mantenha e assegure a santidade da terra de Israel.

Mensagem da Parashá
Instinto animal

por Yoel Spotts


Na porção desta semana da Torá encontramos vários mandamentos que aparentemente têm pouco em comum. Começamos com uma listagem das leis e práticas de Yom Kipur, então passa para a proibição de comer sangue. Finalmente, a porção conclui com uma discussão dos relacionamentos proibidos. Desprezando a possibilidade de que estes mandamentos em particular foram jogados juntos ao acaso para formar a porção Acharê Mot da Torá, certamente seremos capazes de descobrir um tema comum, conectando estes vários tópicos.De forma bem interessante, vemos que a Torá proíbe o consumo do sangue de qualquer animal, mesmo aqueles que são casher. Desse modo, a Torá não apenas exclui a grande maioria das criaturas de nossa dieta, como limita nossa licença quanto aos permissíveis. Além disso, a Torá exige de nós um dia de total e absoluta abstinência de toda alimentação. As restrições e regras parecem quase esmagadoras.De fato, descobrimos uma estrutura muito similar a respeito dos relacionamentos proibidos. Na porção desta semana, a Torá lista para nós os indivíduos impróprios que não devemos escolher como companhia. Entretanto, isso não é tudo. A Torá regula severamente o relacionamento mesmo com as pessoas que nos são permitidas. Uma união adequada deve ser precedida por kidushin, a santificação do casamento. Um casamento mal sucedido deve ser terminado pela concessão de um documento de divórcio, ou guet. Relacionamentos extramaritais são vistos com desdém. Dessa forma, vemos que a Torá coloca severas restrições e limitações sobre os alimentos que comemos e sobre nossos relacionamentos.As semelhanças não param por aqui. A porção desta semana não é o único local em que encontramos estes dois tópicos agrupados juntos. De fato, o Rambam coloca as Leis dos Relacionamentos Proibidos e as Leis dos Alimentos Proibidos na mesma seção em seu código da Lei Judaica. O Rambam denomina esta seção, curiosamente, de kedushá. Embora "kedushá" seja geralmente traduzida como "santidade", muitos comentaristas assinalam que o termo também conota a noção de "separado" ou "distinto". Dessa maneira, poderia parecer que o Rambam deseja nos transmitir que estas duas áreas da lei nos possibilitam separar e distinguir a nós mesmos. Agora, finalmente as peças se encaixam nos lugares certos. Quando D’us criou o universo, colocou tanto o homem como o animal neste planeta. À primeira vista, o homem parece não ser diferente de qualquer outra criatura. Afinal, ambos se alimentam, ambos procriam, e ambos praticam as mesmas atividades físicas mundanas. Não somos, então, diferentes dos animais que perambulam pela terra? Os dons da fala, raciocínio e liberdade são todos indicativos de que o homem é na verdade diferente e separado dos animais. Entretanto, quando deixamos que nossos desejos animalescos reinem livremente, agindo sem quaisquer restrições, estamos na verdade demonstrando que não somos melhores que nosso cachorro ou gato de estimação. Quando continuamos a satisfazer nossas ânsias gastronômicas e a ser escravos de nosso apetite carnal, reduzimo-nos a um mero ajuntamento de carne e ossos. Por este motivo, a Torá contém tantas proibições na área de ingestão de alimentos e relacões sexuais. A Torá nos prescreve o controle de nossos desejos básicos a fim de nos "separar" e "distinguir" de todas as outras criaturas. Demonstrando nossa força de vontade e nossa disciplina, podemos nos elevar acima de meros seres físicos. Não admira que após ter introduzido estas leis na porção da Torá desta semana – o jejum em Yom Kipur, abster-se de ingerir sangue, e evitar os relacionamentos proibidos – a Torá comece a porção da próxima semana com a admoestação "kedoshin te'heyu – serás santo e distinto", pois apenas santificando estes aspectos físicos de nossa vida podemos ter sucesso também em nossa busca espiritual.

25.4.07

A culpa Judaica



Por Yanki Tauber

“Quando você construir uma nova casa, faça um parapeito para o seu telhado; para que você não derrame sangue em sua casa, quando alguém dali cair.”Devarim 22:8


Dentre as muitas mitsvot interessantes na leitura Ki Tetsê da Torá (Devarim 21:10-25:19) está a mitsvá de maakê – o mandamento de construir uma cerca ao redor do telhado, para impedir que alguém caia e se machuque. Em sua aplicação mais ampla, isso inclui a proibição de "criar um cão perigoso, ou manter em casa uma escada instável" – ter ou conservar em casa algo que possa causar ferimentos a outrem (Talmud, Bava Kama 15b).
Aquilo que eu escolho e faço fará até a diferença entre morte e vida, entre fracasso e sucesso.
Os comentaristas notam a curiosa terminologia empregada pela Torá – "quando alguém dali cair" (ki yipol hanofel mimenu). Rashi explica: "Embora essa pessoa mereça cair, você não deve ser a causa do seu ferimento."Um sujeito sobe em meu telhado no meio de uma tempestade de neve, decide escorregar no beiral congelado, cai e quebra o nariz. Eu poderia culpar sua irresponsabilidade, poderia culpar o tempo, poderia culpar D'us (visto que nada acontece sem que D'us o deseje); em vez disso, diz a Torá, eu deveria me sentir responsável. Dado o tipo de pessoa com quem estamos lidando aqui, isso estava propenso a acontecer de qualquer maneira; porém o próprio fato de ter acontecido no meu telhado significa que é minha responsabilidade – significa até que eu poderia ter impedido isso.A "culpa judaica" entrou na literatura americana há meio século, e após dezenas de filmes de Woody Allen e Bernard Malamud, a idéia evoca uma caricatura de auto-culpa neurótica; o pai judeu que, sessenta anos depois, ainda acha que todos os fracassos do filho se devem ao fato de ele não ter comprado a bicicleta que o garoto queria no seu sétimo aniversário; a mãe judia que está convencida de que sua incapacidade de impressionar a esposa do presidente da sinagoga marcou sua família como párias sociais por todas as gerações; o rabino que acredita que todos os problemas do mundo são causados pelos pecados que ele próprio cometeu. Uma visão egocêntrica, falha e pessimista do universo.
D'us não coloca uma responsabilidade sobre mim sem me dar a habilidade de executá-la com sucesso.
Na verdade, é uma opinião egocêntrica, mas no sentido mais positivo do mundo. E em vez de ser falha e pessimista, é a mais encorajadora e otimista perspectiva da realidade na história do pensamento humano.Pense sobre isso: a noção de que nós, como criaturas com arbítrio, somos responsáveis por tudo que ocorre dentro de nosso domínio, também implica que temos controle sobre aquilo que acontece ali, que nossas escolhas e ações fazem uma diferença. A noção de que embora minhas opções e meus atos cubram apenas uma área minúscula da vida de outra pessoa, e uma área ainda menor da história humana, aquilo que eu escolho e faço influenciará profundamente o destino do sujeito dançando em meu telhado, as realizações da comunidade da qual faço parte, e o curso do progresso humano no decorrer do tempo. Aquilo que eu escolho e faço fará até a diferença entre morte e vida, entre fracasso e sucesso.O Rebe costumava dizer com freqüência: se você vir seu irmão judeu atravessando um caminho autodestrutivo, e procurar endireitá-lo mas falhar, o erro é seu. O raciocínio por trás dessa conclusão é tanto profundo quanto simples. Nossos Sábios declararam que "palavras que vêm do coração entram no coração". Portanto, se as suas palavras não entraram no coração dele, isso pode apenas significar que não foram faladas com completa sinceridade. Se você tivesse sido totalmente sincero – tivesse falado sem outro objetivo em mente que não o bem dele – suas palavras teriam entrado no coração do sujeito e teriam tido o efeito desejado. O princípio por trás da perspectiva do Judaísmo sobre a realidade é: Se D'us me colocou aqui, isso significa que eu posso fazer alguma diferença. O fato de que posso fazer uma diferença significa que é minha responsabilidade fazê-la. Significa também que eu tenho o poder de fazer isso – pois D'us não coloca uma responsabilidade sobre mim sem me dar a habilidade de executá-la com sucesso. Jamais ficaremos livres da "culpa judaica" – está entranhada na nossa alma judaica, programada em nosso DNA espiritual. Mas como ela florescerá em nossa vida? Vai aflorar como um pessimismo neurótico e debilitante, ou como uma confiança em nossa capacidade de afetar realmente a nossa vida, a vida de nossos irmãos, e o mundo em geral? Isso, obviamente, cabe a nós. E quanto mais entendermos a dinâmica desse senso de responsabilidade que carregamos em nossa alma – de onde ele vem e qual o seu propósito – mais conseguiremos concretizar sua função positiva inata.

http://www.chabad.org.br






20.4.07

Pensamento da semana

“Logicamente, que precisamos de satisfazer as nossas necessidades físicas, pois é impossível viver sem elas. Todavia, não necessitamos de as repetir constantemente! Torna-se aborrecido.”

Shabat Shalom

19.4.07

Porção Semanal: Metsorá


Bereshit 47:28 - 49:26


Após a discussão ao final da porção da semana passada, a respeito da tumá resultante de animais mortos, a Parashá Tazria (Vayicrá 12:1-13:59) introduz as várias categorias de tumá emanando de seres humanos, começando com uma mulher dando à luz. O restante da porção descreve com riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações da doença chamada tsaraat . Embora tenha sido traduzida erroneamente como lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal transmitida através do contato normal. Ao contrário, tsaraat é a manifestação física de uma doença espiritual, uma punição enviada por D'us, primeiro pelo pecado da maledicência, entre outras transgressões e comportamento anti-social.Conhecida como metsorá, a pessoa afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele está sujeita a uma série de exames por um cohen, que declara se o paciente está tahor ou tamê. Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um castigo apropriado para alguém cuja língua infame fez com que pessoas se separassem umas das outras. Após descrever os vários tipos, cores e manifestações da doença na pele, cabeça e barba da pessoa, a porção conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.A Parashá Metsorá (ibid. 14:1-15:33)) continua a discussão de tsaraat , detalhando o processo de purificação de três partes da metsorá, ministrada por um cohen, completa com imersões, Corbanot, e a raspagem de todo o corpo. Após uma demorada descrição da tsaraat em casas e a ordem de demolir toda a residência caso a doença tenha se espalhado, o capítulo final da porção discute várias categorias de emissões humanas naturais, que tornam uma pessoa impura em graus variáveis.


Mensagem da Parashá

Dores do parto

por Yoel Spotts

Ao escrever um romance, o escritor certamente será cuidadoso para arranjar a trama de maneira lógica e ordenada, fazendo as transições de um tópico a outro de maneira suave. Da mesma forma, poder-se-ia esperar que a Torá, sendo a fonte da vida para o povo judeu e tendo muito mais importância que um romance, seguisse a mesma linha. Entretanto, a seção introdutória da porção desta semana da Torá parece divergir desta consistência requerida. A Parashá Tazria começa com uma discussão das leis sobre o status de uma mulher que acaba de dar à luz, e os vários procedimentos que devem ocorrer com ela e a criança. A Torá então imediatamente prossegue com uma descrição detalhada dos diferentes tipos de manchas e descolorações que podem tornar um indivíduo um metsorá. Estes dois assuntos – a mulher que acaba de dar à luz e uma pessoa que está sofrendo de tsaraat – poderiam parecer totalmente desconectados. Por que então estão colocados tão próximo um do outro?Para responder esta pergunta, seria lógico examinar primeiro os detalhes destas duas leis. Em Vayicrá 12:7, lemos que uma mulher que teve um filho deve trazer uma oferenda: "O Cohen oferecê-la-á perante D'us e expiará por ela, e ela ficará purificada da fonte de seu sangue; esta é a lei para aquela que dá à luz um menino ou uma menina." Esta lei provoca uma pergunta óbvia: Qual foi o pecado desta mulher que necessita de expiação?Os rabinos do Talmud fornecem uma resposta interessante a este problema: enquanto está sob a tensão e dor do parto, pode ser que esta mulher tenha jurado jamais retornar a seu marido, a fonte e causa de seu sofrimento atual. Portanto, quando a mulher se recobra totalmente, volta para seu marido e assim negligencia seu juramento anterior, na verdade está quebrando este voto. Embora a Torá reconheça que este juramento foi feito sob grande angústia e dor, mesmo assim a mulher não pode ser totalmente absolvida de realizar qualquer tipo de penitência. Afinal, fez um juramento e isso não pode ser desprezado. Portanto, a Torá possibilita à mulher a oportunidade de obter completo perdão ao trazer uma oferenda.Se mudarmos nossa atenção agora ao segundo ponto em questão, a aflição da tsaraat, descobrimos que a Torá inicia sua discussão da pessoa atacada por esta doença sem nenhum tipo de introdução; o leitor é lançado imediatamente numa discussão abrangente das várias formas e manifestações da tsaraat. A Torá não menciona a causa do tsaraat em lugar algum, dessa forma deixando a pessoa imaginar qual pecado poderia precipitar esta doença no corpo ou na propriedade de alguém. Rashi oferece uma resposta baseada sobre o Talmud, de que a causa primária do tsaraat é o grave crime de lashon hará. A fim de avaliar a gravidade de suas ações, aquele que fala lashon hará é afligido com tsaraat. Não apenas a pessoa afetada deve lidar com lesões cobrindo seu corpo, como também é forçada a separar-se da comunidade em geral, e suportar um longo processo de cura, assinalado por repetidas visitas do Cohen, para determinar o status e o desenvolvimento da doença.Espera-se que toda esta angústia e tormento ajudarão a reconhecer seu mau procedimento e leve-a ao arrependimento. Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição destes assuntos aparentemente tão desconexos. A Torá aqui deseja nos ensinar o poder da palavra. Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como "as pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras não podem ferir-me", o Judaísmo atribui muito mais importância e significado à palavra falada. Toda palavra pronunciada deve ser cuidadosamente medida. Mesmo um juramento feito em meio as dores do parto deve ser contabilizado. Até um comentário aparentemente inofensivo sobre um judeu deve ser tratado. As palavras têm um significado. Não podemos permitir que nossa boca aja livremente, sem qualquer preocupação quanto ao resultado. Assim como a Torá nos foi outorgada no Monte Sinai, não por um rolo que caiu do céu, mas através da palavra sagrada de D'us, assim também devemos nos purificar e santificar nossas palavras.

16.4.07

Reunião de extrema-direita


O Serviço de Informações de Segurança (SIS) acompanha atentamente as movimentações de grupos de skinhead e neonazis em Portugal e tem “informado a tempo o decisor político com relatórios constantes”, revelou ao CM uma fonte do SIS, a propósito de um encontro de partidos de extrema-direita organizado pelo Partido Nacional Renovador (PNR), marcado para o próximo dia 21, sábado, em Lisboa.

Apesar de os grupos de skinheads e neonazis não serem uma ameaça ao Estado de Direito Democrático, eles representam, conforme se lê no Relatório Anual de Segurança Interna de 2006, a que o CM teve acesso, “um factor de risco efectivo para a segurança interna no tocante ao incitamento e promoção da violência política e racial”.A questão dos grupos racistas e xenófobos voltou a dar polémica devido a um cartaz do PNR contra a imigração colocado na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa. A mesma fonte do SIS disse ao CM que embora o acompanhamento destas matérias consubstanciem uma actividade operacional normal dos serviços, “registou-se a evolução que o cartaz [do PNR] suscitou na lógica do estudo do fenómeno”.Ou seja, foi dado um passo novo na vertente política dos grupos de extrema-direita em termos de organização. “Antes, para difundirem as suas ideias recorriam ao graffiti ou a um cartaz numa parede”, explica a fonte, acrescentando que, neste âmbito, “deu-se uma evolução qualitativa, um passo novo”.Essa evolução pode também ser observada no “forte investimento na internet, através de fóruns, blogues e chatrooms como veículo estratégico de captação e recrutamento de novos simpatizantes adeptos, bem como de debate de ideias e concertação de iniciativas comuns”, como se pode ler no referido relatório.Nesse documento sublinha-se também o “investimento estratégico continuado dos grupos portugueses na participação em eventos internacionais organizados por congéneres europeus com o objectivo de ganharem visibilidade ao nível externo e de consolidarem a sua internacionalização”.A nossa fonte subscreve o que está escrito no relatório relativamente ao facto de, neste momento, os partidos de extrema-direita não constituírem uma ameaça ao Estado de Direito Democrático. Diz, no entanto, que preocupante é a “violência contra os imigrantes”. “Estar atento a esta questão foi sempre uma das prioridades do SIS”, revela, acrescentando que as manifestações de racismo e xenofobia são “um problema grave”, que tem sofrido uma mutação grande, só explicada pelo facto de Portugal ter deixado de ser só um País de emigração, para passar a ser também um de imigração. “Essa inversão foi uma coisa a que não estávamos habituados”, comenta a fonte do SIS.

UM HISTORIAL NADA PACÍFICO
A GNR de Loures descobriu o quartel-general da organização de extrema-direita ‘Frente Nacional’ (FN) em Junho de 2004. Naquela noite foram detidos 21 skinheads numa casa onde a GNR apreendeu vários objectos de propaganda Nazi, nomeadamente retratos de Adolph Hitler, folhetos, revistas e o livro ‘Mein Kampf’ (‘A minha Luta’, escrito por Hitler). Entre o material apreendido destacavam-se cinco armas ilegais. Mário Machado, o responsável pela FN, foi um dos detidos. Dois anos depois era novamente detido na sequência de uma reportagem da RTP, onde exibia armas ilegais. Na altura, o presidente do Partido Nacional Renovador, José Pinto Coelho, mostrou-se solidário com o arguido Mário Machado – que já cumpriu pena pelo envolvimento nos confrontos no Bairro Alto que levaram à morte de Alcino Monteiro.

SAIBA MAIS
ENCONTRO/CONCERTO
O partido de extrema-direita alemão NPD deverá ser o único entre as principais estruturas nacionalistas europeias a participar no encontro/concerto promovido pelo Partido Nacional Renovador (PNR) dia 21 de Abril em Lisboa.

FEIRA POPULAR
As antigas instalações da Feira Popular serão o ponto de encontro dos neonazis, que em seguida irão para um concerto, cujo o local o PNR não quis revelar. São esperados 55 nacionalistas de Madrid, Galiza e Huelva e oito alemães.

CARTAZ POLÉMICO
Um cartaz a apelar à expulsão dos imigrantes relançou a polémica em torno do PNR. Após ser totalmente vandalizado, o outdoor foi substituído, mas antes os Gato Fedorento brincaram com o assunto e colocaram outro cartaz para dar as boas-vindas aos imigrantes.

15.4.07

A atitude É tudo

por Francie Baltazar Schwartz

Jerry era o tipo de pessoa que se adora odiar. Estava sempre de bom humor e sempre tinha algo positivo a dizer. Se alguém lhe perguntava como vai, respondia: “Melhor, estraga !”
Era um gerente único, pois tinha uma equipe de garçons que o acompanhavam em todo restaurante onde trabalhasse. A razão pela qual os garçons lhe acompanhavam era a sua atitude.
Ele era um motivador natural. Se um empregado estava tendo um dia difícil, lá estava Jerry dizendo ao funcionário como encarar o lado positivo da situação.
Observar seu estilo me deixava realmente curioso e, certo dia, me aproximei de Jerry e perguntei-lhe: “Não consigo entender! Você não pode ser um cara positivo 100 % do tempo. Como faz isto?” Jerry respondeu: “Toda manhã eu acordo e digo para mim mesmo: ‘Jerry, você tem duas opções hoje. Pode escolher entre ficar de bom humor ou pode escolher ficar de mau humor’. Eu escolho ficar de bom humor. Cada vez que algo ruim me acontece, posso escolher entre ser a vítima ou aprender algo da situação. Eu escolho aprender alguma coisa. Toda vez que alguém se aproxima de mim reclamando, posso escolher aumentar suas reclamações ou posso expor os lados positivos da vida. Eu escolho mostrar os lados positivos da vida”. “Duvido, não é tão fácil assim!”, protestei. “Sim, é sim”, Jerry disse. “A vida é toda feita de escolhas. Quando você tira fora todo o ‘entulho’, cada situação é uma escolha. Você escolhe como reagir às situações. Você escolhe como as pessoas irão influir no seu humor. Você escolhe entre ficar de bom humor ou de mau humor. Meu lema é o seguinte: ‘Você escolhe como viver sua vida ’”.
Refleti sobre o que Jerry me falou. Algum tempo depois saí daquele restaurante para começar meu próprio negócio. Perdemos contato, mas freqüentemente penso nele quando faço alguma opção na vida ao invés de me acomodar com ela. Alguns anos depois soube que Jerry fez algo que nunca se deve fazer num estabelecimento comercial: certa manhã deixou a porta de trás do restaurante aberta e acabou cercado por três assaltantes armados.
Enquanto tentava abrir o cofre, sua mão, tremendo pelo nervosismo, escorregou da combinação. Os ladrões entraram em pânico e atiraram nele. Por sorte, Jerry foi socorrido relativamente rápido e levado para o hospital.
Depois de 18 horas de cirurgia e semanas de tratamento intensivo, Jerry foi liberado do hospital com fragmentos das balas ainda em seu corpo. Encontrei Jerry 6 meses depois do assalto.
Quando lhe perguntei como estava, respondeu-me: “Melhor, estraga! Quer ver minhas cicatrizes?”
Recusei polidamente e perguntei-lhe o que havia passado por sua cabeça na hora do assalto.
“A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que deveria ter trancado a porta dos fundos”, Jerry respondeu. “Depois, quando estava estirado no chão, lembrei-me que tinha duas opções: poderia escolher viver ou poderia escolher morrer. Escolhi viver”.
“Você não estava apavorado? Não perdeu a consciência?”, perguntei. Jerry continuou: “Os paramédicos foram sensacionais. Ficaram o tempo todo dizendo que eu ia ficar bem, que ia me recuperar. Mas quando me levaram para a sala de emergência e vi as expressões nos rostos dos médicos e enfermeiras, aí realmente fiquei apavorado. Eu li nos olhos deles: ‘Este cara é um homem morto’. Percebi que precisava tomar uma atitude”. “Que é que eu vou fazer? ”, me perguntei. “Bem, havia uma enorme enfermeira disparando perguntas sobre mim e ela me perguntou se eu era alérgico a alguma coisa”. “Sim! ”, respondi. Os médicos e enfermeiras pararam seu trabalho, esperando por minha resposta. Respirei fundo e gritei: “ B A L A S ! ” Por cima das gargalhadas, falei para eles: “Eu estou escolhendo viver. Operem-me como se eu estivesse vivo, não morto”.

Jerry sobreviveu com a ajuda dos médicos, mas também por sua incrível e surpreendente atitude. Eu aprendi dele que diariamente temos a escolha de viver plenamente.
Atitude, afinal, é tudo!

13.4.07

Pensamento da semana

“Se as coisas não acontecem conforme se deseja, então aceite a maneira como elas ocorrem!”

Porção Semanal: Shemini


Bereshit 47:28 - 49:26

A Parashá Shemini (Vayicrá 9:11-11:47) começa discutindo os eventos que ocorreram no oitavo e último dia de melu'im, serviço de inauguração do Mishcan. Após meses de preparação e antecipação, Aharon e seus filhos são finalmente instalados como cohanim, em um serviço elaborado. Aharon abençoa o povo, e toda a nação se rejubila quando a presença de D’us paira sobre eles. Entretanto, o entusiasmo é interrompido abruptamente quando os dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, são consumidos por um fogo celestial e morrem no Mishcan, enquanto ofereciam ketoret, incenso, sobre o altar. A Torá declara que eles morreram porque trouxeram um "fogo estranho" no santuário interior do Mishcan, cujo significado é discutido pelos comentaristas à exaustão. Aharon recebe ordens de que os cohanim são proibidos de entrar no Mishcan enquanto impuros, e a Torá continua a relatar os eventos que ocorreram imediatamente após a morte trágica de Nadav e Avihu. A porção termina com uma lista dos animais casher e não-casher, e várias leis sobre tumá, impureza.

Mensagem da Parashá

Pureza e impureza. Adaptado das obras do Lubavitcher Rebe. A porção Shemini discute os animais puros que são permitidos consumir, e os impuros, que somos proibidos de ingerir. A Torá fornece dois sinais para reconhecer um animal puro: ser ruminante e ter os cascos fendidos. Uma das razões oferecidas para as leis dietéticas é que tudo que a pessoa come transforma-se em carne e sangue, tornando-se parte integrante daquela pessoa. Portanto, a Torá proíbe determinados alimentos para impedir o homem de assimilar as más características da comida proibida. Se há uma proibição contra comer animais que não ruminam e não têm o casco fendido (para impedir a assimilação das características daqueles animais), a conduta apropriada para o homem deveria ser uma que adotasse os conceitos de um casco fendido e ruminar a comida. O casco deve ser inteiramente fendido, de cima a baixo. O casco é dividido em dois, para indicar que nossa caminhada na terra, i.e., nossos envolvimentos mundanos, devem incluir dois princípios básicos: aproximar-se daquilo que é bom e afastar-se daquilo que não é. Mas o sinal de um casco fendido em si não é o suficiente. Deve também haver o sinal de ruminar a comida. É preciso ser muito cuidadoso para "ruminar" toda atividade mundana que se pretende aceitar. Deve-se esclarecer e determinar, de uma vez por todas, se realizará determinadas tarefas, e se for este o caso, de que forma deverá fazê-lo. Somente então a ação em si será comparada a um "animal puro" – algo que pode e é usado para nossa missão espiritual na vida. Quanto às aves, não confiamos somente nos sinais, mas também exigimos uma tradição afirmando a pureza dessas espécies. Alguém poderia perguntar por que precisamos dessa tradição. Observar os sinais deveria ser suficiente. No entanto, isso vem nos ensinar que não se pode confiar na própria inteligência. É possível estudar o Código da Lei Judaica e até seguir um tipo de comportamento que o próprio intelecto determina como sendo "além da letra da lei."Deve-se seguir a tradição. A palavra hebraica para tradição é messorá, que está relacionada à palavra messirá – devoção e ser atado junto. Para seguir esta tradição judaica devemos ser devotados e nos ligar com outros judeus e líderes de Torá, que podem ensinar-nos os caminhos de nossa tradição.

11.4.07

Israel


A ajuda a países subdesenvolvidos e em desenvolvimento tem feito parte da política do estado de Israel desde seus primeiros anos de existência.


Furacões, tempestades, terremotos, tsunamis. O rastro de destruição deixado, nos últimos anos, pelas forças da natureza vem aumentando a cada evento trágico que ocorre. Como se fossem olhos humanos, os satélites ao redor da terra registram todos os movimentos e permitem aos telespectadores assombrados, mundo afora, acompanhar em tempo quase real tudo que acontece: ondas gigantescas, ventos ultravelozes. As lentes dos jornalistas, no entanto, captam as imagens mais trágicas: a dor das vítimas pela perda irrecuperável de seus entes queridos e de seus bens materiais.
Em meio a estas cenas no entanto há uma imagem de esperança: o grito de solidariedade que ecoa dos quatro cantos do globo. A ajuda vem das mãos de países grandes e pequenos e de voluntários que, em momentos dramáticos, desconhecem as diferenças entre religiões e etnias, unidos por um único sentimento: o amor ao próximo. Seja carregando caixas de suprimentos, atendendo os feridos ou cuidando dos desamparados, os membros das equipes de ajuda humanitária são rapidamente identificados pelas cores das bandeiras de seus países e pelos logotipos das organizações. A bandeira azul e branco com a Estrela de David é uma presença constante e, muitas vezes, das primeiras a ser vista em meio às centenas de pessoas que se entregam a tais missões. Todos trabalham de maneira organizada em pleno caos e escrevem um novo capítulo na história das relações entre seres humanos.
Assim foi no final de 2004, quando a Ásia foi atingida por uma série de tsunamis. Enquanto o mundo ainda assistia estarrecido às primeiras imagens do horror que varreu o continente asiático, em 26 de dezembro, e o número de vítimas era totalmente indefinido, já se haviam iniciado, em Israel, os preparativos para enviar auxílio aos países atingidos. Dois dias depois, uma equipe médica coordenada por especialistas do Hospital Hadassah, de Jerusalém, desembarcava em Sri Lanka, levando remédios, alimentos infantis e seis médicos, entre os quais, especialistas em moléstias contagiosas e operações de resgate. Nos dias subseqüentes, 18 toneladas de suprimentos foram despachados por avião pela organização Latet - "doar", em português - e por equipes das Forças de Defesa de Israel (FDI), que levaram 80 toneladas de produtos para ajudar nos trabalhos de busca e resgate das vítimas e sobreviventes. Em meio a escombros e corpos mutilados, membros da organização de voluntários Zaka recolhiam elementos que pudessem ajudar a identificar as vítimas da tragédia.
O mesmo esforço humanitário se repetiu em 2005, quando o mundo mal se recuperava do que acontecera na Ásia. Novamente a natureza mostrou sua força, desta vez no estado americano da Lousiana. O furacão Katrina atingiu no dia 29 de agosto a cidade de Nova Orleans, deixando-a quase totalmente submersa sob as ondas gigantescas, e mais de um milhão de pessoas foram evacuadas. O furacão Katrina causou aproximadamente mil mortes, sendo um dos mais destrutivos a ter atingido os Estados Unidos.
Após a divulgação inicial da extensão da tragédia americana, Israel enviou equipes de busca e resgate, rações militares, refeições de campanha, alimentos em conserva, água, barracas, geradores, alimentos para bebês, fraldas descartáveis e roupas de cama. Uma equipe de 25 voluntários da área médica, especializados em busca, resgate e transtornos mentais, viajou para a região. As entidades não-governamentais do país centralizaram sua atuação através da "Israeli Flying Aid" (Ajuda Aérea Israelense).
A Universidade Ben-Gurion, do Neguev, também enviou a Nova Orleans um grupo de 25 profissionais, liderados pelo professor Michael Alkan, entre os quais se contavam um pediatra, um clínico-geral e um médico de família, além de outros profissionais com vasta experiência em trabalho de resgate e socorro a vítimas de desastres naturais. Alkan já participara de várias missões humanitárias. Fez parte do grupo organizado pela gigante farmacêutica Merck, para reduzir a disseminação da AIDS em Botsuana; trabalhou com refugiados do Camboja e Tailândia; implantou um hospital de campo durante a guerra de Kosovo; e coordenou um grupo de profissionais logo após a erupção de um vulcão no Congo. Além disso, atuou também com as equipes de ajuda humanitária após os tsunamis na Ásia.
Confirmando mais uma vez sua crença no princípio de amor ao próximo e sua firme convicção de que a tragédia não tem religião nem nacionalidade, Israel ofereceu ajuda ao Paquistão, com quem não tem relações diplomáticas, depois que um forte terremoto, 7,6 graus na escala Richter atingiu no dia 8 de outubro a região, atingindo também a Índia e a região de Cashemira, matando aproximadamente 30 mil pessoas. Diante da extensão da tragédia e necessidades da população e ciente da ampla experiência de Israel nessa área, após certa relutância - pois é raro um país muçulmano aceitar ajuda humanitária do Estado judeu - o presidente paquistanês Pervez Musharraf aceitou a oferta de auxílio das autoridades israelenses, do Congresso Judaico Mundial e de entidades judaicas americanas.

Tradição de Solidariedade
Ensina-nos a Torá: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Levítico 19:18). Esse mandamento, segundo nossos Sábios, é o âmago do judaísmo e faz parte dos princípios da tradição histórica de Israel, desde os seus primórdios. Mesmo quando seus recursos e experiência ainda eram limitados, o jovem Estado Judeu já participava ativamente do esforço internacional para ajudar outros países. Em 1953, quando a Grécia foi atingida por um forte terremoto, uma das primeiras embarcações a chegar ao local para prestar socorro foi um navio israelense. Foi a primeira das inúmeras missões que se seguiriam. Em 1958, dez anos após a criação de Israel, o governo tomou uma decisão que o futuro mostraria ser estratégica na maneira do novo Estado se relacionar com a comunidade internacional - criou um programa de cooperação internacional. Tinha por objetivo principal compartilhar com outros países os êxitos obtidos em diferentes áreas, viabilizando a transferência de experiências, metodologias e tecnologias. Assim, nascia o Mashav (sigla em hebraico de Machlaká leShituf Benleumi). Um importante programa do Ministério de Relações Exteriores, o Mashav abriu a série para as várias formas de cooperação internacional implantadas por Israel.
Desde então, multiplicou-se o número de ONGs com objetivos humanitários, que incluem projetos desenvolvidos pelos Ministérios de Saúde e de Agricultura. Em 2001, foi criada a IsraAid, um órgão coordenador das ONGs israelenses e judaicas sediadas em Israel, mas com atuação em diversos países, no campo do desenvolvimento e trabalho humanitário.
São mais de 35 entidades membros, entre elas, Joint Distribution Committee Israel, Jovens Médicos de Israel, Fundo Humanitário do Movimento Kibutziano, Conselho Estudantil de Israel, Ajuda Sem Fronteiras, B'nai B'rith Mundial, Salve o Coração de uma Criança, American Jewish Committee e outras. O aspecto mais positivo da criação da entidade foi a possibilidade de centralizar a ajuda humanitária, evitando o desperdício de recursos em programas repetidos. O tempo logo provou ser esta a estratégia mais acertada. Na erupção do vulcão no Congo, em 2002, já mencionada, organizou-se um comitê central que distribuiu as tarefas antes que as equipes partissem - o que fez racionalizar o trabalho e evitou a duplicação dos esforços.
A IsraAid, no entanto, não age apenas em resposta a desastres, mas atua também no campo da ajuda a países necessitados. Neste aspecto, vale mencionar o trabalho realizado por duas de suas integrantes - a Jovens Médicos de Israel e uma organização judaica canadense chamada Ve'ahavta - que desenvolvem um treinamento em primeiros socorros nas Guianas e na Índia.
O Mashav ainda é a pedra fundamental, seja nas operações de emergência seja nos programas de cooperação de médio e longo prazo mantidos por Israel. Dentro do Mashav, tem papel importante o Cinadco (Centro de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Agrícola). Em 2004, por exemplo, enviou para Mianmar técnicos para ministrar programas sobre temas como a reprodução humana e medidas sanitárias, entre outros, além da visita de consultores do Centro de Treinamento Internacional Golda Meir para um trabalho direcionado a professores.
A América Latina também faz parte dos projetos do Mashav. Em setembro de 2004 foi implantado no Peru um programa para atendimento oftalmológico nas regiões de Ayackotcho e Sullana, ao passo que, nas duas últimas décadas, centenas de técnicos do Governo brasileiro e líderes sindicalistas se beneficiaram de cursos de especialização nas mais variadas áreas. A ex-URSS também tem sediado inúmeros programas especiais. Muitos dos projetos do Mashav são realizados em cooperação com organismos internacionais como a ONU, a USAID e o BID, entre outros.
Também em 2004, o país se uniu à luta mundial contra a Aids, através do Projeto Jerusalém. A campanha em Israel contou com a participação da cantora Noa, nomeada Embaixadora da Boa Vontade junto ao Programa contra a Fome, das Nações Unidas; e Inbal Gur-Arie, jovem israelense portadora do vírus HIV, que foi indicada pela ONU como porta-voz da campanha, em 2003. Juntas, apareceram em pôsteres, selos e outdoors espalhados pelo país, com os dizeres "Todos nos importamos".
Nos últimos dois anos a organização Salve o Coração de uma Criança tem enviado à China uma equipe de especialistas para atender crianças com problemas cardíacos. Em setembro de 2004, Israel recebeu 18 sobreviventes do atentado terrorista à escola de Beslan, Chechênia, acompanhados de seus pais. Durante duas semanas, além de tratamento e apoio psicológico, participaram de programas turísticos e atividades de lazer, hospedando-se em um resort na cidade costeira de Ashkelon. A visita foi patrocinada pela prefeitura da cidade e por várias instituições voluntárias e empresas israelenses. A lista de missões israelenses no exterior inclui, entre outras, a participação no esforço internacional para auxílio às vítimas do terremoto no Afeganistão, em 1998, com o envio de toneladas de equipamentos, inclusive barracas, travesseiros, alimentos e remédios, além de equipes médicas e de profissionais do Mashav. Em 2001, em função de um terremoto ocorrido em El Salvador, equipes de Israel também ajudaram no resgate e socorro às vítimas.
"Não importa para onde vamos, estamos sempre com a bandeira de Israel desfraldada. Nossos grupos têm viajado pela Ásia e pela África, sem jamais dissimular nossa identidade. As pessoas a quem ajudamos - sejam quais forem as circunstâncias - não estão preocupadas com quem nós representamos. Percebem, isto sim, que o povo de Israel se preocupa com sua sorte. Esta é a nossa contribuição ao mundo - e é dada quando e onde for necessária", explica Shahar Zehavi, fundador da Israid.
Bibliografia:
http://www.israid.org.
http://www.mfa.gov.il
Fast Israeli Rescue & Search Team [F.I.R.S.T.]

8.4.07

Tripla Inspiração

Por Steve Hyatt

A inspiração chega em todos os formatos e tamanhos. Há algumas semanas, durante um farbrenguen no Chabad do Norte de Nevada, Rabi Shlomie Chein que estava nos visitando contou a história de um cocheiro que pensava ter um emprego mundano, sem inspiração. Certo dia ele foi até seu Rebe para algumas palavras que o inspirassem, mas quando finalmente viu o Rebe estava tão nervoso que tudo que conseguiu dizer foi: “Sou um simples cocheiro.” O Rebe (Maharash) olhou para o homem e disse-lhe que seu trabalho lhe permitia uma oportunidade única; todos os dias podia erguer os olhos e contemplar algo feito por D’us em tudo que via. Rabi Chein continuou dizendo que as sinagogas têm janelas grandes para que os congregantes possam facilmente ver lá fora, e assim serem constantemente lembrados de D’us toda vez que estão na sinagoga. Devido ao fato de nossa sinagoga estar localizada na base da magnífica cadeia de montanhas Sierra Nevada, o grupo todo sentado ao redor da mesa pôde avaliar bem as profundas palavras do Rebe Maharash. Apesar da enormidade da cadeia de montanhas e do inigualável esplendor do Lago Tahoe, nas proximidades, três dos exemplos mais inspiradores das bênçãos de Hashem no Norte de Nevada talvez sejam Moshe, Chana e Rachel Cunin, os trigêmeos de quatro anos de Rabino Mendel e Rebetsin Sara Cunin. Recentemente, na primeira noite de Pêssach, quando chegou a hora das Quatro Perguntas, os três apareceram e ficaram em pé nas cadeiras, e de maneira encantadora e melódica entoaram as perguntas que as crianças judias têm feito aos pais há mais de 3 mil anos. Os trigêmeos dos Cunin são membros da primeira pré-escola judaica ao Norte de Nevada. Embora não saibam ler nem escrever, os trigêmeos e seus coleguinhas de classe memorizaram muitas canções, preces e passagens como parte de suas lições diárias. Cada membro desta escola é uma inspiração para os pais, amigos e vizinhos em nossa pequena comunidade judaica. Alguns dos pais dos alunos, que anteriormente não estavam interessados ou conscientes de seu legado judaico, têm visto as crianças desabrocharem no cálido abraço da sua Pré-Escola Gan Sierra, e começaram a acender velas de Shabat, comer comida casher e freqüentar mais a sinagoga, pois seus filhos os inspiram a cultivar e construir sólidas raízes judaicas em casa.Durante o Sêder, quando os trigêmeos Cunin subiram na cadeira sorrindo de orelha a orelha, e alegremente entoaram suas canções observei a reação dos adultos sorridentes na sala apinhada. Foi como se cada um deles tivesse de repente voltado no tempo, a um momento em que eles eram os pequeninos de pé nas cadeiras, cantando para seus Zeides, Bobes, Mamães e Papais: “Ma nishtaná”. À medida que Moshe, Chana e Rachel entoavam cada pergunta de memória, os adultos à mesa deixaram a mente voltar a um tempo muito mais simples, inspirador, em suas respectivas vidas; um tempo em que eles eram inspirados a aprender mais sobre seu legado e tradições. No mundo atarefado de hoje muitos de nós achamos que é tarde demais, difícil demais ou constrangedor demais voltar às nossas raízes judaicas para explorar e abraçar os ensinamentos de Torá, e viver uma vida mais observante, mais baseada na Torá. Uma simples visita a qualquer Beit Chabad no mundo receberá um convite sincero, caloroso para aprender, no seu próprio ritmo, as informações sobre seu povo, tradições e rico legado.No dia anterior à primeira noite de Pêssach, um morador de Reno enviou uma carta ao nosso jornal local, questionando a habilidade dos judeus de hoje cumprirem as mitsvot da Torá no mundo turbulento em que vivemos. Ele deixou claro que sente que os mandamentos dados por D’us a Moshê e ao povo judeu simplesmente são difíceis demais, muito desafiantes e não-realistas para os seres humanos “modernos” seguirem. Ele estava argumentando que as pessoas simplesmente não possuem a capacidade para seguir os Dez Mandamentos, que dirá 613! Sua carta fez-me perceber que obviamente ele nunca tinha ido a um Beit Chabad, que jamais se sentara a uma mesa de Shabat iluminada pela luz das velas, e que definitivamente nunca tinha visto três membros inspiradores da comunidade judaica no Reno, que devido aos pais e professores maravilhosos, demonstram diariamente como se pode facilmente tornar os mandamentos Divinos uma parte da vida diária.Os trigêmeos Cunin servem como inspiração para toda a nossa comunidade. Enquanto eu os observava no Sêder, perguntei a mim mesmo: se crianças com quatro anos podem aprender a honrar o Shabat, comer casher, recitar o kidush, acender velas de Shabat, celebrar yamim tovim (dias festivos), colocar tsitsit e uma kipá e dar graças após as refeições, por que é tão difícil para um adulto fazer o mesmo. Se uma criança de quatro anos consegue ver a mão prodigiosa de Hashem no mundo ao seu redor, por que nós não podemos? Se uma criança de quatro anos pode subir orgulhosamente na cadeira e fazer as Quatro Perguntas, por que temos tanto medo de deixar um chefe saber que precisamos de alguns dias de licença para celebrar Rosh Hashaná, Yom Kipur, Shavuot e Sucot? A verdade é que uma criança raramente se sente constrangida por tentar algo novo, ouvir os pais ou aquela vozinha dentro da cabeça que lhe pede para fazerem a coisa certa. É somente quando adultos que deixamos de ouvir aquela vozinha, nossos mentores, nossos pais e nossa família. Não queremos ficar constrangidos ou admitir nossa ignorância sobre assuntos que não nos são familiares. Às vezes é preciso um pouco de inspiração para cativar a nossa atenção, motivar-nos e focalizar nossos esforços na direção certa.Como eu disse antes, a inspiração vem em todos os tamanhos e formatos. Às vezes somos inspirados pelas glórias da natureza. Às vezes por líderes da comunidade, e às vezes por três pequenos membros de nossa comunidade que vivem, respiram e cantam as alegrias do seu legado. No decorrer dos anos 90, milhões de pessoas no mundo todo assistiram a Michael Jordan numa quadra de basquete. Os comerciais da Nike proclamavam que todos queriam ser “Igual a Mike”. Tenho de admitir que houve vezes em que eu também queria ser igual a Mike. Mas com todo o devido respeito ao Sr. Jordan e ao pessoal da Nike, após ter passado tempo e eu ter assistido aos trigêmeos Cunin no último Pêssach, creio que eu gostaria mais de ser como Moshe, Chana e Rachel!

5.4.07

A situação no Oriente Médio


No ano passado, vimos sinais crescentes de um realinhamento político no Oriente Médio que exigem uma reavaliação de certas conjeturas preponderantes sobre a região. Esta é uma região dividida não tanto entre israelenses e árabes, mas entre aqueles - não importando a identidade nacional ou religiosa – que acreditam em tolerância e coexistência, e aqueles que rejeitam a legitimidade de qualquer ideologia ou interesse a não ser seu próprio e estão desejosos de recorrer à violência indiscriminada para avançar em sua causa.

Neste contexto, estamos testemunhando esforços intensificados por forças radicais, como o Irã, Hezbolá e o Hamas, de aumentar seu poder político e militar. Estas forças estão ativamente procurando transformar disputas que por sua própria natureza são políticas e passíveis de resolução, em conflitos religiosos irreconciliáveis não acessíveis à negociação ou compromisso.

Pensa-se às vezes que o conflito israelense-árabe é a causa deste extremismo. Mas é bem mais correto dizer que é a falta de um confronto apropriado e a superação destas forças extremistas que têm mantido este conflito.

Esta divisão entre forças moderadas e extremistas se manifesta em todo o Oriente Médio. Há exigência de um esforço combinado e sofisticado, usando todas as ferramentas a sua disposição, para autorizar aqueles comprometidos com um Oriente Médio estável, seguro e pacífico enquanto desautorizam e desligitimizam aqueles com uma agenda radical fundamentalista.

Autoridade Palestina

Israel continua profundamente comprometido com a solução de dois estados, de acordo com o Mapa do Caminho. Israel apóia a criação de um estado palestino próspero, viável e funcional que servirá como lar ao povo palestino, como apóia também a total rejeição e incitamento ao terror, estado este vivendo lado a lado com Israel em verdadeira paz e segurança. Israel acredita que os moderados em toda a região e no mundo, compartilham desta visão.

Como demonstrado pelo Desengajamento de Israel da Faixa de Gaza, e partes da Cisjordânia, em 2005, Israel está ciente de que a solução dos dois estados exige riscos significativos e sacrifícios dolorosos, e está disposto a fazê-los. Israel continua comprometido em trabalhar com os moderados do lado palestino que verdadeiramente acreditam na visão dos dois estados, e que estejam prontos a implementar o Mapa do Caminho, além de estarem preparados para os compromissos e reconciliação histórica exigida para tornar esta visão em realidade.

Infelizmente, as esperanças para realizar a solução dos dois estados de acordo com o Mapa do Caminho, sofreram um sério revés com a subida ao poder na Autoridade Palestina, da organização terrorista Hamas, que é fundamentalmente oposta ao processo de paz e coexistência genuína.

A comunidade internacional, incluindo a Comunidade Européia e o Quarteto, devem ser elogiados por continuar a insistir que qualquer governo palestino deve submeter-se inteiramente aos três princípios do Quarteto: renúncia ao terrorismo e violência, reconhecimento de Israel, e aceitação dos acordos e obrigações prévias, incluindo o Mapa do Caminho.

Após a formação de um governo de unificação nacional entre a Fatah e o Hamas, torna-se um ponto crítico para a comunidade internacional continuar a insistir na plena aceitação destes princípios. Estas exigências não são obstáculos para a paz, mas pré-requisitos fundamentais para a paz. Elas não deveriam ser sujeitas à negociação ou vagas formulações, e devem ser plenamente satisfeitas por qualquer governo palestino para receber legitimidade e cooperação internacional.

Ao recusar-se a garantir legitimidade a um governo ou organização que rejeita estes princípios básicos de paz, a comunidade internacional fortalecerá os moderados na sociedade palestina, facilitará os esforços no engajamento positivo entre Israel e os moderados palestinos, e ao mesmo tempo estará demonstrando que o caminho do extremismo não obterá resultados internamente nem será tolerado internacionalmente.

A habilidade de Israel em engajar-se e obter progresso com os moderados do lado palestino, está ligada de perto à recusa continuada da comunidade internacional de legitimar qualquer governo da Autoridade Palestina que não concorde plenamente com os princípios do Quarteto. Será também significativamente afetado pelo desejo dos palestinos moderados de demonstrar- através de declarações e ações – que estão comprometidos com os princípios do Quarteto. Estes devem incluir esforços genuínos para assegurar a liberação do cabo Gilad Shalit, que continua em cativeiro, como também parar com os ataques terroristas contínuos, incluindo o disparo de foguetes kassam contra centros populacionais em Israel, e acabar com o contrabando de fundos ilegais e armas para os grupos terroristas palestinos, na fronteira entre Gaza e o Egito.

Ao mesmo tempo, Israel continua a apoiar os esforços para fornecer aajuda humanitária ao povo palestino. Israel apóia a assistência humanitária direta aos palestinos, como a assistência fornecida pela comunidade internacional, que melhora o bem estar da população sem cooperar e nem legitimar o governo da Autoridade Palestina, que não aceita os princípios do Quarteto.

Por seu lado, o governo de Israel adotou medidas com a intenção de facilitar as restrições na movimentação e acesso de pessoas e bens, aumentando o movimento nos postos de fronteira, melhorando as infra-estruturas de estradas e sistema de abastecimento de água, estimulando a micro economia para aumentar os laços comerciais entre as cidades e povoados, aumentando os créditos de micro-empresas e permitindo a restauração das ligações bancárias normais com os bancos israelenses.

A passagem “Karni”, a coluna vertebral da economia palestina, tem visto um aumento no número de caminhões e contêineres cruzando diariamente, na proporção de 500-600 caminhões/dia de ambos os lados. Agora que foi tomada uma decisão de estender as horas trabalhadas no cruzamento até as 23:00 horas, a capacidade total de aproximadamente 1.000 caminhões/dia, deverá ser atingida nas próximas semanas. O abastecimento de água, além de projetos de tratamento de redes de esgoto, são da maior importância para o governo. Com a assistência da comunidade internacional, mais povoados na Cisjordânia foram recentemente conectados recentemente ao fornecimento de água de Israel. Outro projeto de infra-estrutura é a eletricidade, com grande envolvimento do governo de Israel. Há reuniões com os jordanianos sobre o fornecimento de eletricidade para Jericó, vindo da Jordânia.

Após o encontro entre o Primeiro Ministro Olmert e o Presidente da Autoridade Palestina Abu Mazen em dezembro, o governo de Israel liberou US$ 100 milhões de impostos retidos para fortalecer o Gabinete do Presidente e os guardas presidenciais.

Líbano

Os interesses que são comuns aos moderados no Líbano e toda esta região sofrem ameaças por forças radicais que querem “seqüestrar” a sociedade libanesa para servir a sua agenda extremista. Israel compartilha o desejo da comunidade internacional e das forças moderadas no Oriente Médio e no próprio Líbano, de se ter um país estável e seguro, livre de interferência externa, exercendo sua soberania e tendo um monopólio sobre o uso da força em todo o seu território, ao viver em paz e respeitando os desejos dos vizinhos.

O recente conflito no Líbano serviu para mostrar os perigos para a região, se estes objetivos para o país não forem conseguidos. Armados, financiados e apoiados pelo Irã e Síria, a organização terrorista Hezbolá começou um conflito no verão passado com um ataque contra Israel, sem serem provocados, pela “Linha Azul” – a fronteira para a qual Israel havia se retirado, em total e plena concordância com a Resolução 425, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, há seis anos. Apesar de sérios revezes contra a organização durante o conflito, o Hezbolá continua determinado a minar o governo do Líbano e desestabilizar a região em nome dos objetivos radicais do Irã.

É neste contexto que a importância das Resoluções 1559 e 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas deva ser sublinhado. Israel pede à comunidade internacional seu apoio a estas medidas e a boa vontade de diversos estados europeus para contribuir com um número significativo de tropas a fim de compor a nova força da UNIFIL - com um mandato robusto e eficiente – a fim de ajudar as Forças Armadas do Líbano a exercer suas responsabilidades de soberania.

Assegurar a plena implementação das Resoluções 1559 e 1701, é um teste crítico para a comunidade internacional, como é também uma pré-condição para o estabelecimento de um Líbano totalmente independente e soberano. A não implementação com sucesso destas medidas será considerada uma vitória para as forças extremistas, como também a evidência de impotência internacional, e um precedente negativo para o envolvimento internacional na resolução dos conflitos na região.

Infelizmente, há obstáculos significativos contra esta implementação. Na contínua violação da Resolução 1701, os reféns israelenses Eldad Regev e Ehud Goldwasser continuam em cativeiro. Ao sul, enquanto há evidências de que a liberdade de ação do Hezbolá foi restrita, as forças da UNIFIL nem sempre utilizaram adequadamente o mandato robusto e autoridade garantidos à eles, para assegurar junto com as Forças Armadas do Líbano, que o sul esteja livre de grupos armados e armamentos, e não “seja utilizado para atividades hostis de qualquer tipo”, como estipulado na Resolução 1701.

A ausência de quaisquer medidas significativas para desarmar e desmantelar o Hezbolá, como exigido pelas resoluções, além da falha em implementar eficientemente o embargo de armas, é um caso especial para alarme. Os meses recentes têm visto esforços intensos do Hezbolá em se rearmar, particularmente pela fronteira entre a Síria e o Líbano, com armas sendo fornecidas por Damasco e pelo Teerã, em violação direta à Resolução 1701. Além disso, representantes da Guarda Republicana Iraniana continuam ativos no Líbano, trabalhando em próxima cooperação com as forças do Hezbolá.

O acúmulo de armas do Hezbolá, admitido abertamente por seus representantes, é um desafio direto apresentado pela organização terrorista, Síria e Irã ao governo libanês, como também à comunidade internacional e ao UNIFIL. Estas armas são ilegais, já que desestabilizam o Líbano, põem em perigo as tropas da UNIFIL e ameaçam Israel.

À medida que as violações do Hezbolá se intensificam, os riscos de novas violências também e a necessidade de Israel ser vigilante ao defender seus cidadãos da ameaça do Hezbolá.

É necessário um esforço internacional e diplomático combinado bem mais intenso e agressivo para assegurar a implementação da Resolução 1701. Neste contexto, as tropas da UNIFIL devem ser encorajadas a usar de toda a autoridade recebida pela resolução, além do conceito de operações e das regras de engajamento, a fim de cumprir sua ordem. Todos os esforços devem ser exercidos para reforçar o embargo de armas e assegurar a libertação dos reféns israelenses. Ao mesmo tempo, os esforços importantes da comunidade internacional, incluindo os países líderes da União Européia, em ajudar na reconstrução do Líbano, devem ser ligados mais eficientemente aos objetivos constantes das Resoluções 1559 e 1701.

As forças extremistas estão contando com a falta de resolução da comunidade internacional, a fim de derrubarem os moderados no Líbano e em toda a região que almejam um Líbano soberano, em paz com seus vizinhos. Se não houver uma ação agora, será muito mais difícil e caro agir no futuro. Apenas um posicionamento determinado ao lado dos moderados, e a plena implementação das Resoluções 1559 e 1701, evitarão um novo confronto e avançarão na realização de nossos objetivos comuns.

Irão

Não há maior ameaça à estabilidade e segurança do Oriente Médio atualmente do que aquela apresentada pelo regime radical de Terrã. O regime iraniano apresenta um perigo estratégico claro e crescente, não apenas para Israel e outros países da região, mas também para os valores do mundo democrático, a comunidade internacional e a segurança global como um todo.

Israel espera que a comunidade internacional use todas as suas ferramentas da “caixa de ferramentas diplomática”, para fazer com que a liderança iraniana mude sua política em relação ao desenvolvimento futuro de seu programa nuclear, e acabe com a ameaça que suas políticas e conduta representam para a região. A única maneira de fazer com que o Irã reveja sua política é aplicar uma pressão forte e inequívoca, para implementar as exigências do Conselho de Segurança, além da aplicação de medidas adicionais por países que têm fortes influências econômicas e financeiras com o Irão.

O último relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), emitido em 22 de fevereiro de 2007, reflete mais uma vez a desconsideração do Irão pelas resoluções do Conselho de Segurança e pelas normas internacionais. Como o Irão desafiou a Resolução 1737 do Conselho de Segurança, é essencial agir rapidamente para conseguir uma resolução adicional rápida que inclua sanções compreensivas mais fortes contra o regime iraniano.

O programa nuclear do Irão constitui-se em uma ameça ao mundo inteiro. A combinação de uma liderança extremista que apóia o terror e nega o direito de outros países existirem, junto com a capacidade de alcançar a Europa e outras partes do mundo com seus mísseis de longo alcance, deve ser motivo de preocupação para todos.

No Irão o mundo encara um regime que é movido por uma ideologia religiosa extremista com o objetivo de dominar a região, espalhando sua agenda radical, e evitando a paz entre Israel e seus vizinhos. Neste contexto, o patrocínio de vários grupos terroristas pelo Irão, causa grande preocupação. A ajuda iraniana em financiar, treinar, e doutrinar o Hezbolá e o Hamas, é um fator de desestabilização no Oriente Médio, que se não for superado, pode sabotar quaisquer esforços para revitalizar o processo de paz.

As aspirações nucleares do Irão e sua agenda radical são ligadas à vil retórica anti-semita de seu Presidente, além da negação do Holocausto e chamadas para “varrer Israel do mapa”. Israel aprecia a forte posição moral de muitos Estados através do mundo, que declaram serem totalmente inaceitáveis as declarações feitas pelo Presidente Ahmedinajad e outros membros de seu regime. O governo de Israel conclama a comunidade internacional a continuar a ser vigilante e a rejeitar em termos inequivocados quaisquer manifestações de anti-semitismo e ódio.

Síria

Israel está comprometido com a paz com todos os seus vizinhos e reconhece que esta paz impõe compromissos. Apesar de dicursos recentes de partes do governo sírio, Damasco até o momento não tem demonstrado uma escolha genuína e estratégica pela paz. A política síria e suas ações nas mais diversas áreas continua a demonstrar que a Síria está avançando em uma agenda desestabilizadora e radical que passa uma idéia falsa, apesar de seu discurso, aos países do ocidente.

A Síria tem sido a causa central da severa desestabilização do Líbano e até o momento continua a dar apoio intenso e armamentos ao Hezbolá, em direta violação às leis internacionais e resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A Síria orgulhosamente abriga e apóia numerosas organizações terroristas, incluindo a Jihad Islâmica palestina, e o Hamas. Neste papel, a Síria tem sido especialmente ativa em encorajar atividades terroristas contra cidadãos israelenses, entre outras coisas, apoiando diretamente as atividades extremistas dos líderes da Jihad Islâmica e do Hamas, que têm obtido abrigo seguro e liberdade de ação neste país. A Síria também continua a ter um papel desestabilizador no Iraque, e tem demonstrado seu apoio às forças radicais através de uma aliança mais próxima com Teerã.

O padrão contínuo de comportamento destrutivo mostra que a Síria ainda está escolhendo ser parte do problema, ao invés de ser parte da solução. Tendo em vista esse comportamento, as recentes chamadas da Síria ao diálogo, parecem ser feitas com o intuito de aliviar a pressão internacional e o isolamento que suas políticas têm produzido, e não uma evidência de um compromisso genuíno pela coexistência e paz. Para engajar o regime sírio, na ausência de qualquer mudança real em suas ações, seria recompensar esse regime por políticas que colocaram o Oriente Médio, e a causa pela paz, em grande perigo.

Israel acredita que a comunidade internacional deve deixar claro para a Síria que o comprometimento pela paz é demonstrado por ações, não apenas por palavras. A mensagem deve ser de que o passo para a legitimidade internacional e o reengajamento com a comunidade internacional passa por uma clara e decisiva mudança no comportamento sírio.